Ciência
14/11/2019 às 15:00•5 min de leitura
Desde o início de sua adolescência e por toda sua vida, Sondra Gibson sempre foi obcecada pela cultura dos vampiros a ponto de abandonar o lado ficcional da coisa para se juntar a grupos e seitas que praticavam o "vampirismo". Ela via essa suposta “arte” como uma canalização de seus desejos mais profundos e a oportunidade de viver na pele como era a sensação de estar numa realidade próxima à dos vampiros descritos nas páginas de livros e nos filmes que consumia.
Com uma iniciação sexual muito precoce, em junho de 1973, Sondra tinha apenas 16 anos de idade quando engravidou. Seu namorado, Ricky Allan Ferrell, também de 16 anos, a deixou três semanas após se casarem e foi se juntar ao exército. Emocionalmente quebrada, Sondra não sabia nada de si mesma, muito menos sobre maternidade, quando o seu primogênito Roderrick Justin Ferrell nasceu, em março de 1980, na cidade de Murray, nos Estados Unidos.
A partir desse momento, a vida de Rod começou a ser transformada. Durante anos, Sondra saiu e voltou da casa de seus pais, deixando o lugar cada vez que havia uma briga acerca de seu trabalho na noite como dançarina e também prostituta. Nesse período, quando tinha apenas 5 anos de idade e enquanto era deixado na casa dos avós pela mãe, Rod Ferrell foi estuprado algumas vezes pelo avô.
No pouco tempo que exercia o seu papel de mãe, Sondra fez questão de inserir o filho nesse universo vampírico pelo qual era fascinada. Eles jogavavam videogames sobre vampiros, liam sobre vampiros e assistiam filmes apenas sobre vampiros. Ao longo desse caminho, mãe e filho passaram a consumir também mais material voltado para mortos-vivos, com desmembramentos e tanto derramamento de sangue que, segundo Rod Ferrell, "quase vazava pelos altos-falantes da televisão".
Para Sondra, tudo era apenas um passatempo saudável e nunca lhe ocorreu que nada daquilo fosse meramente violento para o filho — ou talvez a sua falta de tato e maturidade a tenham inibido de perceber. Para Rod Ferrell, no entanto, havia um gosto a mais. Ele chegou a confessar ao tribunal que, apesar de amar a mãe, ela podia ser muito odiosa e descontrolada às vezes, e que era nesses momentos que se acalmava imaginando como a mataria.
Havia uma dinâmica complicada e conturbada entre ele e a mãe, uma relação de amor e ódio que, há quem acredite, poderia ultrapassar o laço afetivo que possuíam. Tudo por conta das cartas que Sondra, na época com 34 anos, escreveu para um amigo de 14 anos do filho, dizendo: “Eu queria estar perto de você para o seu abraço. Sim... tornar-se um vampiro, uma parte da familía, imortal e verdadeiramente sua para sempre. Só espero que um dia você volte para Murray. Você virá atrás de mim e me atravessará. E eu serei sua noiva para a eternidade e você será o meu senhor”.
Rod Ferrell lembra que a mãe escreveu esse trecho da carta na sua frente, beijou o papel e pediu para que ele entregasse ao garoto. Não há relatos que confirmem um abuso sexual da parte de Sondra para com o filho, porém os psicólogos envolvidos no caso nunca descartaram a ideia, principalmente pela maneira como Rod parecia admirado e revoltoso ao mesmo tempo.
Nessa época, em 1990, quando Rod morava em Eustis, na Flórida, ele já era um garoto problemático na escola. Viciado em todos os tipos de drogas, principalmente LSD e heroína, ele era solitário e considerado um esquisito, vestindo a típica aparência de um adolescente gótico: cabelos longos e soltos, roupas pretas e às vezes até maquiagem. A ira juvenil compartilhada por muitos naquele periodo não era algo sem propósito para o garoto. Ele sentia uma inquietância, raiva e nojo de tudo que estava à sua volta. Enquanto tudo inspirava vida, ele cultuava a profundidade da morte. Sua obsessão havia ultrapassado qualquer nível e tudo do que se aproximava tinha relação com entidades demoníacas, satanismo, assassinato e tortura. Tudo pontuado com muito sangue.
O seu quarto era o lado mais obscuro do Ocultimo e um reflexo de como ele estava por dentro. Haviam cruzes de cabeça para baixo e cacos de vidro espalhados pelos cantos feito lanças. Haviam ganchos de açougue e também cabos de metal enrolados, como no filme Hellraiser, onde ele dormia pendurado.
No apogeu de seus delírios, na maneira como tentou abraçar o estilo de vida de ser um jovem vampiro, ele se convenceu de que era esse ser chamado Vesago, um vampiro que possuía 500 anos de idade. Rod Ferrell atribuiu sua convicções, em parte, ao mundo fantasioso no qual havia construído em sua cabeça desde pequeno e também por conta dos suspostos “chamados” que dizia ter recebido durante rituais de vampirismo, enquanto se lambuzava com sangue animal e também sugava o de alguns colegas da prática.
