Ciência
23/12/2019 às 17:00•4 min de leitura
Nascida no dia 18 de janeiro de 1971, na cidade de Misato, no Japão, a jovem Junko Furuta não viveu o suficiente para que todos os seus momentos pelo menos tivessem um peso em meio as atrocidades que marcaram a sua curta existência.
Em 1988, aos 17 anos de idade, Junko estudava o seu último ano na Yashio-Minami High School, antes de se formar, e seguia uma rotina comum. Na escola, a garota era reconhecida como sendo bonita, inteligente e tímida. Por mais que fosse muito popular, ela nunca era vista em festas organizadas por colegas e amigos. Não fazia consumo de álcool ou drogas – muito diferente de boa parte dos demais estudantes. O seu dia-a-dia consistia em ir para escola e de lá seguir direto para o seu trabalho de meio período como garçonete.
Contudo, foi a infeliz coincidência de um momento e uma simples palavra que selaram o destino de Junko Furuta.
Hiroshi era conhecido como o lado podre da escola onde Junko estudava e também o grande valentão. Aos 18 anos, o jovem se gabava e era temido por suas conexões com o Yakuza – uma famosa e altamente perigosa organização criminosa internacional japonesa fundada no século XVII que possui mais de meio milhão de membros no mundo todo.
“Não” foi a resposta que o garoto recebeu de Junko quando essa rejeitou as suas investidas. De acordo com alguns colegas, Hiroshi havia desenvolvido uma espécie de crush por ela e ficou furioso com o que ouviu, ainda mais por nunca ser rejeitado por nenhuma garota – mais por medo do que por desejo.
Violento e dono de uma conduta abusiva, no dia 25 de novembro de 1988, apenas alguns dias depois de ter sido desprezado por Junko, Hiroshi Miyano junto com o seu amigo Shinji Minato, de 16 anos, estavam rondando em um parque local do bairro onde costumavam atacar sexualmente as mulheres. Estupradores experimentes desde muito cedo, os dois eram conhecidos por possuírem um olhar clínico para detectar alvos fáceis.
E foi assim que, às 8h30 daquele dia de 1988, os dois identificaram Junko Furuta cruzando o caminho em sua bicicleta em direção ao trabalho. O plano foi armado rapidamente: Shinji chutou a bicicleta da garota à sua passagem, como uma maneira de derrubá-la e criar uma oportunidade para Hiroshi, que fingiu reprimir a atitude do amigo e ajudou Junko a se levantar. Ele prontamente se ofereceu para escoltá-la até o trabalho e ela acabou aceitando.
No meio do caminho, Hiroshi ameaçou matá-la se não o seguisse em silêncio. Eles chegaram em um armazém abandonado onde o garoto a estuprou enquanto a aterrorizava com as promessas de morte. De lá, levou-a para a casa de Shinji e convidou Jõ Ogura e Watanabe Yasushi, ambos de 17 anos, para que fizessem parte de todos os horrores que estavam por vir.
Nada consegue ser comparado com o nível de bestialidade que Junko Furuta foi submetida durante os 44 dias que foi mantida em cativeiro naquele quarto imundo. Ao longo das repetidas sessões de sodomia e violência sexual até que sangrasse, ela chegou a ser pendurada nua no teto pelos pulsos e usada como um saco de pancadas pelos garotos. Amordaçada, eles a agrediram com halteres, a queimaram com cigarros, velas, introduziam lâmpadas ligadas, tesouras, barras de ferro e chegaram até a acender fogos de artifícios em sua vagina e ânus, causando graves queimaduras e rompimentos internos dos órgãos. Amigos e outros membros do Yakuza foram convidados por Hiroshi para a espancarem e praticar orgias.
Eles deixavam Junko sem comer nada por vários dias, e quando sua refeição chegava, era forçada a comer baratas e a beber a sua própria urina. Amarrada dos pés à cabeça e pelada, a garota era largada do lado de fora da varanda durante o inverno. Derramaram cera quente em suas pálpebras, teve agulhas espetadas em seus seios e os mamilos arrancados com um alicate. Quando os captores passaram a lançar pesos de ferro em seu peito, ela perdeu o controle da bexiga e do intestino, tamanho era o dano interno.
