Exemplo: vendendo churros, mineira consegue concluir faculdade de Direito

16/09/2016 às 04:123 min de leitura

Maria Odete Silva passou os últimos cinco anos estudando enquanto trabalhava. O trabalho, por sinal, era vender churros a R$ 1 – e foi assim que ela conseguiu se formar em Direito: trabalhando 12 horas por dia na Rodoviária do Plano Piloto, em Brasília.

Com o dinheiro das vendas ela conseguiu pagar os estudos e sustentar os dois filhos. No momento da formatura e ao lado de outros 80 formandos, Maria Odete foi homenageada por um de seus professores, afinal sua história realmente merece destaque.

Após passar por diversos problemas financeiros durante a vida acadêmica, Maria Odete agora faz planos de um futuro melhor: quer passar no exame da OAB e ser promotora. A possibilidade de sonhar se deve à receita que Maria Odete prepara com tanto carinho: farinha de trigo, sal, margarina, açúcar e baunilha para a massa; goiaba, chocolate e doce de leite para a composição dos recheios.

Exemplo

Como precisava trabalhar muito, nem sempre ela conseguia assistir às aulas, mas pegava emprestados livros e mais livros da biblioteca para ler entre uma folga e outra da venda de churros. Em tempos mais agitados, como nas semanas de provas, ela contava com a ajuda do marido para manter a meta de vender 10 kg de churros por dia.

“Tive medo de não conseguir. Entre o sétimo e o oitavo semestres, eu quase desisti. Eu achava que não dava conta, porque as matérias estavam cada vez mais difíceis e eu pensava ‘eu não vou dar conta, não vou dar conta’. Teve um semestre que fiquei todinho sem pagar, que tive dificuldade financeira. Minha professora me viu falando isso, entrou e disse: ‘se você chegou até aqui, você consegue muito mais’. Ela dizia que seria uma honra entregar minha carteirinha da OAB e que ainda iríamos advogar juntas. Isso me incentivou ainda mais”, disse Maria Odete, em declaração publicada no G1.

Além do apoio dos professores, a agora advogada contava também com a ajuda dos colegas de turma, que a emprestavam anotações das matérias e a mantinham sempre informada sobre datas de provas e de apresentações de trabalhos. Em casa, sempre recebeu incentivo dos filhos: o mais novo também quer ser advogado, e a filha mais velha escolheu Medicina.

Liberdade

Para Maria Odete, estudar é uma forma de ser livre: “Você aprende muito, você cresce muito, você aprende a ver as coisas de outro jeito, abre sua mente. Sempre pensei isso, mas não tinha oportunidade. Pelo cansaço, sabe. Aí um dia pus na minha mente e pensei: ‘não, vou estudar agora’. Se eu não arranjasse esse agora logo, ele nunca viria. Fiz o EJA e pensei que era a minha hora de vencer”, afirmou.

A persistência e o esforço levaram Maria Odete até o cenário da tão sonhada formatura, com sua família acompanhando a entrega do diploma e, agora, com a perspectiva de novas conquistas: para o futuro, ela quer levar os filhos à Disney, viajar pelo Brasil, trocar de carro e ter uma casa com um quarto para cada filho.

Maria Odete teve uma infância difícil e, depois de perder a mãe em um acidente, parou de estudar aos 12 anos de idade para trabalhar como empregada doméstica. Aos 17 anos, ela fez um curso supletivo e concluiu o Ensino Fundamental. Aos 19, já estava casada, trabalhando com a colheita de algodão e amendoim – três anos depois se separou e voltou a trabalhar como doméstica em São Paulo.

Vitória

O atual marido surgiu em sua vida alguns anos depois, e com ele ela teve dois filhos, Mayara e Júnior. “Acho que a gente trabalhando a gente vence. E é o que eu quero deixar para os meus filhos, que você só vence com luta. Sempre falo para eles que a mãe não pode deixar nada para eles, só o conhecimento, o estudo. Isso ninguém pode roubar deles”.

A mudança para Brasília aconteceu por conta da saúde do filho mais novo, que tinha problemas respiratórios e precisava viver em um ambiente com menos poluição do que São Paulo. Em Vicente Pires, ela morou com o marido e os dois filhos em um quarto na casa do irmão mais novo. No início, vendia sapatos na loja que o irmão tinha na rodoviária, mas se empolgou com a ideia dada por uma amiga, de começar a vender doces.

Sem mão lisinha

Foi essa amiga que a ensinou a fazer a massa de churros: “Desde então eu acordo às 5h40 para preparar as coisas e trabalho de domingo a domingo, das 8h às 20h. Sou cheia de calos e queimaduras, aqui não tem espaço para mão lisinha. E sou muito feliz. Aos poucos, dentro do que alcanço com meus passos, tenho conseguido alcançar tudo”.

As aulas na faculdade começaram quando ela estava com 41 anos: “Eu escolhi esse curso pela minha idade, já estava em uma idade avançada, e o campo de Direito é amplo. Para trabalho, quero passar em concurso público. Penso em ser promotora de Justiça. Quero fiscalizar leis. Quer ser uma fiscal das leis. Quero ajudar um pouco as outras pessoas”, conta Maria Odete. Se depender de inspiração, ela já está ajudando. 

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