Ciência
26/09/2014 às 06:09•2 min de leitura
Era 26 de setembro de 1983 quando Stanislav Petrov, um tenente-coronel das Forças de Defesa Aérea Soviética, estava de plantão no Serpukhov-15, um bunker secreto nos arredores de Moscou. Seu trabalho era monitorar Oko, o sistema de detecção de mísseis e alerta rápido da União Soviética para o ataque nuclear, e repassar as informações aos seus superiores.
Naquela noite, Petrov estava cobrindo o turno de um colega que tinha ficado doente. Por horas, o período de plantão correu tranquilo, mas, logo depois da meia-noite, o alarme começou a soar. Um dos satélites do sistema teria detectado que os Estados Unidos tinham lançado cinco mísseis balísticos. E eles estavam indo em direção à União Soviética.
Mapas eletrônicos piscavam, alarmes disparavam, relatórios chegavam e o pânico tomava conta dele. Uma tela com luz vermelha brilhou a palavra 'lançamento'.
O fato de que os norte-americanos estariam arremessando mísseis em direção aos soviéticos não era nada fora de questão naquela altura da Guerra Fria. Três semanas antes, os russos haviam derrubado um avião sul-coreano que tinha voado no espaço aéreo soviético, e a OTAN respondeu com manobras militares.
O conflito continuou e a ameaça de envolvimento nuclear ainda pairava sobre o longo trecho de terra e mar que ficava entre Washington e Moscou.
Voltando ao bunker onde estava Petrov, ao soar o alarme, ele teve uma reação inesperada. Ele tinha um palpite. Segundo ele, foi "uma sensação estranha no estômago", que, de certa forma, o avisou que o alarme que tocou no bunker era falso. Foi uma intuição baseada no senso comum: o alarme indicou que apenas cinco mísseis se dirigiam para a União Soviética.
Porém, se os Estados Unidos realmente lançassem um ataque nuclear, o número de mísseis lançados seria muito maior, pensou Petrov, e isso seria percebido em pouco tempo. Além disso, o radar de solo soviético não conseguiu pegar evidências mais contundentes de mísseis, mesmo depois de alguns minutos terem se passado.
A questão maior foi que Petrov não confiava plenamente na precisão da tecnologia soviética para detecção de bombas e mísseis. Mais tarde, ele descreveu o sistema de alerta como "cru", segundo foi divulgado no The Atlantic.
O que você faria? Você está sozinho em um bunker e os alarmes estão gritando, as luzes estão piscando, você tem o seu treinamento, você tem a sua intuição e você tem duas opções: seguir o protocolo ou confiar em seu palpite. De qualquer maneira, o mundo está contando com você para fazer a escolha certa.
O resultado foi que Petrov confiou em si mesmo e, de certa forma, devemos agradecê-lo por isso. Ele relatou a detecção do satélite a seus superiores, sim, mas, essencialmente, como um alarme falso e esperou do fundo de sua alma que ele estivesse certo. E, felizmente, ele estava.
Os Estados Unidos não atacaram os soviéticos. Foi mesmo um alarme falso. Um que, se não tivesse sido tratado como tal, poderia ter desencadeado um ataque nuclear de retaliação contra os Estados Unidos e seus aliados da OTAN, algo que poderia ter produzido reações catastróficas no mundo inteiro.
Petrov, que é agora aposentado e vive em uma cidade perto de Moscou, fala sobre a sua decisão: "Esse era o meu trabalho, mas eles tiveram sorte por eu estar de plantão naquela noite". De fato, o mundo teve sorte, porque Stanislav Petrov decidiu confiar em si mesmo sobre as máquinas com defeito e tomou a corajosa decisão de simplesmente não fazer nada.