Como o cinema usa o jornalismo para dar credibilidade aos filmes

06/11/2015 às 13:483 min de leitura

A formação da cultura baseada em mídia, imagens e sons exerce enorme poder e controle sobre a formação de opiniões e comportamentos sociais, tendo na televisão, no rádio e, principalmente, no cinema a base da formação de modelos.

O jornalista, por ser, em grande parte, uma figura pública e ter em sua profissão uma exposição natural, desfruta de uma posição privilegiada em relação à criação da sua imagem profissional. A importância conferida à profissão logo chamou atenção de outras áreas, como a literatura e o teatro, que passaram a usar o cotidiano e o personagem jornalista em suas obras. Mas foi no cinema que o universo da notícia encontrou mais força na representação de sua imagem.

"Assassinos por Natureza" (1994)

A afinidade entre cinema e jornalismo é histórica, e essa aproximação pode ser explicada por diversos parâmetros, como a preferência e difusão das imagens cinematográficas pelos jornalistas e a escolha de temas relacionados à imprensa por parte dos cineastas.

Sempre que se pensa em um jornalista, a primeira imagem que vem à cabeça é de um jovem correndo atrás de uma notícia, fazendo o impossível para conseguir dar um “furo” e, assim, conquistar uma manchete na disputada capa do jornal. Mesmo que a profissão tenha muitas outras áreas, a relação com a notícia, a busca pela verdade e a corrida contra o tempo formam os elementos principais da imagem de o que é trabalhar nessa área. É possível inferir que é esse estereótipo que possivelmente atrai milhares de jovens para o curso.

"Boa Noite, e Boa Sorte" (2005)

Antes da televisão se tornar popular nas residências, os fatos em geral só ‘aconteciam’ quando os jornais os publicavam. Além disso, as notícias são necessárias em nossas vidas para nos proteger, ajudar a identificar possíveis inimigos e nos conectar com a sociedade. A força dessa credibilidade dada ao profissional de jornalismo lhe conferiu mais tarde o status de “quarto poder”.

O jornalista no cinema 

O jornalismo e o cinema sempre tiveram uma relação estreita. Com um universo de mais de 25 mil filmes relacionados ao tema, a sétima arte tentou se apropriar da credibilidade da profissão em um momento de crise na indústria hollywoodiana. Se uma pessoa acredita em um jornal, pensava-se que a confiança na profissão poderia ser levada para as telas.

Outro forte ponto de ligação diz respeito à narrativa cinematográfica tradicional, com origem em Hollywood, e a jornalística, que sofreu influência da imprensa americana. Tanto o jornal quanto o cinema americano utilizaram o mesmo modelo narrativo romanesco que os consagraram, enfatizando o indivíduo e a ação que este deve desempenhar. Além disso, a notícia obedece uma organização, chamada no meio de “lead”, na qual o jornalista deve apresentar: quem fez o quem, a quem, quando, onde, como, por que e para quê.

"O Abutre" (2014)

Assim sendo, ao utilizar um jornalista em seu ambiente de trabalho durante a produção cinematográfica, o roteirista ou diretor estará seguindo o padrão de narrativa usada nos filmes, já que o repórter, em exercício da profissão, abordará o fato e encontrará o sujeito envolvido, as causas e as possíveis soluções.

Porém, ao representar a profissão em suas obras, o cinema acaba por simplificar e estereotipar sua identidade, afim de que o espectador o reconheça prontamente em diversos filmes. Uma pessoa sem maiores conhecimentos sobre a profissão levará aquelas imagens como definidoras das características que compõem a classe.

"Todos os Homens do Presidente" (1976)

Entre os diversos filmes que abordam o universo da comunicação social, Todos os Homens do Presidente”, 1976, foi um dos primeiros  a mostrar que a mídia é mais importante que os temas por ela cobertos. Sendo considerado por muitos como um marco do processo de mitificação da imprensa e, ao mesmo tempo, da desmoralização do Governo. Em outras palavras, esse foi o momento em que a sétima arte elevou o jornalista mais claramente a um status privilegiado, de senhor da verdade e da justiça.

Com a constante popularização do jornalismo investigativo, principalmente depois dos episódios de Watergate, que levaram à renúncia do presidente Richard Nixon, o status de “quarto poder” ganhou ainda mais visibilidade.  

"Superman" (1978)

O jornalista é representado como alguém que pode começar e acabar com uma guerra, derrubar presidentes, mudar o caminho de grandes corporações, enfrentar o Governo, a Justiça, a Igreja, tudo com o advento da “liberdade de imprensa”. Ele mostra como deseja a realidade que vê.

Definindo o estereótipo do jornalista em uma única personalidade, não se teria nem um herói nem um vilão, mas sim um “anti-herói”: famoso, ambicioso, manipulador, polêmico e, por vezes, até conturbado, tendo uma profunda vocação para o jornalismo, quase como se tivesse nascido predestinado à profissão. Corre riscos pela notícia e pode até ser antiético, mas tudo é explicado pelo produto final: a verdade que vai mudar o mundo. 

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