Cindy Collier e Shirley Wolf: a diversão no assassinato

06/11/2019 às 14:005 min de leitura

Em um documentário da PBS, a renomada psiquiatra Dorothy Otonow Lewis, que acompanhou casos famosos de crimes cometidos por crianças, declarou que a agressividade patológica está enraizada no abuso e na dor. Animais que foram torturados e crianças vítimas de graves e repetidos tipos de violência estão associados ao desenvolvimento de padrões de comportamento agressivos. O abuso afeta o cérebro.

É difícil crianças se engajarem entre si ou com qualquer outro durante a transição para adolescência, principalmente quando guardam perturbações tão maiores que elas. No entanto, esse não foi bem o caso de Cindy Lee Collier e Shirley Katherine Wolf quando se conheceram em 1983 e planejaram descarregar em forma de assasinato toda aquela raiva que as intoxicava por dentro.

"A aura hostil de Cindy Collier"

Cindy Collier. (Fonte: Killers Without Conscience/Reprodução)

Era assim que as pessoas se referiam à garota de apenas 15 anos de idade, cujos olhos castanhos escuros injetados revelavam o ódio que sentia, especificamente por qualquer coisa viva, fruto de uma infância turbulenta e recheada de cicatrizes. Nascida num lar totalmente desestruturado, aos 10 anos de idade era diariamente espancada e estuprada pelo próprio pai. Depois do homem abandoná-la e desaparecer no mundo, Cindy passou a ter o corpo dividido entre a violência sexual causada pelo enteado que sua mãe trouxe para dentro de casa e outro homem com quem ela estava se relacionando.

Sem nenhuma assistência ou a quem recorrer, a garota foi desenvolvendo uma personalidade revoltosa e bélica, com explosões de raiva e sofrimento agudos que só foram se tornando cada vez mais incontroláveis conforme passava por cada família que tentava adotá-la. Queria que todo mundo pudesse sofrer igual ela: lentamente. Em sua passagem pela escola Chana High, em Auburn, Califórnia, foi definida como uma grande praticante de bullying, com quem ninguém mexia ou passava sequer perto, e que atacava os outros com socos só por olharem para ela.

Como forma de canalizar toda essa violência, Cindy começou a fazer uso desenfreado de drogas e também a preencher o seu histórico de crimes cometendo roubos de bolsas, assaltos com faca, furtos em lojas e mercados, até chegar a roubos de carros.

Com apenas 12 anos de idade, ela foi parar no Centro de Reabilitação Juvenille Hall, por onde ficou por dois anos e conheceu Shirley Wolf, que literalmente se tornaria sua parceira no crime.

O comportamento perturbador de Shirley Wolf

Shirley Wolf. (Fonte: Killers Without Conscience/Reprodução)

O pesadelo de Shirley Katherine Wolf, de 14 anos, e o que gerou sua natureza mentalmente instável tinha nome e referência: seu pai, Louis Wolf. Nascida no Brooklin e parte de uma família tomada pelo alcoolismo e pela violência doméstica, ela começou a ser tocada sexualmente aos três anos de idade por Louis, que a revezava com o pai e também com o irmão.

Aos seis anos, Shirley foi encontrada com facas na escola e tinha total horror que pessoas se aproximassem dela, reagindo de forma incontrolavelmente agressiva. Nessa mesma idade, fugiu de casa e vagou pelas ruas da cidade, mas acabou voltando no mesmo dia. A professora do jardim de infância não recebia resposta dos pais e a garota se recusava a se encontrar ou falar alguma coisa com psicólogos.

Então, numa manhã de 1978, quando a garota tinha nove anos de idade e logo depois de terem se mudado para a Califórnia, o pai de Shirley arranjou uma maneira de ocupar Katherine, a mãe dela, com algum trabalho longe de casa, trancou os três irmãos mais novos do lado fora e a estuprou dentro do banheiro até que sangrasse. Os abusos continuaram, acontecendo até três vezes seguidas por dia, com o seu pai a enchendo de pílulas anticoncepcionais quando ela atingiu a puberdade.

“Eu morri de medo de perder a minha virgindade, além da minha honra e do meu orgulho. Isso é algo pelo qual nunca irei perdoar meu pai”, ela relatou à corte.

Depois que Shirley confessou à mãe a violência que sofria desde muito nova, Louis Wolf foi preso por 100 dias e ela foi parar no sistema de adoção, passando de lar em lar e fugindo de todos. Arranjava brigas nas escolas e implorava: “Eu quero voltar para casa. Perdoo meu pai e tento esquecê-lo”.

