Ciência
26/10/2018 às 02:00•4 min de leitura
O ser humano é curioso e criativo por natureza, e mitos antigos podem nos mostrar isso facilmente. O ListVerse reuniu algumas histórias com enredos completamente rebuscados e que têm como ponto em comum a gravidez. Conhecer essas narrativas tão antigas e cheias de elementos fantásticos é algo divertido e realmente interessante.
Entre os povos da região italiana da Sicília, havia um conto bastante popular envolvendo uma gestação um tanto quanto macabra. Segundo a lenda, dois caçadores andavam pela floresta quando se depararam com uma simpática casa de campo, completamente abandonada. Como estavam cansados, acharam sensato entrar e ficar ali um pouco.
Acomodados, improvisaram uma lareira dentro da casa e sentiram um cheiro agradável que, no final das contas, vinha de um coração humano, que estava enterrado embaixo do assoalho, e os caras acabaram levando o coração com eles – lógico. Quando voltaram para casa, o coração, que, era hipnótico e tinha superpoderes, acabou seduzindo a filha de um dos caçadores, que não resistiu aos encantos do coração e comeu o órgão.
Apesar de ser virgem, a menina engravidou depois de sua estripulia culinária e acabou levando uma surra de seu pai, que ficou revoltado ao saber da gravidez. Assim que o bebê nasceu, todos ficaram sabendo que o coração pertencia a uma santa, que havia sido morta queimada e voltou à Terra para ensinar a lição ao pai abusivo e ao resto da humanidade.
Conta a lenda que, certa vez, enquanto varria seu templo, a deusa asteca Coatlicue viu um beija-flor cair em seus pés, machucado. Ela pegou o passarinho e o colocou em seu cinto, para protegê-lo. Claro, acabou engravidando dele.
A essa altura da história, a deusa já tinha seus 400 filhos, que, na verdade, eram as 400 estrelas que os astecas achavam que existiam em toda a Via Láctea. Por algum motivo, as 400 estrelas não gostaram de saber que mais um irmão estava a caminho e resolveram o quê? Isso mesmo: matar Coatlicue.
O plano era simples: as 400 criancinhas-estrelas endiabradas e descontentes com a chegada do novo irmão invadiriam a casa da mãe deusa, munidos de muitas armas, e acabariam com o problema de vez. A questão é que o jogo virou e o filho novo, que estava no ventre da deusa ainda, acabou nascendo já na forma do grande guerreiro Huitzilopochtli, com armadura e tudo, matando todos os seus 400 irmãos ingratos.
Tudo começou quando a esposa de um marquês resolveu tirar um cochilo no jardim. Acontece que, enquanto dormia, uma serpente deslizou pela vagina da moça e foi parar em seu útero. Depois de nove meses, a dorminhoca viu o resultado e, com a maior naturalidade do mundo, deu à luz um bebê que nasceu com uma cobra enrolada no pescoço. As parteiras que trouxeram o bebê e sua cobra umbilical ao mundo levaram um susto e a serpente acabou fugindo.
A criança recém-nascida era uma linda menininha, batizada de Biancabella e que, depois de crescer, chamava a atenção por onde passava, graças à sua beleza estonteante. Um belo dia, enquanto passeava por um jardim, Biancabella encontrou uma cobra, que disse (!) a ela que era sua irmã gêmea, Samaritana.
Apresentações feitas, Samaritana já pediu para que a irmã a trouxesse um baldinho de leite – até aí, tudo bem, afinal quem nunca? –, mas, assim que voltou com o leite, a serpente pediu para que a irmã humana tirasse a roupa e tomasse um banho com o leite enquanto ela, a serpente, deslizava pelo corpo de Biancabella e bebia o líquido. Não fosse absurdo o suficiente, todo esse ritual fez de Biancabella uma moça ainda mais bonita.
O banho acabou, a jovem ficou ainda mais bela e sua irmã Samaritana foi embora e ficou desaparecida por um tempo, justo no momento em que Biancabella preparava seu casamento com o rei de Nápoles. A verdade é que, apesar de ter passado pouco tempo ao lado da irmã serpente, a jovem tinha se apegado a ela. É aquela coisa: o sangue fala sempre mais forte.
Samaritana passou tanto tempo sem dar sinal de vida e Biancabella ficou tão deprimida que cogitou se matar. O suicídio, felizmente, não aconteceu, e a serpente voltou para a vida da irmã e, de uma hora para outra, se transformou em mulher também. Fim.
Entre os mitos chineses está a história do criador da agricultura, Houji, que teria sido a pessoa que descobriu a possibilidade de cultivar cereais. A lenda mesmo é com relação à história de origem de Houji: enquanto uns apenas dizem que ele era filho do imperador Ku, outros garantiam que o cara era fruto de uma concepção imaculada de Jiang Yuan, esposa do imperador Ku. Conforme essa segunda versão, o imperador não podia ter filhos.
A concepção imaculada teria acontecido quando Jiang estava passeando pelo campo e, de repente, se deparou com uma pegada gigantesca no chão, deixada pelo deus Shangdi. Curiosa, a moça pisou em cima da pegada e, adivinha só? Engravidou, é claro.
Quando Houji nasceu, Jiang tentou matar o menino três vezes, se surpreendeu com sua capacidade de não morrer e decidiu parar de tentar matá-lo, afinal era óbvio que havia algo de especial com o seu rebento. E aí um dia ele descobriu o cultivo de cereais, e toda a China viveu feliz para sempre.
Os personagens da mitologia grega são bem mais conhecidos e, entre eles, vamos falar do mulherengo Zeus, que era casado com a própria irmã, Hera. Para disfarçar as puladas de cerca, Zeus usava seu poder de se transformar em outras criaturas, disfarçando-se de cisne, touro e águia quando precisava.
Tudo seguia o protocolo da normalidade até que, em um belo dia, o rei Akrisios ouviu a profecia de que seria morto pelo filho de sua filha, Danae. Para se livrar da cilada, o rei trancou a filha em uma torre (mas que mania!); afinal, dessa maneira ela jamais ficaria grávida. Não podemos nos esquecer, no entanto, da existência de Zeus.
Ele até poderia ter se transformado em uma águia, como já era de costume, e voar até o topo da torre; mas, em vez disso, encontrou uma forma bizarra de engravidar Danae: chuva de ouro. Basicamente, ele fez com que ouro derretido caísse do céu, cobrisse a princesa e, como previsto, a engravidasse, pois, como todos sabem, é isso o que acontece com quem toma um banho de chuva de ouro.
Da chuva de ouro nasceu Perseu, e, assim que o rei soube do nascimento do neto, tratou de tomar suas providências e colocou a criança e a mãe em uma arca que os mandou embora, mar afora. Logicamente, os dois sobreviveram a todas as intempéries da viagem e acabaram indo morar em uma ilha, onde Perseu cresceu.
A profecia estava correta, e Perseu, além de matar Medusa e resgatar Andrômeda, acabou matando o próprio avô também, já que, aparentemente, famílias comuns e mitologia grega são coisas que não combinam.
*Publicado em 5/11/2015