Saúde/bem-estar
05/10/2020 às 15:00•3 min de leitura
De acordo com o censo realizado em 2019, a cidade de Sanjo, localizada na província de Niigata, no Japão, possui aproximadamente 95 mil habitantes e é considerada uma cidade pequena e pacata.
Nascida em 1981, Fusako Sano tinha apenas 9 anos e estava na 4ª série do Ensino Fundamental quando decidiu ir assistir a um jogo de beisebol de sua escola, no fatídico 13 de novembro de 1990.
Assim que a partida terminou, ela resolveu voltar para a casa sozinha, uma vez que a escola ficava perto e a cidade sempre teve um baixíssimo índice de criminalidade. Enquanto retornava, um homem estacionou o carro perto dela e a ameaçou para que embarcasse no veículo. O japonês no volante era Nobuyuki Sato, na época com apenas 28 anos, desempregado e considerado mentalmente instável.
Ele dirigiu por cerca de 55 quilômetros até chegar em sua própria casa, em uma área residencial de Kashiwazaki, na prefeitura de Niigata, a cerca de 200 metros de uma subestação policial.
Assim que os pais perceberam o tempo que a filha estava demorando para voltar para casa, eles entraram em contato com a polícia e imediatamente uma busca teve início. Eles procuraram por todos os locais, mas nenhuma pista do paradeiro da garota foi encontrada, tampouco alguma testemunha de seu desaparecimento.
O final da década de 1980 já foi marcada pelas relações diplomáticas enfraquecidas entre o Japão e a Coreia do Norte, e a incapacidade dos norte-coreanos de sanarem suas dívidas com os comerciantes japoneses gerou um desdém da potência japonesa. Até meados de 1990, os dois governos já não mantinham mais as relações diplomáticas e evitavam contatos, portanto tudo levou a polícia a acreditar que agentes da inteligência do governo norte-coreano poderiam ter raptado a pequena Sano, o que despertou um sentimento ainda maior de animosidade entre os japoneses.
Morando no andar de baixo da casa de sua mãe, o criminoso confinou a pequena Sano em um quartinho. Nos primeiros dias, totalmente acuada e amedrontada, ela teve o cabelo raspado pelo sequestrador e vestida com roupas masculinas. Diariamente, Sato a puniu com uma arma de choque toda vez que ela não conseguia realizar alguma tarefa para ele, como gravar corridas de cavalos na televisão.
Sato ainda tapou as janelas para impedir que estranhos vissem o que estava acontecendo e proibiu visitas de sua mãe, com 64 anos na época.
Sano sofreu calada e, por vezes, amarrada. Ela não tinha coragem de fugir, pois ouvia repetidamente as ameaças de que seria morta a facadas se fizesse qualquer coisa suspeita. Uma vez que não havia banheiro na parte inferior da casa, a garota chegava a passar semanas suja, e só conseguia se lavar quando a mãe de seu captor saía para ir ao mercado.
A menina era alimentada 3 vezes ao dia, tanto com comida instantânea quanto com a preparada pela mãe de Sato, embora na maioria das vezes ele a “presenteasse” apenas com suas sobras.
Foi durante 9 anos que Fusako Sano foi agredida, impedida de falar, assistir a televisão ou ouvir rádio. Sem poder se movimentar apropriadamente, os seus músculos enfraqueceram a ponto de atrofiarem, ou seja, ela jamais teria forças físicas para fugir de seu cativeiro. Sano desenvolveu um quadro de icterícia, o excesso de bilirrubina (um pigmento amarelo) no sangue, que deixou sua pele e esclera dos olhos amarelados. Além disso, todo o abuso psicológico fez com que a mente dela não evoluísse e a confinasse em um comportamento de uma criança de 9 anos.
No final de 1999, percebendo que o estado emocional de Sato se deteriorava com o tempo, a mãe dele, então com 73 anos, decidiu entrar em contato com o Serviço Público de Saúde de Kashiwazaki, para que fizessem uma avaliação psicológica no homem.
Eles chegaram na sexta-feira do dia 28 de janeiro de 2000, mas Sato não reagiu nada bem com a presença dos agentes de saúde, então a polícia foi chamada. Com a confusão acontecendo no andar de cima, Fusako Sano, então com 19 anos, percebeu que aquela seria sua melhor chance de liberdade. Ela subiu até o local e se revelou para um dos policiais após 9 anos de sequestro.
O caso foi considerado um vexame quando descobriram que Nobuyuki Sato tinha passagem pela polícia por ter agredido uma garota, em 1989, mas, por algum motivo, seu nome não constava na lista de suspeitos durante as investigações do caso de Sano.
A mãe do criminoso alegou que também fora enganada, pois nunca soube da existência da garota. No entanto, a polícia acreditava que ela tinha sim alguma noção do que estava acontecendo, pois, supostamente, ela quem teria comprado objetos de higiene feminina íntima para a garota quando ela atingiu a puberdade.
O julgamento de Sato começou em 23 de maio de 2000, e a defesa alegou insanidade mental, porém os psiquiatras que realizaram uma avaliação psicológica no homem atestaram que ele estava mentalmente apto para enfrentar as acusações como qualquer outro.
Depois de a promotoria recorrer por pelo menos 3 vezes, o caso foi encaminhado à Suprema Corte do Japão, em 10 de dezembro de 2002. A juíza Takehisa Fukawaza decretou uma sentença de 14 anos de reclusão para Nobuyuki Sato em uma instituição prisional comum.
Enquanto isso, Fusako Sano nunca mais foi a mesma, mas conseguiu ir se recuperando com o tempo, à medida que lutava bastante com as marcas deixadas pelo estresse pós-traumático.
Sem estudos e com problemas de interação social, ela foi trabalhar na plantação de arroz de sua família e, por muito tempo, preferiu viver sozinha e isolada. Ela acabou se tornando o caso de sequestro mais longo da história do Japão, o que acabou servindo para mudar o sistema de políticas de investigação do país em casos de desaparecimento de pessoas.