Ciência
22/11/2016 às 16:03•4 min de leitura
Por volta das 6h do dia 26 de dezembro de 1996, Patsy Ramsey levantou da cama e foi até a cozinha de sua casa. Era o dia seguinte do Natal e tudo parecia normal, até que ela notou um papel diferente sobre a mesa. Tratava-se de uma longa nota de resgate, na qual se exigia US$ 118 mil pelo retorno de sua filha mais nova, a pequena JonBenét Ramsey, de 6 anos.
Na casa, além de Patsy, estavam o seu marido, John, e o filho mais velho do casal, Burke, de 9 anos. A família entrou em contato com a polícia, os parentes e outros conhecidos, e logo a casa estava repleta de pessoas aflitas com o sequestro. A atitude precipitada fez com que acontecesse uma verdadeira limpeza e destruição de provas, o que prejudicou a investigação desde o início. Apesar disso, os oficiais puderam notar que não havia sinais de arrombamento no local.
John estava disposto a retirar a quantia exigida para pagar o resgate da filha, mas ninguém apareceu para cobrar tal valor. Com o passar do tempo, as coisas ficaram ainda mais estranhas.
Depois de algumas horas e sem nenhuma novidade sobre o caso, a família começou a vasculhar cada canto da residência, até que o pior aconteceu: John encontrou o corpo de sua filha escondido na adega, no porão. Ela havia sido amarrada pelos pulsos e pescoço com uma corda de nylon. Assim que encontrou a garota, o pai cometeu mais um erro: moveu o cadáver para outra área da casa, prejudicando ainda mais a cena do crime. Curiosamente, a mãe notou que a filha estava com uma roupa diferente da qual havia ido para a cama na noite anterior.
A autópsia revelou que JonBenét havia sido morta por estrangulamento, além de encontrarem lesões graves no crânio e trauma vaginal. Toda a família passou a ser investigada e foi obrigada a fornecer amostra de sangue e cabelo, além da caligrafia.
Um dos pontos estranhos notados pelos investigadores era que o bilhete do resgate havia sido escrito em um bloco que pertencia à família. Afinal, não é nada comum um sequestrador escrever uma nota na cena do crime. Além disso, o montante pedido correspondia à quantia exata que John havia ganhado de bônus naquele ano. Para piorar a situação, alguns policiais acreditavam que a letra de Patsy era extremamente similar à do bilhete, mas eles nunca puderam comprovar isso.
A casa da família
O caso se desenrolou ao longo de 20 anos e, até hoje, não teve um fechamento. Apesar disso, várias coincidências estranhas ligando a família ao crime foram descobertas. Para começar, apenas quatro anos antes da morte de JonBenét, John era casado com outra mulher chamada Lucinda Pasch e os dois tinham uma filha, a pequena Elizabeth Ramsey. Em 1992, Elizabeth morreu em um acidente de carro. Desconfiados, os oficiais reabriram o caso para ver se havia alguma maneira de John ter sido o culpado pela morte, mas nada foi comprovado.
Pais de JonBenét Ramsey
Outra descoberta bizarra complicou as coisas para John: uma mala que havia sido encontrada no porão da casa. A família disse que nunca havia visto tal objeto, porém, durante a investigação, foram encontrados espermatozoides do pai da criança sobre um cobertor e um livro que estavam dentro da mala. Mesmo que o achado tenha sido suspeito, ainda assim não foi possível conectá-lo ao assassinato.
Apesar de a polícia sempre ter colocado John e Patsy no centro das investigações, outras 1.600 pessoas foram consideradas suspeitas.
Algo evidente no caso foi o fato que a pequena JonBenét havia sido abusada sexualmente. Na cena do crime, não havia evidência de trauma sexual, mas a polícia acreditava que a garota já vinha sendo abusada há algum tempo. Registros mostraram que, três dias antes do assassinato, alguém havia ligado para a polícia da casa dos Ramsey, mas desligou rapidamente. Isso poderia indicar que algo estava acontecendo na casa.
