Ciência
07/06/2017 às 03:00•4 min de leitura
Quando você pensa em chocolate, qual é a primeira imagem — apetitosa — que vem à sua mente: a de uma caixa de bombons ou a de uma bebida amarga e apimentada? Pois, apesar de a maioria das pessoas associarem essa deliciosa iguaria com produtos como barras e ovos de Páscoa, a verdade é que, durante cerca de 90% de sua existência, o chocolate foi exclusivamente servido como bebida. Que tal saber mais sobre a história desse alimento?
O nome científico da planta, Theobroma cacao, significa “alimento dos deuses” em latim, e muitos etimologistas acreditam que o vocábulo “chocolate” deve sua origem à palavra asteca xocoatl que, por sua vez, era usada para dar nome a uma bebida amarga feita à base dos frutos do cacaueiro.
No entanto, embora os historiadores acreditem que o chocolate — de uma forma ou outra — tenha começado a ser consumido há pelo menos 2 mil anos, existem evidências arqueológicas que sugerem que ele pode estar por aí há muito mais tempo. Pesquisadores descobriram referências linguísticas que indicam que o chocolate já era consumido há 3 ou 4 mil anos por culturas pré-colombianas, como os olmecas.
Além disso, um grupo de antropólogos descobriu em Honduras resíduos de cacau em cerâmicas datadas de 1.400 a.C. A polpa, na época, possivelmente era fermentada para produzir uma bebida alcoólica. E existem registros de que durante vários séculos o fruto era utilizado como moeda de troca, sem falar que tanto os maias como os astecas acreditavam que o cacau possuía propriedades divinas e o usavam em inúmeros rituais.
Apesar de tudo o que se sabe sobre o cacau, ninguém consegue estabelecer com precisão quando é que ele começou a ser consumido. Afinal, olhe com atenção para o fruto da imagem acima... Quem quer que tenha descoberto suas propriedades, teve que ser extremamente criativo — ou estar muito faminto — para criar algo com ele, pois, em seu estado natural, o fruto não tem absolutamente nada a ver com os alimentos que conhecemos feitos à base de cacau!
Uma das teorias mais populares é a que a descoberta de que o cacau era comestível teria sido feita pelos olmecas — que teriam observado roedores petiscando os frutos avidamente. E, a partir daí, esses povos passaram a torrar e moer as sementes e a misturar o pó com água, especiarias, ervas e pimenta. Também teriam sido os olmecas os responsáveis por começar a cultivar o cacau, processo que, mais tarde, foi melhorado pelos maias e pelos astecas.
O chocolate adocicado só foi aparecer graças aos europeus que “descobriram” a América — e começaram a ter contato com a cultura local e a provar suas especialidades. Uma das lendas diz que o conquistador Hernán Cortés teria sido recebido por Moctezuma com um banquete regado a chocolate — e que o governante teria pensado que o espanhol era uma divindade reencarnada. E você sabe o que aconteceu por conta dessa trágica confusão, não é mesmo?
Outra anedota interessante é a de que Cristóvão Colombo teria sido um dos primeiros a levar a bebida para o Velho Continente, que era chamada pelos nativos de kabkajatl. Contudo, como os espanhóis tinham dificuldade para pronunciar a palavra, eles começaram a chamá-la de cacauatl. Acontece que a bebida amarga e apimentada não agradou muito ao paladar dos conquistadores, e eles passaram a prepará-la com leite e açúcar ou mel e a tomá-la quente.
Com essa modificação na “receita” original veio também uma nova alteração no nome, e o cacauatl passou a ser chamado chacauhaa — chacau significava quente, e haa, bebida — que, mais tarde, acabou dando origem à palavra chocolate. O fato é que não demorou até que a bebida quente se tornasse extremamente popular na Espanha e, em meados do século 17, ela já havia se espalhado por toda a Europa.
O chocolate em pó foi inventado por um químico holandês em 1828, que descobriu uma forma de remover cerca da metade da gordura natural — ou a manteiga de cacau — do chocolate, além de desenvolver o tratamento alcalino que resultou em uma redução do sabor amargo e na maior solubilidade do produto. Esse processo também acabou dando origem à criação do chocolate sólido.
Já a criação da primeira barra é creditada a Joseph Storrs Fry, que, em 1847, descobriu que era possível produzir uma massa moldável ao adicionar manteiga de cacau derretida ao chocolate em pó. Aliás, por volta de 1866, a companhia de Fry — a J. S. Fry & Sons — começou a produção em massa de barras de chocolate na Inglaterra e, após uma fusão em 1919, ela se tornou uma divisão da Cadbury, que comercializava caixas de bombons no país desde 1868.
A variedade ao leite surgiu alguns anos mais tarde, graças à Nestlé, e no século 20 inúmeras guloseimas — contendo mais açúcar e outros aditivos — já haviam sido inventadas. E foi a partir daí que o mundo inteiro finalmente se rendeu ao consumo do chocolate.
O primeiro achocolatado em pó a ser comercializado no Brasil foi o Nescau, em 1932. O produto foi completamente desenvolvido no nosso país pela Nestlé e se transformou em um verdadeiro sucesso desde o seu lançamento. Tanto que até hoje ele permanece como um dos principais líderes do mercado nacional em seu segmento.
Quando foi lançado por aqui, originalmente o achocolatado foi batizado de “Nescáo” — de Nestlé + cacáo, que era como a palavra era grafada na época —, e o produto estava focado nas mães preocupadas com a alimentação dos filhos. O nome só foi alterado para a forma atual em 1954 e, na década de 70, o Nescau ganhou o inconfundível slogan “energia que dá gosto”.
De lá para cá, o achocolatado se transformou em marca, e tanto o logo como as embalagens passaram por várias modificações ao longo dos anos, com o objetivo de aproximá-lo mais do público jovem. Além disso, a Nestlé também desenvolveu outros tantos produtos que levam a marca Nescau, como é o caso de bebidas lácteas, biscoitos recheados, barras de chocolate, cereais matinais etc.
No entanto, as barras de chocolate chegaram um pouquinho antes, graças aos imigrantes europeus que vieram para o Brasil e começaram a fundar as primeiras fábricas de chocolate por aqui. A primeira delas foi a Neugebauer, construída por imigrantes alemães no Rio Grande do Sul, em 1891.
*Publicado em 25/06/2015
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