Artes/cultura
08/06/2020 às 14:00•3 min de leitura
Eleonore Zugun nasceu no dia 24 de maio de 1913, na pequena vila de Talpa, localizada na Romênia. Logo no início de sua adolescência, ela começou a batalhar contra episódios estranhos que a cercavam.
A princípio, os pais da garota acreditaram que ela estava possuída por algum tipo de entidade demoníaca. Zugun se arremessava contra as paredes, erguia-se do chão de modo estranho e se contorcia constantemente. As marcas de mordidas e arranhões que apareceram por toda a extensão do corpo da jovem vieram acompanhadas de uma série de fenômenos paranormais. Com intenção de machucar, objetos simplesmente atravessavam o ar e atingiam os membros da família.
Após um bombardeio físico que quase causou a demolição da casa, os pais procuraram ajuda de um padre local, e a menina foi enviada para o convento de Gorovei. Nesse local, foi realizada uma sessão de exorcismo completa na moça, mas isso não adiantou nada.
(Fonte: Ghost Theory/Reprodução)
Acompanhado de mais 14 camponeses, o pai, ainda não convencido de que o exorcismo feito não havia resolvido, decidiu encaminhar a filha a um padre idoso, de 80 anos, chamado Macarescu, que morava em Zamostea. Assim que Eleonore entrou no quarto do religioso, um vaso pendurado em um suporte de ferro na parede se partiu em centenas de pedaços. As pessoas foram alvejadas com as lascas e um dos camponeses precisou ser socorrido com ferimentos no rosto.
As pessoas mal tinham se recuperado do choque, e logo os vidros das janelas arrebentaram, um por um, até que o vento pudesse correr solto pela casa. A maioria das pessoas fugiram às pressas, assustadas. O pai de Zugun implorou ao padre para que realizasse uma missa a fim de expulsar o espírito maligno que assombrava a vida de sua filha. Dessa forma, o filho do padre sugeriu que o exorcismo fosse feito no convento de Suczava, então uma pedra atravessou o cômodo e atingiu a foto de um santo sobre a lareira.
No dia seguinte, todos rumaram até o convento erguido em pedra para a sessão do ritual. Mais uma vez, não tiveram muito sucesso. Os fenômenos não cessaram, muito pelo contrário, se tornaram ainda mais violentos e frequentes.
(Fonte: Harry Price/Reprodução)
Cerca de 5 dias após o retorno da garota, uma chuva de pedras despencou dentro de sua casa, abrindo buracos no telhado e estilhaçando várias janelas. Ironicamente, nada atingia a garota, longe disso, a atividade insólita parecia acontecer ao redor dela. Rejeitada pelos moradores do vilarejo que temiam a sua presença e, naquele momento, também pelos próprios pais, com apenas 12 anos, a menina foi levada à casa dos avós para passar um tempo.
No mesmo dia em que chegou, um pedaço de porcelana e meio tijolo atravessaram a sala da casa, como que arremessados de algum canto, e quase atingiram o rosto de seu avô. Instantes depois, um anel de ferro caiu sobre o fogão.
Muito temerosos, os avós mandaram-na de volta para a casa dos pais e alertaram-nos de que talvez a garota estivesse “enfeitiçada” ou tivesse algum tipo de poder telecinético que não sabia controlar.
Sem saber o que fazer, a última providência que os pais tomaram foi a de levar a filha a um manicômio.
(Fonte: Mary Evans Prints Online/Reprodução)
Durante o seu tempo encarcerada na instituição, Eleonore conheceu a condessa Zoe Wassilko-Serecki, que ficou fascinada e igualmente comovida com a sua história. Ela ofereceu um lar à garota em troca de estudar o que acontecia com ela para poder ajudá-la.
Em setembro de 1925, Eleonore viajou para Viena e rapidamente se tornou objeto de estudo de diversos especialistas paranormais, que realizaram uma série de testes e pesquisas ao redor dela, documentando as evidências. Apesar de seu analfabetismo, os investigadores ficaram chocados com a capacidade de escrita em diversos idiomas que a garota tinha durante os episódios. Ela mergulhava em um momento automático e febril que ninguém conseguia tirá-la até que simplesmente o lápis saísse voando de sua mão.
A menina começou a ser vista pelos olhos do mundo logo que a condessa publicou um artigo sobre as suas experiências convivendo com a jovem. O pesquisador psíquico britânico Harry Price chegou em Viena em maio de 1926. O jornalista registrou os fenômenos que cercavam a garota em uma matéria de duas páginas do Journal of the American Society For Psychical Research em agosto daquele ano, deixando explícito de que acreditava na veracidade dos acontecimentos. Price viajou com a condessa para Londres, onde fizeram uma investigação no Laboratório Nacional de Pesquisa Psíquica, no qual o caso de Eleonore foi relatado no NLPR Proceedings.
Intitulada como “A garota poltergeist” ou “A garota fantasma da Romênia” pela mídia, os estudos ao redor dela ganharam o mundo. Certos jornais declararam que tudo não passava de mais uma fraude, enquanto outros estavam convencidos de que a menina apresentava transtornos mentais. E ainda havia aqueles que investigaram a fundo a história e chegaram à conclusão de que era genuína.
(Fonte: KO Jewel/Reprodução)
Em 1927, psicólogos procuraram a condessa a fim de fazer uma avaliação psicológica na garota para descobrir se conseguiam chegar a algum diagnóstico médico, pois também acreditavam que toda aquela publicidade e exploração científica pudesse mexer com a cabeça da jovem. Hans Rosenbusch, um dos médicos especialistas, após uma avaliação, afirmou publicamente que Eleonore era uma farsa. A condessa o processou por difamação.
Em uma das sessões, um psicólogo revelou que a garota confessou que havia sofrido abuso sexual ao longo de sua infância. Contornando os aspectos culturais, o profissional foi conduzido a acreditar que a obsessão por algo maligno teria nascido desse evento traumático que na época nem mesmo ela sabia explicar. Em contrapartida, havia uma vila inteira que afirmava ter testemunhado os eventos macabros, inclusive dois padres.
Em meados de 1928, o possível assédio espiritual simplesmente cessou de uma hora para outra. Depois disso, com o interesse perdido, a condessa permitiu Eleonore a voltar para a Romênia, onde mais tarde se casou e passou o resto de seus dias sem incidentes até a sua morte em 1996.
Até hoje ninguém sabe no que acreditar, e o caso esfriou tão dramaticamente que Zugun desapareceu em meio à própria história.