Ciência
13/09/2018 às 09:06•3 min de leitura
Cemitérios geram as mais variadas reações, dependendo da crença de cada um. Ao mesmo tempo que podem ser considerados macabros, com espíritos aprisionados e almas em agonia, também possuem uma aura de libertação e tranquilidade, com seu costumeiro silêncio sendo um refúgio no meio de uma vida de stress e agitação.
Independente da visão, o local é palco de práticas religiosas, que demonstram o respeito e a consideração dos familiares pelo ente querido que faleceu. Durante os milhares de anos da civilização humana, cada cultura desenvolveu formas de lidar com a questão, refletindo na forma como os mortos são tratados. Não se sabe qual é o povo responsável pelas tumbas de Xiahoe, mas seus procedimentos acabaram mumificando os cadáveres de modo que até as sobrancelhas foram conservadas, mesmo 4 mil anos após a morte.
No topo de uma duna de areia, no deserto de Taklamakan, dentro do território chinês, existe um cemitério demarcado por postes de madeira que sobreviveu a séculos de condições climáticas extremas.
Essa mesma adversidade, sempre com uma baixa umidade do ar, fez com que a preservação dos corpos ocorresse de modo extremamente eficiente, a ponto de ser possível identificar os contornos da face de algumas pessoas. Por conta disso, um desses cadáveres foi apelidado de “Bela do Xiahoe”, pois uma das múmias era a de uma bela mulher, da qual até mesmo os cílios sobreviveram ao tempo.
O local foi descoberto no início do século 20, por um morador local chamado Ördek. O Uigur se deparou com a infinidade de postes de madeira, junto de ossos humanos e objetos religiosos, o que o fez acreditar que o local era mal-assombrado, então se manteve afastado da região. Décadas após a descoberta, um arqueólogo sueco estava em expedição pela área, procurando ruínas relacionadas à Rota da Seda, quando foi orientado a falar com Ördek.
O morador local foi receptivo e o orientou sobre como chegar ao cemitério, mas se recusou a acompanhar o explorador, que acabou se deparando com os postes de madeira e nomeandos-o como Necrópole de Ördek. Bergman escavou a região e encontrou uma quantidade enorme de material, chegando ao ponto de escrever um livro sobre seu achado.
O que mais chamou a atenção do arqueólogo foi a maneira como os corpos eram enterrados, sempre abaixo de objetos de madeira que se assemelhavam a barcos virados. Após esse posicionamento, o casco era coberto com couro e enterrado na areia, junto com cestos de palha contendo trigo e outros grãos de alimentos. Toda a área possuía monumentos em forma de remo e figuras humanas em madeira.
Até o início do século 21, o cemitério ficou esquecido; a situação mudou quando arqueólogos chineses resolveram conduzir uma expedição ao local, sem se limitarem às camadas superficiais. Eles procuraram novas múmias em níveis inferiores, e lá encontraram mais corpos e objetos, como animais esculpidos, pequenas máscaras e entalhes de órgãos genitais masculinos e femininos, tudo feito em madeira.
Após essa nova descoberta, o sítio arqueológico foi rebatizado como Tumbas de Xiaohe, homenageando um rio que atravessava a região, mas os arqueólogos ainda preferem chamar o local de Cemitério do Pequeno Rio Nº 5.
Além de todos os objetos encontrados, um dos pontos mais interessantes é que as múmias possuem fortes traços europeus, como cabelo castanho e narizes longos, apesar de as tumbas se localizarem em território chinês. Análises genéticas constataram que as pessoas enterradas ali realmente possuíam origens europeias, provavelmente frutos de um casamento entre europeus e siberianos há 4 mil anos, antes de desbravar o deserto.
A região já era muito árida na época em que os imigrantes chegaram, contudo sua sobrevivência foi possível somente durante o período em que os lagos e rios próximos existiram, situação que teve seu fim no ano 400 d.C.
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