Por que uma socialite resolveu atacar uma criança de 4 anos?

Seres humanos são animais complicados que gostam de se dividir em grupos e, uma vez posicionados de um lado, atacar o lado oposto. É essa tensão entre um grupo e outro que faz com que a vontade de duelar seja despertada muitas vezes, e aí surgem conflitos entre indivíduos de religiões, orientações sexuais, cores de pele diferentes.

Sim, somos animais briguentos, mas estamos também em um ponto bastante civilizado da nossa evolução, e o fato de sermos animais não justifica alguns atos ofensivos e violentos com a desculpa de que eles foram “instintivos”. Se nos controlamos para não fazer nossas necessidades no meio da rua (quer algo mais instintivo que xixi e cocô?), podemos controlar também o nosso ódio e a nossa vontade de destruição – quiçá, com um pouco de empatia e de inteligência, podemos inclusive entender alguns conceitos que não são dignos do nosso ódio (a cor da pele de uma pessoa, por exemplo).

Há alguns dias, só se fala no vídeo que a “socialite” Day McCarthy fez para falar sobre a pequena Titi, filha de Giovanna Ewbank e Bruno Gagliasso.

Titi tem 4 anos de idade e nasceu no Malawi, sul da África. Adotada pelo casal, ela vem sendo alvo de racismo há algum tempo. Dessa vez, a socialite brasileira que vive no Canadá resolveu ofender Titi com adjetivos totalmente racistas. Adulta, supostamente dona de uma vida cheia de glamour e vivendo em outro país, qual deve ter sido o propósito dessa mulher em ofender uma criança inocente e indefesa?

Discutir com alguém do seu tamanho e que tem condições de responder à altura é direito de qualquer um, mas atacar uma criança que não fez absolutamente nada, simplesmente pelo fato de ser negra é, no mínimo, cruel e irracional.

Ewbank e Gagliasso denunciaram o vídeo publicado por Day McCarthy, a socialite que não vem acompanhada da elegância que geralmente se atribui a esse título. Ao contrário de Dayane Alcantara Couto de Andrade, que diz ser escritora e escrever para “inspirar a felicidade de outras pessoas”, as leis brasileiras já estão mais evoluídas e consideram racismo crime, com pena de até 3 anos de reclusão.

Possivelmente a cadeia não será o destino da socialite que gasta seu tempo precioso de vida ofendendo pessoas felizes que nem sabem de sua existência, mas a situação, ainda que triste, abre portas ao debate sobre racismo neste mundo desenvolvido à base de trabalho escravo.

Para Dayane, os atores caucasianos não podem se considerar pais de uma garotinha negra, e essa foi outra afirmação que, feita por ela, nos mostra mais a linha de raciocínio da pessoa sobre a qual estamos falando.

Em 2017, é sempre bom lembrar que a internet não é um território de liberdade plena para quem quer destilar ódio, preconceito, racismo. Um perfil em alguma rede social não é o que basta para que se possa perturbar a vida de quem quer que seja, famoso ou não. Nossa legislação continua a se adaptar para crimes cometidos atrás de um monitor ou da câmera de um celular, e isso é sempre muito bom.

Titi é uma garota que, como tantas outras crianças, vai crescer ouvindo barbaridades ao longo de sua vida, simplesmente por causa da cor de sua pele. Felizmente, ela tem uma mãe e um pai dispostos a defendê-la e a mostrar para ela que o racismo de pessoas como Dayane não a define.

Daqui a alguns anos, se fizer uma pesquisa sobre sua vida na internet, Titi talvez se depare com esse episódio infeliz, mas talvez, lá para frente, as coisas tenham melhorado um pouco.

Talvez Titi cresça em um mundo mais consciente e menos covarde, talvez essas discussões todas acabem criando gerações menos separatistas e mais conscientes. Tomara que seja assim, porque não dá para tolerar as coisas do jeito que estão, não.

Em tempo, se você for vítima ou presenciar algum caso de racismo, faça como os pais de Titi e denuncie.