Ciência
20/02/2020 às 14:00•4 min de leitura
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, a economia da Suécia, anteriormente de consumo interno, tornou-se industrial de exportação voltada para uma Europa em reconstrução, que criou uma grande demanda de materiais, como o aço e a madeira.
Foi nesse cenário, dentro da cidade portuária de Gotemburgo, em uma das épocas de maior crescimento, que 3 amigos de infância encontraram a possibilidade de lucrar certo dinheiro trabalhando em estaleiros e indústrias. Jan Olof Dahlsjo (21), Gay Karlsson (22) e Kjell Ake Johansson (16) eram conhecidos por serem um trio inseparável, prestando uma intensa lealdade um ao outro. Além disso, eles eram bem leais também os seus familiares.
O que as autoridades tentam descobrir até hoje é se os acontecimentos do passado deles têm conexão direta com o insólito desaparecimento desses jovens.
Na manhã chuvosa e cinza de 29 de julho de 1965, em Gotemburgo, foi quando os 3 garotos foram vistos pela última vez . Eles estavam saindo da cidade a bordo de um Volvo azul-escuro que pertencia ao irmão de Jan Dahlsjo, embora nenhum deles possuísse carteira de motorista.
A polícia estava muito familiarizada com os rostos desses amigos inseparáveis, pois eles já eram muito conhecidos no local por se envolverem em problemas relacionados a pequenos furtos — que faziam quando estavam precisando de dinheiro ou passando por dificuldades. Apesar disso, a imagem deles nunca foi associada diretamente a de delinquentes, pelo contrário, eram tidos como bons garotos por praticamente todo mundo que os conhecia, até mesmo pela própria polícia.
Ao desaparecer, eles deixaram para trás todo o dinheiro que tinham guardado, as suas famílias e as suas namoradas. Sendo que Kjell Ake Johansson havia acabado de se tornar pai. Logo, os três foram declarados desaparecidos por seus familiares em momentos diferentes — afinal, não sabiam que eles estavam juntos — e talvez isso tenha colaborado para que certo desmembramento de informações acontecesse ao longo da investigação. No entanto, foi durante esse processo de busca que os caminhos deles se cruzaram com o de outro garoto, também desaparecido no mesmo dia que eles sumiram.
Estudante de Arte da faculdade de Estocolmo, o jovem Hubner Lundqvist, de 18 anos de idade, passou o verão todo de 1965 com sua família, em Torekov (sul da Suécia). Ele acabou ficando entediado com a monotonia do lugar e decidiu viajar para Lysekil (norte de Gotemburgo), onde ficava a colônia de um grupo de artistas. A caminho de seu destino, ele passou pela cidade portuária e possivelmente pegou uma carona ou um trem. A maioria das testemunhas afirmaram ter visto o garoto embarcando em um Volvo com 3 homens já em seu interior, embora nenhuma conexão sólida tenha comprovado isso. Em um cartão-postal enviado à família, Hubner escreveu: “Está tudo bem, não se preocupem!”.
E depois disso, nunca mais se ouviu falar dele.
Os três jovens não tinham recebido o salário do estaleiro onde trabalhavam antes de sumirem. Não disseram nada para as suas namoradas ou familiares, tampouco expressaram algum comportamento atípico. Eles também não levaram nada consigo — saíram com a roupa do corpo e a carteira.
No dia anterior ao ocorrido, um colega de equipe deles ouviu que os rapazes estavam planejando acampar na Vila de Asa (sul de Gotemburgo). Contudo, o tempo não estava muito estável naquele dia e, por esse motivo, imaginaram que no dia seguinte também não estaria muito melhor — então, desistiram da ideia.
Sabendo dessa informação, as investigações se intensificaram logo em seguida. As autoridades realizaram buscas pelos corpos dos jovens nas águas profundas de Gotemburgo e nas cercanias, porém não encontraram nenhum vestígio de nada, sem evidências de um crime, possível afogamento ou algo parecido. O Volvo de placa "PV444" jamais foi localizado.
Por volta das 9 horas, em 29 de julho, a irmã de Gay Karlsson foi até o apartamento onde o garoto morava, mas foi recebida à porta por um homem estranho e totalmente desconhecido para ela. Curiosamente, ele estava vestido em um suéter de malha que ela mesma tinha confeccionado para Karlsson. O homem não conseguiu disfarçar o seu nervosismo ao vê-la e simplesmente disse que o seu irmão estava bebendo em algum bar pela cidade. Uma vez que não conseguiu encontrá-lo em nenhum dos locais por perto, ela acabou voltando para casa.
Ainda no mesmo dia, por volta das 14h30, dois homens vestidos de mulher invadiram o banco de Gamlestadstorget, em Gotemburgo. Eles entraram disparando tiros para o alto e, nesse momento, um dos funcionários, ex-lutador de boxe, partiu para cima de um dos criminosos — que acabou efetuando um disparo contra a própria perna. Apesar disso, os criminosos conseguiram fugir do local carregando com eles uma quantia de 18 mil coroas.
Eles desceram um caminho íngreme até as margens de um rio que ficava próximo ao banco e despiram-se de seus disfarces. Por debaixo deles, os ladrões vestiam trajes profissionais de mergulho. Alguns dos funcionários que os perseguiram, passaram a atirar pedras nos homens para tentar impedir, ou até retardar, a fuga enquanto a polícia não chegava, porém receberam tiros como resposta.
O mais alto e magro dos dois assaltantes ficou por um tempo parado nas águas, provavelmente sofrendo com as dores da perna ferida. Foi nesse instante que o seu comparsa gritou: “Corra, Dahlsjo, corra!”. Seria possível o criminoso ter o mesmo sobrenome de um dos jovens desaparecidos? O mesmo que já tinha um histórico com crimes de roubo e havia pegado o carro do próprio irmão?
Os assaltantes não conseguiram ir muito longe. Quando a polícia arrancou as roupas de mergulho, os 2 homens não eram nenhum dos 3 desaparecidos, tampouco suecos. Com cerca de 30 anos de idade cada um, eles eram cidadãos húngaros que haviam fugido da Hungria na década de 1950. Além disso, eles afirmaram que aqueles não eram seus nomes verdadeiros.
No mesmo dia, às 16 horas, um homem de aproximadamente 45 anos foi atropelado no centro de Gotemburgo. Quando a polícia chegou ao local do acidente, verificaram que na identidade do cidadão morto constava o nome: Kjell Ake Johansson. Exatamente o mesmo nome do garoto de 16 anos que eles iam descobrir o desaparecimento poucos dias depois.
A identidade era grosseiramente falsa, confeccionada em uma gráfica e impressa em papel comum. O homem que morreu era de nacionalidade alemã e isso foi tudo o que conseguiram descobrir. Ele não estava registrado em lugar algum e ninguém nunca o procurou posteriormente, nem mesmo depois de ser sepultado em uma cova sem identificação.
A polícia também não foi capaz de conectar os motivos de esse homem ter adquirido uma identidade falsa, ou há quanto tempo andava com ela e onde a conseguiu. Seria coincidência demais ele ter usado exatamente o nome do garoto desaparecido sob estranhas circunstâncias? Qual a possibilidade de uma conexão? Por qual motivo todos esses estranhos eventos apontavam para o sumiço dos rapazes?
Nada nem ninguém jamais foi capaz de emendar os retalhos do desaparecimento incomum desses jovens, tampouco solucionar os mistérios e as estranhas coincidências ao redor de tudo o que ocorreu. E, apesar de um hiato de aturdimento de 51 anos, a história ainda continua a ser revirada, sendo transformada em peças de teatro, filmes e servindo de inspiração para livros ficcionais.