Estilo de vida
17/12/2015 às 11:46•3 min de leitura
No ano passado, uma prima veio com uma missão para mim: ser o Papai Noel na casa dela. Eu nunca tinha me imaginado interpretando algo desse tipo – ainda mais para crianças pequenas que necessitam dessa magia do Bom Velhinho trazendo alegria no final de ano. Claro que aceitei, mas por diversas vezes pensei que não iria dar certo.
Primeiro porque eu sou tímido. Falar em público é algo que me incomoda, por mais que sejam pessoas que eu conheça. E segundo: eu precisava interpretar! Mas se tem algo que eu aprendi em mais de 30 anos de existência é que é preciso acreditar na magia do Natal. E deu certo! Diverti as crianças, entreguei os presentes, dei vários conselhos – como comer mais feijão e respeitar os pais, por exemplo – e adorei a experiência.
Só que experiência mesmo tem outro Papai Noel com quem tive o prazer de bater um longo papo algum tempo atrás. Claudio Roldan de Mesquita tem 77 anos, vive em Teresópolis (RJ) e encarna o Bom Velhinho desde 1969! Já são 46 anos dedicados à felicidade das crianças – muitas, inclusive, cresceram e hoje trazem seus filhos e netos para conhecerem o Papai Noel que as encantou há várias décadas.
Claudio Mesquita tem uma história de vida dedicada ao personagem natalino
Tudo começou há mais de setenta anos: Claudio ainda era um garotinho que morava em Porto Alegre (RS) quando encontrou com um Papai Noel e pediu uma bicicleta. E o que ele escutou? “Vá lá no guarda-roupa que você encontra”. Mera decepção... Claudio foi enganado pelo primeiro “Bom Velhinho” que encontrou na vida. No ano seguinte, ele descobriu que o personagem não existia e que seu tio sempre fora o Papai Noel.
Anos depois, em 1969, Claudio foi convidado para estar do lado “de cá” da magia: ele foi chamado por duas amigas para vestir a roupa vermelha e a barba branca do Bom Velhinho e entreter as crianças de um jardim de infância. Claudio deixou a experiência ruim com o personagem no passado e fez tudo aquilo que o Papai Noel deve fazer: animar, ouvir e educar os pequeninos. Sempre com a delicadeza que eles necessitam, é claro.
Quase meio século depois, ele continua investindo na caracterização. A barba, por exemplo, é importada. Fica tão fixa no queixo que não tem como arrancá-la. Ele desafia os infantes que não acreditam a puxarem sua barba: “Se ela sair, eu não sou o Papai Noel”. E o que ele mais ouve depois disso? “Mãããe! Esse é o Papai Noel de verdade!”.
Papai Noel mais antigo do Brasil já encanta crianças há 46 anos
Para as amigas que fizeram ele se tornar o Papai Noel mais antigo em atividade no Brasil, de acordo com o Raking Brasil, Claudio interpretou o personagem até 2007. Ele também está há mais de 20 anos alegrando as crianças que visitam o Shopping Teresópolis no final de ano e não cobra nada pela função: seu lucro vem das fotos que as pessoas tiram com ele.
O que as crianças mais pedem nos últimos anos? Smartphones e tablets, é claro! Roupas, sapatos e brinquedos também estão entre as preferências de seu público. O que Claudio consegue mesmo é distribuir cestas básicas para as pessoas necessitadas, alegrando, ao menos um pouquinho, a ceia de famílias que sofrem o ano todo com a falta de alimentos.
Mas nem tudo são flores. Claudio relembra um pedido que o deixou emocionado há alguns anos. Uma moça, com aparência de uns 20 anos, ficou duas horas olhando para ele, sem coragem de se aproximar. Claudio a chamou e perguntou: “Minha filha, por que você está me olhando tanto?”. Ela respondeu que queria tirar uma foto com ele.
O pedido foi aceito, é claro. A moça estava com um vestido branco, longo e rodado, sentou no chão e arrumou bem sua roupa. O cenário estava perfeito, mas foi nesse momento que ela começou a chorar. “Por que está chorando, minha filha?”, perguntou o Bom Velhinho. “Posso pedir um favor? Você cura o câncer da minha mãe?” Claudio ficou estarrecido e falou que iria rezar por ela. Ele conta que nunca mais teve notícias dessa moça e gostaria de saber que fim ela levou.
Alegria para todas as gerações
Claudio já é um senhor aposentado, tendo sido o primeiro funcionário da Nikon no Brasil, em 1963. Sua esposa também já se aposentou – ela era diretora em um colégio. Agora, ambos possuem uma barraca de pães caseiros em uma feira em Teresópolis. Todo domingo é possível encontrar as delícias que ele prepara com o mesmo carinho que encarna o personagem mais amado nos finais de ano do mundo todo.
O reconhecimento vem também através de presentes. “O que tenho de camisa e par de meias não está no gibi”, brinca. Apesar de ser ele quem encanta as pessoas, Claudio diz que não tem palavras para agradecer o afeto que recebe da população. Seu sonho é continuar interpretando o Papai Noel para sempre. “Mesmo se eu durar 200 anos, serei sempre o Papai Noel”, torce.
Ele também espera um dia conseguir adaptar seu carro para que se pareça com um trenó de verdade – inclusive com renas. Sonhar é permitido e ele sabe muito bem disso. Aos "papais noéis novatos", como eu, Claudio dá a dica principal: “Sempre trate bem as crianças, o resto é consequência”. Pode deixar! Seguirei esse conselho à risca e espero um dia ter uma história tão bonita quanto a dele para contar.
"Sempre trate bem as crianças!"
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