Quando se mudou de volta para Kentucky, Rod Ferrell conheceu um grupo de pessoas que compartilhavam das mesmas ideias e fanatismo que ele, promovendo discussões sobre demônios, vampiros e participando de rituais de ocultismo. Junto com um garoto chamado Howard Scott, ele chegou a ser preso após atacar cães num abrigo de animais, deixando vários deles gravemente feridos.
Rod invadiu um prédio abandonado conhecido por ser assombrado na cidade e nomeou-o como Hotel Vampiro, onde passou a realizar rituais que envolviam a morte de animais e práticas de sucção de sangue, tanto dos animais quanto um do outro. Quando Rod Ferrell começou a cortar o próprio braço e obrigar novos membros recrutados a beber o seu sangue, e também a queimar um pequeno V em seus braços, nasceu assim o Clã Vampiro. Futuramente, a seita teria 30 adeptos das práticas macabras, sendo que todos eles acreditavam serem vampiros de verdade.
O culto composto por jovens teve sua virada trágica e derradeira quando Heather Wendorf, uma amiga de infância de Rod Ferrell, expressou interesse de fugir de casa e se juntar ao clã dele. Encorajado e lisonjeado, o garoto reuniu Howard Scott, Charity Keesee e Dana Cooper, os primeiros integrantes da seita, para organizarem uma pequena viagem até Eustis, na Flórida, para buscar Heather.
O grupo chegou na cidade no domingo do dia 24 de novembro de 1996. Eles foram visitar a casa de Shannon Yokee e Jeanine LeClaire, duas amigas de Rod, onde também encontraram com Heather Wendorf. Ele chegou a perguntar a Audrey Presson, outro amigo, se também queria fugir com todos eles, mas o menino explicou que havia alguns assuntos inacabados na cidade. Até então, ninguém do grupo havia dito nada sobre matar alguém.
Então, na terça-feira, dia 26 de novembro de 1996, o grupo dirigiu até o bairro de Heather Wendorf e a encontrou no final da rua de sua casa. Enquanto as outras duas garotas foram encontrar o namorado de Heather junto com ela, Rod Ferrell e Howard Scott decidiram assaltar a casa dos Wendorf e roubar o dinheiro e o carro do casal.
O pai, Richard Wendorf, de 49 anos, estava dormindo no sofá da sala quando Rod entrou sorrateiramente. Armado com um pé de cabra que havia pegado na garagem, ele desferiu doze golpes certeiros na cabeça do homem, que morreu enquanto dormia, devido a lacerações no crânio e traumatismo. Não houveram motivos para que ele matasse Richard senão a compulsão incontrolavel que o garoto sentia de que aquela pessoa precisava morrer. E ver acontecer o que sempre reverenciava nos filmes, da maneira mais infantil o possivel, foi classificado por ele como um alcance espiritual.
Por outro lado, Rod afirmou que teve intenções de deixar a mãe, Naomi Ruth Queen, viver, mas que acabou perdendo o controle quando ela entrou na sala, se chocou com a cena e atirou uma xícara de café fervendo nele antes de se virar para fugir. A mulher foi espancada até que seus miolos vazassem para o chão e que morresse por causa de afundamento e ruptura no crânio.
E num ato final de barbárie e loucura, Rod Ferell dançou ao redor dos cadáveres dos pais de Heather Wendorf.
Depois de quatro dias viajando entre os estados, o grupo foi encontrado no dia 28 de novembro, em Baton Rouge, Louisiana, depois que Charity Keesee ligou para a mãe querendo dinheiro.
O julgamento do Clã Vampiro rapidamente ganhou as manchetes dos Estados Unidos e tudo se tornou um grande show de horrores, com Rod fazendo alegações de que um vampiro rival que havia cometido os crimes e que ele possuía diversas personalidades que assumiam seu corpo.
No entanto, no dia 12 de fevereiro de 1998, aos 17 anos de idade, Rod Ferrell se declarou culpado pelos assassinatos e foi condenado à prisão perpétua, sem chance de recorrer à liberdade, cumprindo a pena no centro Tomoka Correctional Instituition, na Flórida. Charity Keesee e Dana Cooper receberam 10 e 17 anos de reclusão, respectivamente. Howard Scott recebeu prisão perpétua e depois teve a pena reduzida para 40 anos de encarceramento.
Numa gravação, as palavras finais do juiz Jerry Lockett a Rod Ferrell antes de proferir a sua sentença, foram: “Você é um garoto doente e perturbado. Eu sinto que sua família falhou com você. Eu sinto que a sociedade falhou com você”.
Em resposta a isso, o garoto disse em tom sarcástico: “Nós viveremos para sempre”.