Artes/cultura
20/07/2015 às 09:00•4 min de leitura
Você já deve ter assistido a mais de um longa no qual algum bicho aparece no decorrer da trama, não é mesmo? E você já reparou que quase sempre a frase “nenhum animal foi maltratado ou ferido durante a realização deste filme” aparece nos créditos?
Na verdade, essa frase é uma classificação concedida por um órgão norte-americano chamado American Humane Association (AHA), e, para que ela possa ser inserida nos créditos, as filmagens devem ser monitoradas por representantes da organização. No entanto, nem sempre existiu uma regulamentação para proteger os animais que “trabalham” em filmes — sem falar que, mesmo com leis específicas, acidentes e abusos continuam acontecendo.
A seguir você poderá conferir cinco exemplos — selecionados a partir de um artigo de Grace Murano do portal Oddee — de produções cinematográficas envolvidas em casos de abuso contra animais. Mas que tal começar com o filme que, devido ao enorme número de mortes de cavalos durante a sua produção, inspirou a criação das leis e regulamentações de proteção que se encontram em vigor atualmente?
A trama do longa A Carga da Brigada Ligeira, de 1936, foi baseada em um famoso acontecimento ocorrido na Batalha de Balaclava em 1854, durante a Guerra da Crimeia. Entretanto, quando o filme foi lançado, ainda não existiam leis contra o abuso de animais, o que significa que diretores e produtores podiam usar os bichos que quisessem e da forma que bem entendessem nas obras cinematográficas.
Como consequência, dezenas de cavalos morreram por ferimentos sofridos durante as gravações das cenas da batalha, gerando uma grande indignação na época. Com isso, após ser fortemente pressionado, o congresso norte-americano foi forçado a definir leis de segurança para proteger os animais empregados no cinema.
Lançado no ano 2000, o filme mexicano Amores Brutos é primeiro de uma trilogia também composta pelos longas 21 Gramas e Babel, de 2003 e 2006, respectivamente. Sua trama traz as histórias de vários personagens que se cruzam em um acidente de carro, e um deles é Octavio — vivido por Gael Garcia Bernal —, dono de um cão de rinha.
O filme inclui diversas sequências bem violentas de brigas de cachorros e, mesmo assim, a produção inseriu nos créditos a frase “nenhum animal foi maltratado ou ferido durante a realização deste filme” em inglês. Acontece que as filmagens de Amores Brutos não foram monitoradas por nenhum representante da American Humane Association e, portanto, a classificação não foi autorizada.
Após a finalização do filme, os produtores enviaram um vídeo à AHA que continha entrevistas com os atores e com o treinador dos cães que aparecem no longa — descrevendo como as sequências teriam sido gravadas. No entanto, depois de analisar as imagens, o órgão apenas concedeu o certificado “questionável” ao longa.
O filme Água para Elefantes, de 2011, conta a história de Jacob, um jovem ex-estudante de veterinária que acaba arranjando trabalho como veterinário em um circo durante a época da Grande Depressão nos EUA.
O mais irônico é que a trama — além de retratar o romance entre Marlena e Jacob, os protagonistas vividos por Reese Witherspoon e Robert Pattinson — foi baseada na crueldade contra os animais, e o longa se viu envolto em um escândalo relacionado com o abuso dos elefantes que trabalharam nas filmagens.
Um vídeo divulgado pela ADI (Animal Defenders International) revela imagens supostamente gravadas enquanto os animais estavam sendo treinados para participar do longa, e nelas é possível ver Tai, o elefante central do filme, assim como outros tantos, sendo maltratados pelos treinadores. O material mostra os animais sendo agredidos e recebendo choques, e ainda é possível ver um filhote apanhando na cabeça com um gancho.
O pior é que, aparentemente, as ações flagradas em vídeo não são consideradas tecnicamente ilegais. Segundo alguns especialistas, os elefantes não teriam aprendido determinados comportamentos — nem como “atuar” — se não tivessem sido submetidos a choques ou pancadas durante o treinamento. Portanto, conforme apontaram os ativistas, enquanto houver audiência para esse tipo de entretenimento, os animais continuarão sofrendo.
Você se lembra de “Richard Parker” do filme As Aventuras de Pi, de 2012? Pois, apesar de boa parte das cenas do protagonista com o tigre-de-bengala ter sido produzida por computador, um animal real foi contratado para a gravação de algumas sequências nas quais os efeitos especiais não dariam um bom resultado.
Chamado King, o tigre de carne e osso quase morreu afogado durante a filmagem de uma das cenas em um tanque de água. O animal acabou se perdendo e teve dificuldades para nadar até a borda do local; por sorte, o treinador conseguiu salvá-lo depois de atirar uma corda e arrastá-lo até a margem — por onde King saiu cambaleando.
O problema é que depois vazaram informações de que a responsável por garantir a segurança do tigre e demais animais do filme — uma mulher chamada Gina Johnson da American Humane Association — estava tendo um caso com um dos produtores-executivos e abafou o incidente. A coisa toda foi descoberta e Johnson demitida, mas As Aventuras de Pi recebeu o certificado “nenhum animal foi maltratado ou ferido durante a realização deste filme”.
Durante a produção da trilogia O Hobbit — cujos filmes foram lançados entre 2012 e 2014 —, cerca de 150 animais foram empregados e, desses, quase 30 morreram ao longo das filmagens. Isso porque os bichos ficaram alojados em uma fazenda repleta de “armadilhas”, como colinas, ribanceiras e cercas perigosas.
Entre os animais que morreram durante a produção estão o pônei Rainbow, que teve de ser sacrificado depois de fraturar a coluna, uma égua chamada Claire, que foi encontrada afogada, seis ovelhas, seis cabras e uma dúzia de galinhas — que teriam sido atacadas por cães em duas ocasiões.
Além disso, outros dois cavalos sofreram lesões sérias nas patas depois de se machucarem nas cercas. No fim, todos os animais tiveram que ser realojados em uma fazenda que não oferecia tantos perigos, e a “mudança” custou milhares de dólares à produção.
E você, caro leitor, se lembra de mais algum caso de abuso contra animais durante a produção de algum filme? Não deixe de compartilhar conosco nos comentários abaixo.