Artes/cultura
12/06/2022 às 12:00•2 min de leitura
No filme A Chegada (2016), uma linguista tem a missão de decifrar a linguagem de alienígenas que vieram à Terra. Seu objetivo é saber se eles representam ou não uma ameaça. Com o tempo, conforme ela passa a compreender a linguagem dos extraterrestres, ela também passa a compreender o tempo de uma maneira diferente, sendo capaz de "ler o futuro".
Mas na vida real, a linguagem é capaz de influenciar na maneira como nós pensamos? A ciência diz que sim. No texto de hoje te contamos o por quê.
(Fonte: Unsplash)
Línguas diferentes expressam ideias bastante distintas, mesmo quando precisam se referir a um mesmo evento. Falar que você precisa ir ao médico, por exemplo, indica se quem irá te atender é um homem ou uma mulher. Porém, para falantes de idiomas que os substantivos não estão muito ligados ao gênero, isso não acontece.
Para algumas comunidades que não estão familiarizadas com a ideia de posse, não é possível expressar uma quantidade específica. Na Amazônia, existem algumas tribos que falam o idioma pirarrã. Nesta língua é possível falar se existem muitos ou poucos peixes, porém eles não têm palavras para expressar quantidade (não é possível dizer, "existem 27 peixes aqui", apenas "existem muitos peixes aqui").
Em outras línguas, como o mian, falado em Papua-Nova Guiné, um verbo indica o tempo que a ação aconteceu (assim como no português). Porém, na Indonésia, a indicação do tempo não está ligada ao verbo nas frases. Apenas essa variação linguística é capaz de afetar a percepção e interpretação do tempo para os falantes.
(Fonte: Lava Bear Films/Reprodução)
Ainda não é possível saber o que vai acontecer apenas aprendendo uma nova língua. Porém, para falantes de determinados idiomas, a maneira como se pensa em futuro e passado pode variar. Um exemplo bastante conhecido pela ciência é o de falantes que leem da esquerda para a direita (como é o nosso caso) e daqueles que leem da direita para a esquerda, que interpretam o futuro nestes sentidos, respectivamente.
Porém, estas não são as únicas maneiras de se ler o tempo. Um exemplo particularmente interessante é o dos falantes de kuuk thaayorre, língua do povo Thaayorr. Eles vivem em um assentamento na Austrália, e sua linguagem está muito ligada às coordenadas geográficas. Ao invés de falar que algo está a sua direita, eles falam que aquilo está a sul ou sudeste.
Em um estudo realizado por pesquisadores da universidade da Califórnia, foi feito um experimento com os três grupos de pessoas (falantes de inglês, hebraico e kuuk thaayorre). Eles deveriam organizar fotos que mostravam progressões temporais (como o envelhecimento de um homem, por exemplo).
Nos dois primeiros casos, as fotos eram colocadas da esquerda para a direita e da direita para a esquerda, respectivamente. Mas quando era um falante de kuuk thaayorre que deveria organizar as imagens, eles sempre as colocavam de leste para oeste. Quando estavam de frente para o sul, as cartas eras colocadas da esquerda para a direita. Quando estavam de frente para o leste, as cartas vinham na direção do corpo. Isso acontecia em todas as direções, embora eles nunca fossem avisados de para qual lado estavam virados durante o teste.