Artes/cultura
08/01/2022 às 12:00•3 min de leitura
Na madrugada do dia 8 para o dia 9 de novembro de 1923, um jovem de ascendência austríaca elaborou um plano arriscado: invadir um comício político que estava sendo realizado na Bürgerbräukeller, uma das maiores cervejarias de Munique, na Alemanha, para chamar a atenção dos indivíduos presentes no local.
Ele se chamava Adolf Hitler, líder do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemão (NSDAP) — que posteriormente ficaria conhecido como Partido Nazista. Com sua arma em mãos, ele falou aos convidados presentes sobre uma "revolução social" que devolveria à Alemanha a uma posição de glória após ter sido humilhada na Primeira Guerra Mundial. Entretanto, esse plano ainda se estenderia por vários anos.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Naquela época, Hitler ainda estava longe de ser uma das figuras mais influentes na Alemanha. Por isso, muitas das pessoas presentes na cervejaria nem conheciam o rapaz de 34 anos, que havia lutado na guerra, saído ferido e, mais tarde, ainda teria tentado se tornar um artista sem sucesso.
Foi inclusive o fracasso no mundo artístico que fez ele trocar o lápis e o pincel por discursos políticos, tornando-o um dos principais oradores do NSDAP desde que ingressou no partido. Seu objetivo era inspirar reação naqueles alemães que se sentiam frustrados com a crise no período entre guerras.
Para Hitler, os governantes haviam traído o país e algo precisava ser feito para recolocar a Alemanha no topo. Por isso, o plano do futuro Führer e seus seguidores naquela noite era invadir o comício, fazer três generais reféns e levá-los para uma sala separada, onde foram convidados a se juntar ao Partido Nazista e ser fieis à causa. A meta final seria derrubar a República de Weimar.
(Fonte: BBC/Reprodução)
Desde a assinatura do Tratado de Versalhes em 1919 como forma de retaliação às ações alemãs na Primeira Guerra Mundial, a Alemanha havia afundado em uma enorme crise. O governo havia concordado em pagar uma série de tributos que não estava conseguindo cumprir, o que acarretou em uma hiperinflação.
Se não bastasse o peso no bolso na população, o exército alemão estava completamente reduzido e incapaz de reagir. Então, Hitler havia se inspirado em Benito Mussolini para transformar tudo ao seu redor. Junto da Sturmabteilung, uma milícia particular formada por ex-soldados, ele pretendia tomar a região da Baviera, da qual Munique era a capital, e marchar para Berlim.
Seu principal alvo era o comissário do Estado da Baviera, Gustav von Kahr, e um importante general da Primeira Guerra Mundial, Erich Ludendorff, que seriam símbolos do golpe. Na história, a noite do dia 8 de novembro de 1923 acabou ficando conhecida como Putsch da Cervejaria, ou simplesmente golpe da cervejaria.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Construída no centro de Munique, Bürgerbräukeller era uma das maiores cervejarias da Alemanha e era constantemente usada como ponto de encontro para eventos políticos — o local tinha capacidade para mais de 3 mil pessoas. Sabendo que existiria um comício na região, Hitler se planejou para invadir a sessão naquela noite.
Seu primeiro ato foi atirar no teto e ameaçar os convidados com violência. Von Kahr e outras duas autoridades da Baviera foram levados para uma sala nos fundos onde foram forçados a mostrar apoio público ao Nazismo por Hitler e o general Ludendorff. Dali, o líder do partido saiu para lidar com o golpe em outras partes da cidade.
Estava planejado que 2 mil nazistas tomariam conta dos prédios do governo e marchariam para Munique no dia seguinte. Hitler havia organizado uma passeata de protesto junto com Ludendorff e sua esperança era que nenhum oficial da Baviera se atrevesse a atirar ou interromper seu plano. No entanto, um confronto armado aconteceu e o Putsch da Cervejaria foi por água abaixo.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Naquela noite, a batalha entre policiais e nazistas deixou 20 pessoas mortas. Hitler conseguiu fugir para a casa de um amigo que morava perto e se escondeu até ser levado para um tribunal, onde foi julgado e condenado. Na cadeia, acabou escrevendo seu clássico Mein Kampf ("Minha Luta") — um símbolo do Partido Nazista.
Embora o Putsch da Cervejaria não tivesse dado certo, ele estava longe de desistir. Anos depois, acabou reorganizando as estruturas do partido e conseguiu levar vários representantes ao Parlamento alemão através de eleições. Foi assim que conseguiu se posicionar como uma figura central na Alemanha e abriu espaço para instaurar sua ditadura. No fim das contas, o golpe encontrou mais sucesso na democracia do que na base da força.