Ciência
29/05/2017 às 05:32•2 min de leitura
A Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa tem algo bizarro em exposição, e estamos falando basicamente da cabeça de um homem chamado Diogo Alves, que foi morto em 1841.
A cabeça amarelada e conservada em um vidro, como se fosse um animal qualquer, mostra o semblante de Alves, que está de olhos abertos e parece assustadoramente tranquilo.
Para os médicos, professores e alunos que vivem no local, a cabeça é só mais um item cotidiano, mas, para quem visita a instituição, é impossível passar por Diogo Alves com indiferença, até mesmo porque o cara é reconhecido como o primeiro assassino em série de Portugal e o último criminoso a ser condenado por enforcamento no país.
Alves nasceu em Galiza, em 1810, e se mudou para Lisboa ainda jovem, à procura de trabalho. Foi jovem também que ele acabou achando a vida do crime bem mais interessante. Esperto, ele costumava assaltar fazendeiros humildes que iam até o centro de Lisboa vender seus produtos. Basicamente, Alves esperava o fim do dia e roubava todo o dinheiro que esses fazendeiros tinham arrecadado. Em seguida, matava suas vítimas e atirava seus corpos no Aqueduto das Águas Livres.
A polícia acreditava estar diante de uma onda de suicídios e acabou não investigando as cerca de 70 pessoas mortas pelo criminoso. Para os investigadores da época, não fazia sentido que um assassino tivesse interesse apenas em vendedores pobres.
Não se sabe ao certo o motivo que fez com que Alves deixasse de matar pessoas e jogá-las no Aqueduto, mas, quando parou com essa estratégia criminal, ele formou uma gangue e, com a ajuda de outros ladrões, passou a invadir residências particulares. Seus dias de criminalidade acabaram depois de ele ser preso por invadir a casa de um médico e matar todos os moradores, em fevereiro de 1841.
A partir de sua prisão e de sua condenação é que surgem alguns pontos da história de Alves que não batem muito bem com o que aconteceu de verdade. Há dados históricos que mostram, por exemplo, que mais seis pessoas foram condenadas à forca em Portugal depois dele, entre os anos de 1842 e 1845 – o país não pratica mais a pena de morte desde 1867.
Outro ponto que parece ter sido criado para gerar curiosidade sobre a cabeça do criminoso é o fato de que ele não foi o primeiro assassino em série do país – esse título pertence, na verdade, a Luísa de Jesus, de Coimbra, que matou 28 recém-nascidos e foi enforcada em 1772.
O fato é que, apesar dos furos na história lendária desse assassino, não importa quem foi mesmo o primeiro serial killer do país ou a última pessoa a morrer na forca – a cabeça em exposição é a de Alves.
A cabeça do criminoso foi preservada por causa dos estudos sobre frenologia, que foram introduzidos pelo médico alemão Franz Joseph Gall nos anos de 1700. Vista como pseudociência atualmente, a frenologia buscava estudar partes do cérebro que julgava ter relações com os traços da personalidade de uma pessoa – essa área de pesquisa acreditava, por exemplo, que a cabeça de uma pessoa criminosa tinha nódulos cerebrais que poderiam ser apalpados.
Foi com a intenção de estudar a cabeça de uma pessoa que teve um grande histórico criminal que os médicos conservaram essa parte do corpo de Alves. Não se sabe ao certo se pesquisas frenológicas foram, de fato, realizadas no cérebro do criminoso – outra cabeça, a de Francisco Mattos Lobo, contemporâneo de Alves e morto por matar quatro pessoas e um cachorro, foi motivo de estudo e está preservada na mesma universidade, embora não receba tantas visitas como a de Alves.
O assassino em série português é tão famoso que sua vida criminosa inspirou um livro em quadrinhos, uma biografia, uma história de ficção e o filme mudo “Os Crimes de Diogo Alves”, de 1911.
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