
Estilo de vida
17/05/2025 às 03:25•2 min de leituraAtualizado em 17/05/2025 às 03:25
Ouvimos o tempo todo que a juventude é a melhor época de nossa vida. É nesta fase que estaríamos no auge de nossa existência e que podemos aproveitar ao máximo.
Essa percepção, sem dúvida, está mudando. As novas gerações relatam cada vez mais infelicidade, e esse é um problema que precisa ser encarado de frente.
A fase da juventude não era mais o que era antes. De acordo com um artigo produzido pela equipe liderada pelo pesquisador da área da economia trabalhista David Blanchflower, da Universidade de Dartmouth, antes imaginávamos o nosso bem estar em forma de U: teríamos picos de felicidade e satisfação durante a infância, juventude e após os 50 anos.
“Há uma literatura de pelo menos 600 artigos publicados sugerindo que a felicidade tem o formato de U na idade e, inversamente, que a infelicidade tem o formato de corcunda na idade. Em uma variedade de conjuntos de dados e medidas, a descoberta de uma baixa na meia-idade tem sido consistentemente replicada”, escreveu Blanchflower junto de seus colegas.
Segundo os pesquisadores, não é mais assim que a banda toca. “Agora, os jovens adultos (em média) são as pessoas menos felizes. A infelicidade agora diminui com a idade, e a felicidade agora aumenta com a idade – e essa mudança parece ter começado por volta de 2017. Os adultos em idade ativa são mais felizes do que os jovens", escreveram.
É difícil explicar o que pode ter causado essa mudança de padrão, que já foi verificada em quase todas as sociedades humanas testadas, indo de países avançados e ricos a nações em desenvolvimento. “Encontrei evidências do ponto mais baixo da felicidade em 145 países, incluindo 109 em desenvolvimento e 36 desenvolvidos”, afirmou Blanchflower em 2020, em um de seus muitos artigos sobre o fenômeno.
Agora, no entanto, as coisas parecem ser diferentes, e não há muita perspectiva de mudança quanto ao novo padrão.
Atualmente, graças a uma queda sem precedentes no bem-estar dos jovens, a curva de felicidade em forma de U está agora mais próxima de uma linha reta, com a satisfação com a vida mais alta no final da vida e mais baixa no início da vida adulta.
Os pesquisadores declararam ter se chocado com a constatação, pois nunca tinham visto algo assim antes. David Blanchflower explicou que hoje cerca de uma em cada nove mulheres jovens na América relatam todos os dias de suas vidas como sendo um dia ruim para a saúde mental. Entre os homens jovens, é um em cada 14 deles.
A equipe também observou um grande aumento de jovens procurando os serviços de saúde mental, sendo hospitalizados por automutilação e até mesmo tentando suicídio. E esse é um problema que se espalha para muito além de um único país. “Tenho exatamente o mesmo padrão em 43 países que já observei. Isso é meio assustador, e deveríamos ter feito algo sobre isso anos atrás", disse Blanchflower.
A grande questão aqui é: não se sabe com certeza o que provocou essa grande queda no bem-estar dos jovens. As respostas mais fáceis não parecem ser suficientes, como responsabilizar a epidemia de COVID. O mercado de trabalho parece também não ser uma explicação definitiva, já que o bem-estar dos jovens parece ter começado a diminuir bem na época em que os empregos começaram a melhorar.
“O que você precisa aqui é algo que comece por volta de 2014, seja global e tenha impacto desproporcional sobre os jovens – especialmente as mulheres jovens. Qualquer um que apresente uma explicação precisa ter algo que se encaixe nisso", concluiu o pesquisador.