Saúde/bem-estar
30/07/2021 às 13:00•2 min de leitura
Era real ou mítico?
A princípio, a crescente imprensa de 1764 não soube dizer, apenas que a primeira vítima foi uma garota de 14 anos chamada Jeanne Boulet, que vigiava suas ovelhas quando foi atacada. A morte dela foi seguida por outras, em sua maioria de mulheres e crianças, que tinham as gargantas rasgadas ou as cabeças arrancadas pela brutalidade da fera.
Na época, Gévaudan, localizada no sul da França (atual Lozère), era uma região tão misteriosa quanto a criatura que a aterrorizava. Muitos historiadores e escritores usaram a província como palco de acontecimentos monstruosos e "mágicos", pois tudo naquela terra indomada inspirava curiosidade.
A violência da Fera de Gévaudan, como a criatura ficou conhecida, espalhou-se tanto que as notícias viajaram do campo até o Palácio de Versalhes com apenas uma pergunta: quem deteria a fera?
(Fonte: RallyPoint/Reprodução)
Em 1764, a França estava em frangalhos, tanto social quanto economicamente, após as diversas derrotas com o fim da Guerra dos Sete Anos e o rei Luís XV tendo perdido a maior parte do seu império ultramarino. Então, de repente, aquela besta que estava matando aldeões se tornou o inimigo perfeito para reunir a nação ao redor de um propósito.
Com as notícias políticas censuradas pelo rei, a imprensa teve que recorrer a fontes de informação e entretenimento para se sustentar, portanto, tornar a fera uma calamidade nacional foi o melhor meio de atrair mais assinaturas para que os jornais pudessem se sustentar.
A partir disso, as autoridades locais e aristocratas montaram uma força-tarefa para localizar a fera de Gévaudan. Étienne Lafon, um delegado do governo regional, organizou a primeira operação com um grupo de voluntários de 30 mil homens.
Com a ajuda de Jean Baptiste Duhamel, líder da infantaria, eles paramentaram os homens em modelos militares, deixaram iscas envenenadas e até fizeram alguns soldados se vestirem de camponesas na esperança de atrair a besta. Uma recompensa compatível a 1 ano de salário de um operário da época foi estipulada para quem capturasse o animal.
(Fonte: History/Reprodução)
A criatura foi descrita como maior do que um lobo, com um focinho parecido com o de um bezerro e uma crina muito comprida — o que parecia indicar uma hiena. Porém, Duhamel descreveu o animal de maneira ainda mais fantástica, com "um peito tão largo quanto um cavalo, um corpo longo igual ao de um leopardo e uma pele que era vermelha com uma faixa preta".
As testemunhas alegaram que a besta tinha habilidades sobrenaturais, podendo andar sobre as patas traseiras e que sua pele repelia balas, além de ela ter fogo no lugar dos olhos.
(Fonte: AminoApps/Reprodução)
Por meio de histórias populares sobre mulheres e crianças que sobreviveram aos ataques, a imprensa defendeu e enfatizou a virtude do campesinato. Em 12 de janeiro de 1765, Jacques Portefaix teria afastado a besta com lanças e impedido que ela atacasse um grupo de crianças. Por sua coragem, Luís XV pagou uma recompensa a todas as crianças e fez que fossem educadas às suas custas.
Atacada em 11 de agosto do mesmo ano, Marie-Jeanne Vallet conseguiu se defender e ferir a besta, ganhando o título de "donzela de Gévaudan". Atualmente, uma estátua em sua homenagem permanece no vilarejo de Auvers, no sul da França.
(Fonte: Jaap Rameijer/Reprodução)
Dizem que o fazendeiro local Jean Chastel finalmente matou a criatura com uma bala na cabeça, em 19 de junho de 1767, porém o corpo dela nunca foi exposto publicamente. No entanto, a selvageria de fato parou na região, após contabilizar mais de 300 vítimas.
Segundo o historiador Jay M. Smith, as mortes em Gévaudan provavelmente aconteceram devido à grave infestação de lobos muito grandes que teriam atacado as comunidades mais isoladas e vulneráveis. Então, essa fera mítica seria em grande parte invenção da própria mídia para continuar ganhando dinheiro e do próprio rei em manter um objetivo em meio a tanto caos e fracasso.
Seja como for, o legado da fera de Gévaudan permanece.