No dia 27 de novembro, os pais de Junko entraram em contato com às autoridades para reportar o seu desaparecimento, porém Hiroshi a obrigou a telefonar para os pais e dizer que havia fugido para a casa de amigos e que não retornaria mais, para deixarem de procurá-la.
Enquanto isso, os pais de Shinji Minato sabiam da monstruosidade que acontecia em baixo do teto deles, mas temiam o envolvimento do filho com a gangue, por isso recusaram os pedidos de ajuda da garota todas as vezes que puderam ouvi-la. Quando Junko tentou ligar para a polícia sozinha, foi pega em flagrante e, como punição, teve as suas pernas incendiadas, causando queimaduras de segundo grau.
Em 15 dias, o rosto de Junko estava tão machucado que ela perdeu a capacidade de respirar pelo nariz. Estima-se que ela foi estuprada cerca de 400 vezes, sendo que, por dia, mais de 20 homens diferentes eram levados por Hiroshi até o quarto para violentar e agredi-la brutalmente. Devido a diminuição do tamanho de seu cérebro, em consequência das pancadas na cabeça, a jovem passou a sucumbir ainda mais às convulsões extremas.
Em 20 dias, ela havia perdido a capacidade de se mover, pois era incapaz de usar as mãos, cujos ossos estavam moídos, tanto que, quando não fazia as necessidades onde estava, ela levava cerca de uma hora para usar o banheiro térreo. Ela implorou para que dessem um fim em seu sofrimento e a matassem, mas eles se recusaram. E em 44 dias, a aparência dela havia desaparecido, deteriorada em meio ao inchaço, a pele torrada, ao pus, as bolhas e úlceras de infecções.
Revoltados com a inutilidade dela, os garotos a massacraram com porradas uma última vez certo dia, antes de seguiram atrás de novas vítimas para pelo menos satisfazê-los sexualmente. Então, no dia 4 de janeiro de 1989, largada sobre a sua miséria e o lixo amontoado no quarto, Junko Furuta convulsionou e morreu.
Percebendo isso apenas 24 horas depois, os quatro sequestradores embrulharam e a colocaram numa mala de viagem. Esta foi colocada em um tambor e coberta com concreto e o tambor descartado num caminhão de cimento no bairro de Koto.
Duas semanas após o crime, ironicamente, Hiroshi acabou se entregando sem querer para a polícia a respeito da morte de Junko quando foi preso com Jõ Ogura pelo estupro de uma outra garota e entreouviu que estavam investigando um caso de assassinato, dessa forma deduzindo que Ogura tivesse confessado. Rapidamente, ele contou onde o corpo da jovem poderia ser encontrado.
O caso ganhou a mídia e em pouco tempo toda a história hedionda de como a vida de Junko foi inumanamente interrompida, ganhou os noticiários do Japão e depois do mundo todo, principalmente por conta da sentença recebida pelos quatro jovens – que tiveram suas identidades preservadas pela justiça.
Hiroshi Miyano foi condenado apenas a 20 anos de encarceramento em um centro de reabilitação juvenil, enquanto Shinji Minato cumpriria de cinco a nove anos, e Jõ Ogura foi sentenciado a oito anos. Em outras circunstâncias, os garotos teriam sido punidos com prisão perpétua ou pena de morte, por isso acredita-se que o Yakuza tenha se envolvido na época.
De qualquer forma, o impacto do caso foi tão grande que demandou mudanças no sistema penal do Japão, principalmente no quesito de jovens serem julgados como adultos.
Em contraste à injustiça, durante o funeral de Junko Furuta realizado em 2 de abril de 1989, diante do caixão, a sua melhor amiga fez questão de acalmar o espírito da jovem: “Ouvi dizer que o diretor lhe entregou um certificado de graduação, então nós nos formamos juntas. Eu nunca vou te esquecer. Jun-Chan, não há mais dor. Não há mais sofrimento. Por favor, vá e descanse em paz”.