Ciência
14/05/2015 às 09:51•6 min de leitura
Por bem ou por mal, o McDonald’s é um dos símbolos máximos da globalização e da dominação cultural americana que se deu a partir do século 20. A rede de fast food apresenta números impressionantes: cerca de 35 mil restaurantes servem mais de 68 milhões de pessoas diariamente em 119 países.
Porém, não é todo país que fica feliz com a presença do McDonald’s em suas terras. Por uma série de motivos, algumas nações não se deram muito bem com o restaurante amarelo e vermelho. Confira a seguir uma lista com alguns desses locais e, o mais importante, as razões pelas quais não é possível saborear um Big Mac nesses lugares, o símbolo da marca McDonald’s, delicioso para alguns, repugnante para outros.
O paraíso turístico caribenho chamado Barbados teve sua experiência com o McDonald’s há quase 20 anos. Apesar da boa condição econômica do país, impulsionada pelo turismo, e, por consequência, da presença considerável de pessoas de origens diversas, o interesse pelo fast food dessa franquia não conseguiu sustentá-la sequer por um ano.
Aberto em 1996, o restaurante não aguentou a concorrência de quem vendia maravilhosos frutos do mar frescos, diretos da fonte e relativamente baratos. Antes da virada do ano, a loja fechou suas portas para nunca mais abrir naquele país. O mais interessante é que o edifício onde ela funcionava ainda existe e serve como sede da empresa Consolidated Finance. Sua arquitetura é inconfundível, como podemos ver na imagem.
A inconfundível arquitetura do McDonald’s, hoje em cores e mercado diferentes
Dá para imaginar que alguém de férias em Barbados não vá atrás de fast food, cuja vantagem nesse lugar seria apenas, talvez, o preço menor. Os turistas (e os locais também) certamente preferem saborear as iguarias tradicionais da belíssima ilha ou, na pior das hipóteses, a comida da rede de fast food local do país, o Chefette, que, segundo seus clientes, é muito melhor que da rede americana.
Outro paraíso tropical que não deu boas-vindas à comida rápida do McDonald’s, mas dessa vez por motivos mais culturais. Quando a rede decidiu que seria uma boa ideia expandir-se para as ilhas Bermudas, território britânico ultramarino, no ano de 1999, sua população não ficou nem um pouco feliz. Atrás de seus direitos como cidadãos, os habitantes das ilhas buscaram as autoridades responsáveis e conseguiram que uma lei fosse aprovada proibindo não apenas o McDonald’s, mas qualquer rede de franquias de fast food de abrir lojas em terras bermudenhas.
Como imaginar um McDonald’s em um lugar desses?
Uma senhora de 83 anos, nascida e criada nas ilhas, mostrou um senso de identidade cultural invejável afirmando, na época, que o McDonald’s desvaloriza os lugares para onde vai e que o simples motivo para toda essa repulsa era óbvio: “Isso não é bermudenho”. Pois que a vontade do povo seja feita!
Diferentemente de alguns países que nem sequer tiveram uma loja do McDonald’s algum dia, a Bolívia chegou a ter oito restaurantes em grandes cidades, como a capital La Paz e Santa Cruz de la Sierra. Durante 14 anos, os bolivianos tiveram livre acesso ao fast food de tantas calorias, mas em um determinado momento as franquias viram-se numa situação em que tiveram que deixar o país.
O povo contra Ronald McDonald
Ao contrário do que muitos vão pensar, as lojas não foram expulsas do país pelo presidente Evo Morales, mas sim pelo desinteresse da clientela e a preferência, novamente, pela alimentação local. Como não eram mais economicamente viáveis, os restaurantes fecharam e não voltaram mais. E caso queiram voltar, aí sim irão ser barrados pelo presidente, que, sem medo de errar, afirmou: “O McDonald’s não tem interesse na saúde dos seres humanos, apenas nos ganhos e lucros da empresa”.
Eis uma nação onde o McDonald’s nunca pôs os pés. Podemos considerar que, além de não ser um lugar muito receptivo à cultura americana, o Camboja não entra na lista de países que o McDonald’s considera como tendo uma economia desenvolvida o suficiente para instalar seus restaurantes. O país tem como base de sua economia a agricultura, a construção, o turismo e a indústria têxtil, o que atrai investimentos estrangeiros. No entanto, a falta de estabilidade e progresso econômico espanta a rede de fast food. Sorte ou azar deles?
