Ciência
24/01/2018 às 03:00•2 min de leitura
Hoje em dia, um dos assuntos mais em voga (e mais polêmico) é a questão dos direitos dos homossexuais. Muita gente critica dizendo que essa é uma luta recente, sem saber que ela está em pauta há muito tempo: desde o século 19 existem movimentos que lutam pela igualdade de tratamento, independente da sexualidade da pessoa. Porém, foi só na Primeira Guerra Mundial que esses movimentos ganharam o contorno que possuem hoje em dia.
Ao menos é isso que relata a historiadora Laurie Marhoefer: em uma ampla pesquisa, ela mostra como soldados homossexuais, principalmente da Alemanha, uniram as forças para lutar publicamente por seus direitos após o fim do conflito armado.
Laurie Marhoefer publicou as descobertas em um livro
Analisando diversos registros históricos, Laurie chegou ao de um soldado alemão anônimo que morreu em solo soviético. O combatente foi atingido por estilhaços, principalmente na parte inferior do corpo, e foi salvo por colegas que conseguiram salvá-lo da trincheira bombardeada. Enquanto buscava uma recuperação, ele escrevia cartas ao namorado, solicitando jornais para passar o tempo e, principalmente, alguma palavra de conforto.
Infelizmente, ninguém pode ajudar esse soldado e ele morreu na completa solidão, sem uma resposta de seu parceiro. Não que não tenha ocorrido: o namorado, identificado nos registros apenas como “S.”, escrevera várias cartas, mas elas se perderam no caminho até o amado.
S. condenava o conflito e escreveu uma carta contando sua história (e a do namorado) ao Comitê Científico Humanitário – o principal grupo em favor dos direitos dos homossexuais naquela época. Esse comitê publicou a carta de S. em abril de 1916, dando visibilidade a uma história que tinha tudo para ficar completamente esquecida.
Na Segunda Guerra Mundial, os homossexuais também estavam na mira dos nazistas
Além de relatar a história acima, a pesquisadora Laurie Marhoefer foi atrás para saber no que a carta de S. impactou no direito dos homossexuais. Na escrita, o rapaz lamenta que apesar de seu amado estar lutando pela pátria, a própria pátria o tratava como escória. Os homossexuais dessa época eram desligados do trabalho, sofriam ostracismo social e se descobertos podiam até sofrer chantagens, já que muitos preferiam viver no anonimato, mesmo para a família ou amigos próximos.
Assim, de acordo com S., era deplorável que bons cidadãos como o seu namorado fossem tratados como párias. Ao final da Primeira Guerra Mundial, muitos soldados tiveram conhecimento da carta de S. e acabaram endossando suas reclamações. Eles então fundaram a Liga dos Direitos Humanos, com mais de 100 mil membros! Para você ter uma ideia, na época, o Comitê Científico Humanitário contava com apenas 100 pessoas.
Outra coisa que mudou foi a forma como os gays pediam por igualdade: antes do conflito, eles tentavam provar que a homossexualidade era natural e comprovada pela ciência; após a guerra, eles mudaram o argumento dizendo que não importava o que a biologia dizia, já que eles estavam dispostos a tudo pela pátria e exigiam que a pátria também estivesse pronta para lutar pelos direitos deles.
Parada gay da Filadélfia (EUA), em 1972
Ainda que hoje em dia muitos busquem a ciência para tentar explicar a homossexualidade – seria uma questão de DNA? –, muitos desses movimentos pedem que os governos apenas reconheçam os direitos dos gays como cidadãos iguais a todos os outros.
Outros grupos lutam até hoje para que as forças armadas também reconheçam as pessoas homoafetivas como capazes de integrar suas corporações. Entretanto, muitos lugares consideram isso uma perversão e ainda expulsam soldados se descobrirem que eles não são heterossexuais.
Os reflexos ainda estão sendo sentidos até hoje: os Estados Unidos, por exemplo, só derrubou a lei que considerava a homossexualidade como sodomia em 2003. Já o casamento legal acontece em pouco mais de 20 países. Ou seja, apesar de os avanços estarem acontecendo, ainda existe muito a ser conquistado apenas para os gays serem iguais ao resto da população.
O Brasil é um dos poucos países do mundo a reconhecer a união homoafetiva
*Publicado em 23/5/2017