Estilo de vida
15/07/2018 às 06:00•2 min de leitura
Com o aumento da divulgação de causas que pregam igualdade entre gêneros, poucos acessórios utilizados atualmente podem ser considerados característicos de um deles. O salto alto, no entanto, pode ser apontado como uma dessas exceções, pois em geral é assimilado como uma peça de vestuário feminino em qualquer lugar do mundo.
Apesar disso, as coisas nem sempre foram assim. Por mais incrível que pareça, o uso desse tipo de calçado começou no século 15 — e somente por homens.
Na Europa, houve uma época em que o uso desse tipo de calçado estava associado à nobreza, mas o surgimento dele na região se deu por meio dos persas. Eles estavam em guerra contra o Império Otomano, e um comboio de diplomatas, em 1599, passou por várias das principais cidades europeias em busca de apoio militar.
A empreitada teve início em Moscou e terminou em Lisboa, e por onde eles passavam os sapatos de salto chamavam a atenção. Ao contrário do que acontece hoje, eles utilizavam o calçado por motivos práticos: o espaço criado pelo salto, entre o antepé e o calcanhar, fazia com que, ao subirem em seus cavalos, fosse possível travá-lo no estribo, proporcionando uma cavalgada mais confortável.
Após essa exposição não intencional da novidade por toda a Europa, uma coincidência fez com que o acessório ganhasse status de nobreza. Na época, o rei da França, Luís XIV, estava fascinado pela cultura Persa e, ao mesmo tempo, não era um dos homens mais altos do mundo. Com 1,63 metro, portanto menor que a média da época, ele mandou confeccionar um sapato com salto de 10 centímetros, amenizando o problema que o atormentava.
Como rei de uma grande potência europeia, ele sentiu a necessidade de se distinguir cada vez mais. Em um retrato, feito em 1701, Luís XIV está com um par de sapatos com os saltos altos pintados de vermelho, os quais ele decretou que só poderiam ser utilizados por quem ele pudesse ver. Isso tornou o calçado um símbolo de status; afinal, se você usasse saltos altos, significaria que antes esteve em um lugar próximo ao rei.
A mudança teve início quando calçados passaram a se tornar populares na Europa. No mesmo período, as mulheres começaram a lutar por seus direitos, exigindo igualdade em todos os aspectos. Isso fez com que elas preferissem vestuário e comportamentos semelhantes aos dos homens: usavam ombreiras, fumavam, utilizavam cortes de cabelo mais curtos e, obviamente, os sapatos de salto alto. Pois é! Hoje pode parecer confuso, mas na prática elas adotaram o salto alto para parecerem mais masculinas.
Mesmo assim, existiam diferenças, pois saltos masculinos eram sempre largos, enquanto os femininos se mostravam bem mais finos. Não existe uma data específica, mas, em algum ponto na virada do século 19, os homens abandonaram os saltos em seus sapatos. Além disso, foi nessa época que as roupas masculinas deixaram de ser coloridas e chamativas, passando ao padrão que conhecemos até hoje, com terno e gravata sempre em cores sóbrias, quase como um uniforme.
Os saltos em sapatos masculinos, atualmente, nem podem ser caracterizados como tais. A exceção fica com quem trabalha com cavalos, pois a ideia dos persas foi algo muito bem pensado e continua sendo utilizado até hoje.
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