Blues do Funeral: morte e poesia no cinema romântico

04/11/2011 às 06:432 min de leitura

De tempos em tempos as pessoas relembram como a humanidade é efêmera e filosofam sobre o significado da vida. Como não podia deixar de ser, em dias mais tristes eu também penso no assunto e, claro, revivo a dor de perder um ente querido.

Tristes ao extremo, as cenas de funerais sempre trazem algo a mais para o filme, especialmente para os romances. A dor de perder alguém e se recuperar são fortes aliadas para quem está vivo e nos trazem esperança de que o mundo, mesmo sem aquela pessoa amada, pode ser ainda um lugar que vale a pena viver (um pensamento romântico, é claro, mas nem por isso menos válido).

Entre tantas cenas do gênero, como os brindes ao lado da caixa com as cinzas em “P. S. Eu Te Amo” ou a cerimônia organizada pela esposa com câncer em “Simplesmente Amor”, existe uma que realmente me emociona profundamente, já que tem poesia envolvida.

Em “Quatro Casamentos e um Funeral” perdemos um dos personagens coadjuvantes (aliás, o mais divertido deles, para deixar qualquer um com raiva dos roteiristas) durante uma festa, vítima de um ataque cardíaco.

Durante o funeral, seu parceiro não encontra palavras próprias para expressar sua dor, tão profunda naquele momento. Então, ele acaba citando W. H. Alden – um crítico e poeta inglês de esquerda, publicado por T. S Eliot, que viveu de 1907 até 1973 e foi a voz de sua geração.

Matthew, interpretado pelo excelente ator John Hannah, recita as palavras do poeta com tanta profundidade que nós compartilhamos da dor daquele personagem. Sem música de fundo, apenas as palavras do lindo poema conseguem dimensionar a dor profunda de alguém que perdeu a pessoa mais importante de sua vida.

A grande sacada do filme foi colocar o poema na íntegra, algo pouco comum quando falamos de citações no cinema. Isso faz com que todo o sentido da poesia encontre os interlocutores, fato esse crucial para um bom entendimento e impacto de uma criação poética. Confira o poema e uma de suas traduções (visto que ele é metrificado e complicado de traduzir) para apreciá-lo em sua totalidade:

Funeral Blues
WH Auden

Stop all the clocks, cut off the telephone,
Prevent the dog from barking with a juicy bone,
Silence the pianos and with muffled drum
Bring out the coffin, let the mourners come.

Let aeroplanes circle moaning overhead
Scribbling on the sky the message He is Dead.
Put crepe bows round the white necks of the public doves,
Let the traffic policemen wear black cotton gloves.

He was my North, my South, my East and West,
My working week and my Sunday rest,
My noon, my midnight, my talk, my song;
I thought that love would last forever: I was wrong.

The stars are not wanted now; put out every one,
Pack up the moon and dismantle the sun,
Pour away the ocean and sweep up the woods;
For nothing now can ever come to any good

Tradução:

Parem já os relógios, corte-se o telefone,
dê-se um bom osso ao cão para que ele não rosne,
emudeçam pianos, com rufos abafados
transportem o caixão, venham enlutados.

Descrevam aviões em círculos no céu
a garatuja de um lamento: Ele Morreu.
no alvo colo das pombas ponham crepes de viúvas,
polícias-sinaleiros tinjam de preto as luvas.

Era-me Norte e Sul, Leste e Oeste, o emprego
dos dias da semana, Domingo de sossego,
meio-dia, meia-noite, era-me voz, canção;
julguei o amor pra sempre: mas não tinha razão.

Não quero agora estrelas: vão todos lá para fora;
enevoe-se a lua e vá-se o sol agora;
esvaziem-se os mares e varra-se a floresta.
Nada mais vale a pena agora do que resta.

(tradução de Vasco Graça Moura)

Fonte da tradução: Máquina de Escrever

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