Modelo de caixa do McLanche Feliz que nunca existiu, escrito em khmer, o idioma do Camboja
Este é o maior país que não possui um restaurante do McDonald’s (até então). A falta de identificação com os hábitos culturais e, por consequência, alimentares dos americanos pode ser a maior responsável pela franquia ainda não ter dado as caras na terra do Borat.
Isso, porém, pode mudar em breve, visto que um novo complexo comercial gigantesco na capital Astana tem divulgado a abertura da primeira loja no país desde sempre. Será que os cazaques estão animados com a novidade ou vai ser mais um tiro n’água dado pela rede?
Braço russo da marca McDonald’s planeja a abertura do primeiro restaurante cazaque
Dizer que não existe McDonald’s na Coreia do Norte não é assim uma grande novidade. Talvez o mais antiamericano dos países, a terra governada a punhos de aço por Kim Jong-un, obviamente prefere que qualquer coisa originária dos Estados Unidos fique longe de suas fronteiras, por isso nada da franquia por lá.
A recíproca também acabou sendo verdadeira, com uma série de sanções impostas pela ONU nos anos de 2006 e 2009 como “castigo” pelos testes nucleares ilegais realizados pela Coreia do Norte. Assim, o país também sofre uma porção de proibições por parte do mundo ocidental, e mesmo que eles resolvessem mudar de ideia seria possível instalar um restaurante do McDonald’s lá.
McDonald’s: o prazer secreto de Kim Jong-un?
Mas como nada é realmente o que parece ser, em 2011 foi descoberto que lanches do McDonald’s eram contrabandeados para o desfrute da elite norte-coreana por meio da companhia aérea Air Koryo, vindos diretamente dos restaurantes chineses da rede. Aparentemente, o ódio aos americanos não inclui o desgosto com o fast food yankee.
Um caso raro em que nenhuma das duas partes, McDonald’s e Gana, deseja esse farto matrimônio. O lado da rede de fast food afirma que o país não é economicamente estável o suficiente para merecer a instalação de um de seus restaurantes. O curioso é que outra franquia de refeições rápidas, o KFC, já está presente na capital ganesa, Acra, e aparentemente tem funcionado bem por lá.
Já por parte da população de Gana, não há grande interesse na presença do McDonald’s. Com uma economia baseada principalmente na mineração e no petróleo, a abertura da franquia no país não teria muito com o que contribuir para o progresso do país. Sendo assim, fica cada uma na sua que é melhor.
O KFC de Acra, em Gana, vai muito bem, obrigado. E nada de McDonald’s
Em Abu Dhabi e Dubai, respectivamente a capital e a maior cidade dos Emirados Árabes Unidos, é muito fácil encontrar restaurantes do McDonald’s. O mesmo serve para a Arábia Saudita, Kuwait e Omã, todos eles com uma economia relativamente forte e, mais importante, de certo modo, alinhados com os Estados Unidos.
Não é o caso do Iêmen. Este é mais um exemplo de país que não despertou o interesse do McDonald’s em abrir lojas por causa de sua economia fraca. Apesar de considerarmos fast food uma comida barata, a população do Iêmen nem sequer teria condições de bancar refeições em um restaurante da franquia. E não fica só nisso: marcas estrangeiras, especialmente americanas, não são muito bem-vindas lá. Portanto, por dinheiro e segurança, nada de Big Macs.
Ninguém teve coragem de pintar uma dessas casas de amarelo e vermelho no Iêmen
Mais um problema econômico espantando o McDonald’s de um país. Em 2009, a moeda oficial da Islândia, a coroa islandesa, sofreu uma brusca desvalorização causada por uma crise econômica envolvendo os três principais bancos nacionais. O governo tentou interferir para domar a situação, mas já era tarde demais.