A autópsia também mostrou que a criança poderia ter sido abusada ao longo de anos, e haviam registros médicos mostrando que os pais já tinham levado JonBenét ao hospital porque seus órgãos genitais estariam irritados.
Curiosamente, a menina também era forçada a participar de concursos de beleza, que, constantemente, são criticados por sexualizar demais as crianças. A família chegou a dizer que se arrependia de ter colocado a garota nesse meio, já que poderia tê-la aproximado de criminosos sexuais e revelou que já haviam estado na presença de pessoas suspeitas. O próprio irmão disse à imprensa que acreditava que ela tinha sido morta por algum “pedófilo de plateia do concurso”, mas mesmo a sua atitude era estranha em relação ao caso.
Burke, Patsy e JonBenét
Burke era uma criança estranha e problemática: por várias vezes, ele manchou a cama da irmã com fezes. Alguns acreditavam que as suas atitudes eram movidas pelo ciúme da atenção que a menina recebia, e chegou-se a especular se ele não teria a matado por raiva. Apenas alguns dias depois da fatalidade, durante um interrogatório, a polícia notou como o garoto estava indiferente. Ele ainda chegou a fazer brincadeiras e dizer que sua mãe estava “exagerando” sobre a morte.
Não bastasse todos os problemas com a família, os investigadores ainda tiveram que lidar com outros suspeitos ímpares. Um deles, um Papai Noel que visitou a casa na noite anterior e cuja própria filha tinha sido sequestrada 22 anos antes.
Michael Helgoth
Outro interrogado foi Michael Helgoth, que se matou depois que um investigador particular contratado pela família teria gravado uma confissão dele sobre o assassinato. No entanto, Michael não foi o único a se colocar na cena do crime: em 2006, John Mark Karr, falsamente disse que era o culpado, mas logo foi liberado quando não encontraram qualquer correspondência do seu DNA.
Até hoje, ninguém sabe a verdade por trás da triste história de JonBenét.
Este foi o bilhete deixado na casa da família na ocasião:
“Ouça com atenção! Somos um grupo de indivíduos que representam uma pequena facção estrangeira. Nós respeitamos o seu negócio, mas não o país a que ele serve. Neste momento temos a sua filha em nossa posse. Ela está segura e ilesa, e se você quiser que ela veja o ano de 1997, você deve seguir nossas instruções ao pé da letra.
Você vai sacar US$ 118 mil de sua conta. US$ 100 mil será em notas de US$ 100 e o restante em notas de US$ 20.
Quando você chegar em casa, coloque o dinheiro em um saco de papel marrom. Vamos ligar entre oito e dez horas amanhã para instruí-lo. A entrega vai ser desgastante, então eu aconselho você a ficar em repouso. Se nós monitorarmos que você conseguiu o dinheiro adiantado, poderemos chamá-lo mais cedo para marcar uma entrega e, portanto, a devolução anterior de sua filha.
Qualquer desvio das minhas instruções resultará na imediata execução de sua filha. A você também será negado seus restos mortais para sepultamento digno. Os dois cavalheiros vigiando sua filha, particularmente, não gostam de você, então eu aconselho a não provocá-los. Falar sobre sua situação com a polícia, o FBI etc., resultará na decapitação dela.
Se pegar você conversando com alguém, ela morre. Se você alertar as autoridades do banco, ela morre. Se o dinheiro for de alguma forma marcado ou adulterado, ela morre. Você pode tentar nos enganar, mas saiba que estamos familiarizados com essas táticas. Você tem 99% de chance de matar sua filha se você tentar dar uma de inteligente. Siga as nossas instruções e você terá 100% de chance de ter ela de volta.
Você e sua família estão sob vigilância constante, bem como as autoridades. Não tente ser esperto. Não nos subestime, John. Use o seu bom senso. Cabe a você agora, John!”