Ciência
04/11/2020 às 15:00•4 min de leitura
De acordo com o Escritório Criminal Federal (BKA) da Alemanha, aproximadamente 10 mil pessoas desaparecem por ano no país, sendo que diariamente cerca de 200 a 300 pessoas se enquadram no status de desaparecidas. Desses casos, apenas de 150 a 250 investigações são concluídas ou canceladas.
Os dados indicam que 50% de todos os casos são resolvidos na primeira semana em que foram registrados. Após mais ou menos 1 mês, mais de 80% dos casos já foram resolvidos. O BKA lista tudo em categorias: cidadãos estrangeiros desaparecidos na Alemanha, alemães desaparecidos no exterior e pessoas falecidas que não possuem identidade. Quando um cidadão alemão desaparece no exterior, o órgão público entra em contato com a polícia do país através da Interpol para iniciar a investigação.
Há apenas 3% dessas pessoas que não aparecem em até 1 ano depois de terem sido registradas como desaparecidas. Há um consenso entre as autoridades de que não é a maneira como elas somem, mas sim sob quais circunstâncias.
Em 30 de junho de 2014, o alemão Lars Mittank, de 28 anos, embarcou em um voo para Varna, a terceira maio cidade da Bulgária, cercada pelo Mar Negro, para aproveitar as férias com dois amigos: Paul Rohmann e Tim Schuldt.
Na primeira semana de diversão, em 5 de julho de 2014, Mittank e os amigos resolveram viajar para o hotel resort de Golden Sands, à beira-mar no Nordeste do país. Ele decidiu não jantar com seus amigos e foi perambular pelas dependências do resort. Na madrugada do dia 6 de julho, ele voltou para o hotel alegando que havia-se envolvido em uma briga com 4 torcedores de futebol (ele era fã de Werder Bremen, enquanto os outros eram torcedores do Bayern de Munique).
Mais tarde, naquele mesmo dia, Mittank resolveu passar em um hospital devido às fortes dores de ouvido. O médico búlgaro Dr. Boris Najdenow atestou que seu tímpano havia-se rompido e lhe receitou o antibiótico Cefuroxime. O profissional teria sugerido uma cirurgia, mas Mittank se recusou a fazer qualquer procedimento fora de seu país. Portanto, Najdenow apenas recomendou que ele esperasse mais alguns dias antes de voar de volta para Alemanha, pois a pressurização poderia causar danos até irreversíveis ao seu ouvido.
Eles partiram do resort durante a tarde de 6 de julho, pois voariam para a Alemanha no dia seguinte. Foi só momentos antes de irem embora do país que Mittank comunicou aos amigos que teria que ficar por mais alguns dias por causa de seu ouvido. Eles tentaram convencê-lo de que poderiam ficar, mas Mittank recusou a proposta, portanto eles foram embora em 7 de julho.
O rapaz se hospedou no Hotel Color Varna, onde a pernoite custava cerca de US$ 25. Faltando cerca de 10 minutos para a meia-noite, ele ligou para sua mãe, Sandra Mittank, do próprio celular e disse que estava com medo. Mittank pediu a ela que entrasse em contato com seu banco e cancelasse seu cartão de crédito, mas não explicou exatamente o motivo, nem mesmo o porquê de ele mesmo não poder fazer isso.
Por volta das 3h, ele tornou a ligar e sussurrou para a mãe que estava se escondendo de um grupo de homens que o seguia e queria matá-lo. Ele encerrou a ligação logo em seguida.
Às 6h, as câmeras de segurança do Aeroporto de Varna registraram Mittank descendo de um táxi e embarcando no terminal. O motorista encontrado e investigado mais tarde afirmou que o homem tinha as pupilas dos olhos dilatadas, o que poderia significar o consumo de drogas ou o resultado de alguma lesão na cabeça, muito embora o trauma precisasse ser muito significativo.
Mittank ligou para sua mãe, que o aconselhou a passar no médico do aeroporto antes de embarcar, para se certificar de que estava tudo bem com seu ouvido. Apesar de seu voo de volta já estar agendado e ele aparentemente seguro no local, Mittank ainda acreditava que esses homens não o deixariam sair da Bulgária de nenhuma maneira.
O circuito de segurança capturou o momento em que Mittank chegou no consultório do médico com uma mala de mão e uma mochila nas costas. Instantes depois, ele é visto deixando o local correndo e sem nenhum de seus pertences. Ele atravessou todo o pátio do estacionamento, pulou uma cerca, apesar do arame farpado, e simplesmente desapareceu para sempre.
Mais de 6 anos depois, a polícia alemã e búlgara nunca encontraram nenhuma pista do paradeiro de Lars Mittank, nem mesmo em seus pertences deixados para trás. O mais próximo que chegaram foi através de um relato de um motorista de caminhão em 2019. O homem revelou que deu carona a um desconhecido em Dresden e o levou até Schildow, no condado de Oberhavel de Brandenburg, no norte de Berlim (Alemanha). O caminhoneiro afirmou que o passageiro parecia uma versão mais velha da pessoa desaparecida daquela estampada nos pôsteres de Lars Mittank. Mas a questão era: como e quando ele poderia ter deixado a Bulgária?
As autoridades de ambos os países trabalham na hipótese de que Mittank teria-se envolvido em uma briga muito mais séria do que confessara aos seus amigos, provavelmente com pessoas envolvidas em tráfico de drogas ou gangues. Eles ainda alimentam a ideia de que o homem tenha sido forçado a usar entorpecentes, o motivo pelo qual poderia ter causado efeitos adversos com o uso do antibiótico.
Assim que o caso ganhou ampla divulgação nos noticiários, o público passou a especular que Mittank poderia ter misturado álcool com drogas ou com seu medicamento, entrando em um sério pico de paranoia. Levantaram a hipótese de que ele tenha planejado o próprio desaparecimento, muito embora Sandra Mittank não ache isso possível.
Além disso, alguns pensam na possibilidade de que o jovem tenha entrado de alguma forma para as estatísticas de tráfico humano, uma vez que a Bulgária era conhecida por ter uma das maiores taxas do crime em toda a União Europeia. No entanto, isso não justificaria o comportamento insólito do rapaz apresentado nas filmagens.
Sandra Mittank, por sua vez, só tem certeza de que seu filho estava de fato correndo muito perigo: “Meu Deus, eu conseguia ouvir o coração dele acelerado, a maneira como ele falava. Eu conheço o meu filho. Todas as vezes que assisto àquelas filmagens, sinto uma vontade imensa de salvá-lo”, alegou ela em entrevista.
O médico do aeroporto, Dr. Kosta Kostov, revelou que Mittank começou a tremer e a chorar quando viu um operário que fazia reformas no terminal entrar no consultório: “Eu não quero morrer aqui! Tenho que sair daqui”, gritou Mittank instantes antes de fugir do local.
Do que Mittank temia? O que estava acontecendo com ele? Por que ele fugiu?
Até hoje Sandra Mittank se faz essas perguntas, e seu instinto de mãe e a esperança se agarram apenas à declaração de um caminhoneiro, que vê mais rostos em suas viagens do que qualquer um.