A crise afetou o poder de compra da população, que já não conseguia consumir os produtos da rede como antes. Os três restaurantes que existiam no país perceberam que seria uma grande roubada continuar operando lá, pois além de perderem clientes, o custo para importar os ingredientes necessários para a confecção dos produtos subiu vertiginosamente. A única solução foi fechar as lojas e partir da Islândia, mas não sem antes causar filas intermináveis durante suas últimas semanas de funcionamento.
Ficando para a posteridade: o último cheeseburger e fritas vendidos pelo McDonald’s islandês em 2009. Ainda parece comível, não?
Não está muito claro o motivo pelo qual o McDonald’s acabou deixando a Jamaica depois de uma década de operação por lá. São várias as teorias que tentam explicar por que a rede não se adaptou bem ao país, ou melhor, por que o país não se adaptou ao restaurante.
Um dos motivos que podemos listar aqui, segundo foi relatado em sites e jornais jamaicanos na época do fechamento, é o tamanho dos lanches. Como a rede Burger King, concorrente direta do McDonald’s, produz lanches maiores, a clientela acabou tendo preferência pela fartura do Rei do Hambúrguer. Essa franquia, inclusive, goza de um considerável sucesso na terra de Bob Marley.
Uma das lojas do McDonald’s que foi fechada em 2005 em Kingston, na Jamaica
Piadas sobre larica à parte, não fica muito clara a razão que fez os jamaicanos aceitarem o Burger King e renegarem o McDonald’s visto que, independentemente do tamanho dos lanches, os preços aparentemente são proporcionais. Outra possibilidade é o fato de algumas empresas estrangeiras não se adaptarem a fatores culturais do local onde se instalam. Segundo alguns jamaicanos, o McDonald’s poderia ter inserido mais itens mais familiares aos clientes do país. Enfim, é um mistério que provavelmente não vai ser solucionado tão facilmente.
Herdeira, pelo menos em nome, do império que um dia foi governado por Alexandre, o Grande, a república da Macedônia é hoje um pequeno país situado na península dos Bálcãs, ao norte da Grécia, e que teve dentro de suas fronteiras sete restaurantes do McDonald’s durante 16 anos.
Porém, em 2013, após um conflito de interesses entre o governo macedônico e a franquia de fast food, o chefe de comunicações do McDonald’s da Europa Agnes Vadnai anunciou que as lojas instaladas no país viriam a fechar de uma vez por todas. Segundo ele, não havia mais interesse por parte do povo macedônico em consumir os produtos que a rede fornecia.
Um dos antigos restaurantes do McDonald’s na Macedônia
Hoje, apesar de não estar fazendo tanta falta assim no país, algumas redes locais de hambúrgueres já surgiram para tentar tapar o buraco deixado pelos americanos. Será que alguma delas foi batizada de McDônia, como homenagem pela inspiração?
Há 10 anos, Podgorica, capital de Montenegro (na época ainda parte da Sérvia no processo de desmantelamento do bloco iugoslavo), ostentava um único McDonald’s. Porém, uma certa má vontade da parte do governo era sentida pelos donos da franquia, com a justificativa de que aquela comida tão pouco saudável não era muito bem-vinda no país.
Isso dificultou bastante a ampliação da rede, que se limitou a esse único restaurante na capital. Com esse relacionamento indigesto entre rede e governo, a franquia resolveu fazer as malas e cair fora. Em nota oficial, o governo montenegrino disse que nenhuma empresa é proibida de se instalar naquele país, inclusive o McDonald’s.
Nada de McDonald’s na charmosa Podgorica
O caos político e econômico que tomou conta do Zimbábue nos anos 2000 foi o principal culpado pela não instalação de restaurantes da rede McDonald’s no país. O plano era abrir algumas lojas em vários lugares, principalmente na capital Harare, mas tudo foi por água abaixo na situação precária daquele momento.
Quase 10 anos depois, com a economia relativamente recuperada, o Zimbábue está perto de ter seu primeiro McDonald’s. Algumas tentativas desde 2010 não tiveram sucesso, mas a marca deve insistir no mercado desse país que, aparentemente, é bastante promissor.
Harare, capital do Zimbábue: pronta para receber seu primeiro McDonald’s?
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E você, já imaginou viver em um país sem McDonald’s? Isso faria muita diferença para você? Deixe sua opinião nos comentários abaixo.