Como almas gêmeas

(Fonte: Jail Exchange/Reprodução) 

Shirley e Cindy se conheceram no mesmo centro de correção para menores e, em apenas sete horas, elas planejaram uma vida toda juntas. Viam os seus demônios refletidos uma na outra, entendiam a raiva que sentiam e a dor que precisavam desesperadamente descontar em alguém. Elas se declararam irmãs, almas gêmeas unidas pela vida miserável e infeliz que as mastigara e cuspira fora.

O plano de vingança delas veio da boca de Cindy Collier: precisamos matar alguém. Era a única maneira de se sentirem bem novamente, de extravasarem toda a raiva. De repente, tudo parecia muito certo. Elas precisavam escapar daquele centro, arrumar um carro e encontrar alguém já velho, que fosse incapaz de lutar e que não sobrevivesse para denunciá-las.

Shirley não poderia concordar mais.

Toc-toc

(Fonte: ActiveRain/Reprodução) 

Em 14 de junho de 1983, numa tentativa infantil e cheia de inaptidão de se disfarçarem, as duas garotas pintaram os cabelos e vestiram roupas que consideravam diferentes das que costumavam usar. Fugir da instituição foi a parte mais fácil, afinal, as duas já haviam feito isso antes. Cindy resolveu seguir até Auburn Greens, um condomínio residencial onde já havia morado certa vez.

A tarefa realmente difícil foi alcançar a vítima. Elas bateram de porta em porta, avaliando os alvos, enquanto faziam pedidos ou inventavam falsos motivos. Mas nem todos simpatizavam com a gentileza forçada, tampouco com a aparência esquisita das duas.

No entanto, Anna Brackett, de 83 anos, não conseguiu ter a mesma percepção dos outros quando Shirley e Cindy bateram à porta de sua casa pedindo para que pudessem usar o telefone. Depois de fingir uma ligação, as duas ainda se sentaram com a senhora e conversaram com ela por aproximadamente uma hora, enquanto reuniam coragem para executar o plano.

E quando Anna Brackett se levantou para atender a uma ligação, Cindy rapidamente foi até a cozinha, apanhou uma faca de carne e jogou-a para Shirley, que desferiu um golpe imediato nas costas de Anna.

“Eu a esfaqueei tantas vezes que minha mão ficou dormente”, lembra Shirley. Ela apunhalou Anna no pescoço repetidas vezes para que ela não tivesse chances de sobreviver para denunciá-las. O sangue esguichou nas paredes, nos móveis e formou uma poça pelo piso. Durante os primeiros golpes, Anna implorou para que Shirley parasse, pois ela a mataria. A garota respondeu: “Bom!”.

Foram cerca de 30 facadas desferidas ao corpo da mulher de 83 anos.

Cindy, enquanto isso, arrancou os telefones das paredes, apanhou as chaves do Dodge de 1970 estacionado na entrada da casa e vasculhou o local em busca de dinheiro. O carro não funcionou, então elas resolveram fugir a pé pela Rodovia 49 e começaram a pedir carona, cruzando caminho com Carl Brackett, filho de Anna, que dirigia para a casa da mãe junto com a esposa.

Querido diário

(Fonte: Tumblr/Reprodução) 

Logo depois de Carl Brackket se deparar com a mãe morta na sala de estar, não foi muito difícil para as autoridades descobrirem a identidade das garotas, pois muitos vizinhos haviam visto elas rondando as casas.

Em menos de 12 horas, a polícia bateu na porta de onde Cindy Collier vivia com a mãe e o irmão. Ela deixou que eles entrassem, lhes ofereceu suco e então confessou da forma mais natural o possível o assassinato: “Nós a matamos. Era velha. Carro legal, mesmo que não tenha funcionado. Um alvo perfeito. E, honestamente, não nos sentimos mal depois disso. Depois que fizemos, queríamos de novo. Só queríamos matar alguém. Só por diversão”.

No diário encontrado por um policial na casa de Shirley logo após a confissão de Cindy, a garota afirmava compartilhar do mesmo sentimento que a amiga: “Hoje, eu e a Cindy matamos uma velha. Foi muito divertido”.

Em julho de 1983, as duas declararam-se culpadas pelo homicídio de Anna Brackett e foram condenadas à pena máxima para garotas menores de idade na Califórnia: prisão até que completassem 25 anos de idade.

Cindy Collier estudou Direito enquanto presa e, depois de ser libertada em 1992, casou-se, teve filhos e seguiu a vida. Por outro lado, Shirley Wolf até tentou dar a volta por cima, porém o excesso de caos e amargura que disputavam lugar consigo mesma a fez cometer pequenos crimes depois que foi solta, conforme tentava reencontrar seu caminho.

Afetadas por um sistema quebrado, vítimas de seus próprios demônios e das agruras de uma infância corrompida, Cindy e Shirley, de qualquer forma, puderam seguir com suas vidas e se refazer.

Anna Brackett, infelizmente, não.

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