Conheça o caso do médico que queria usar testículos de macaco em humanos

27/10/2015 às 10:383 min de leitura

Não é de hoje que os cientistas tentam encontrar formas de prolongar a vida humana, e com frequência vemos notícias a respeito de avanços importantes nessa área. No entanto, de acordo com Eric Grundhauser, do portal Atlas Obscura, um médico chamado Serge Voronoff propôs uma forma bem inusitada para lidar com essa questão no início do século 20.

Segundo Eric, Voronoff defendia que, para desacelerar o processo de envelhecimento — ou inclusive freá-lo completamente —, bastava transplantar testículos de macaco em seus pacientes. O mais intrigante é que, embora a proposta do médico fosse pra lá de bizarra, ele não era maluco (no sentido literal da palavra) e contava um excelente nível de educação.

Tutela de respeito

Conforme contou Eric, Serge Voronoff nasceu na Rússia — você deve ter deduzido isso pelo nome! —, mas se mudou para a França aos 18 anos. Lá ele estudou sob a tutela de Alexis Carrel, um pioneiro na área da cirurgia e dos transplantes que inclusive recebeu um Nobel por seu trabalho sobre suturas de vasos sanguíneos.

Foi durante seus estudos com Carrel que Voronoff começou a desenvolver a ideia de realizar transplantes entre animais e humanos. O propósito com os procedimentos era tratar todo tipo de problema de saúde e promover a recuperação do vigor da juventude, e o russo acreditava que isso era possível por meio da transferência de hormônios de bichos para homens.

Desenvolvimento da teoria

Enquanto desenvolvia sua teoria, Voronoff trabalhou em parceria com um psicólogo experimental chamado Charles-Édouard Brown-Séquard, e esse cara também tinha interesse no emprego de glândulas de animais para frear o processo de envelhecimento. Aliás, segundo Eric, não demorou até que Brown-Séquard começasse a injetar em seu próprio corpo uma substância criada a partir do material coletado em testículos de cães e porquinhos-da-índia!

Contudo, a “poção” criada por Brown-Séquard não apresentou os resultados esperados, e foi esse pequeno fracasso que levou Voronoff a se convencer de que, para que fosse possível tirar proveito dos hormônios dos animais, a única opção viável era o transplante de tecidos.

Foi então que o russo passou mais de 10 anos no Egito conduzindo estudos com eunucos — que, segundo dizia, tinham problemas de memória, baixa inteligência, apresentavam movimentos letárgicos e pouco vigor muscular por conta da ausência de testículos. E depois de concluir suas pesquisas, Voronoff voltou à França para iniciar seus experimentos com animais.

Estudos clínicos

No início, os procedimentos envolviam apenas o transplante de ossos, tecidos e órgãos entre bichinhos de espécies diferentes. Mas logo o médico começou a implantar os testículos de animais mais jovens nos mais velhos com o objetivo melhorar seu desempenho. E foi a partir daí que surgiu a ideia de combinar primatas e humanos, já que, para o russo, graças às semelhanças biológicas e à constituição corporal, os macacos eram os nossos doadores ideais.

O primeiro caso apresentado foi o de um menino de 14 anos — com capacidade intelectual comprometida — que recebeu a tireoide de um chimpanzé em 1915, e Voronoff afirmou que o procedimento fez com que o garoto recuperasse suas faculdades mentais em apenas um ano. Veja a imagem a seguir:

Mais tarde, o russo resolveu voltar sua atenção aos testículos de macaco e até publicou um livro no qual alegava que as glândulas sexuais dos animais liberavam na corrente sanguínea dos humanos uma espécie de fluido vital capaz de estimular a atividade cerebral e aumentar a energia muscular e o vigor sexual.

Em outras palavras, o médico acreditava que o transplante de pedacinhos de testículo de primata nos escrotos de homens funcionava como um Viagra de ação contínua! O primeiro transplante desse tipo ocorreu em 1920, e o paciente é esse que você pode ver na imagem abaixo:

O mais incrível — ou previsível, você decide! — é que os transplantes se tornaram muito populares, e Voronoff chegou a apresentar o procedimento em um congresso internacional de medicina em Londres. O russo estava convencido de que sua técnica revolucionária podia reverter o envelhecimento e, até meados de 1920, mais de 300 pessoas haviam se submetido ao tratamento, incluindo uma mulher que recebeu o tecido do ovário de uma macaca.

Declínio

Segundo Eric, com o aumento da demanda pelos transplantes milagrosos, Voronoff começou a ter ideias cada vez mais ambiciosas com respeito ao procedimento que ele havia criado. O médico queria utilizar amostras dos testículos de criminosos condenados à morte para ver se parte de sua “maldade” era transferida ao recipiente do material, e tentou transplantar o ovário de uma mulher em uma primata.

Voronoff inclusive pretendia engravidar a macaca utilizando esperma humano, mas o experimento não deu certo. E como se fosse pouco, o russo dava a entender que o tratamento com as glândulas dos primatas podia resultar na imortalidade humana. Mas, com o passar do tempo, seus pacientes — segundo o próprio médico, foram mais de mil — continuaram envelhecendo normalmente, e os benefícios que ele prometia também não se concretizavam.

Além disso, alguns pacientes começaram a reclamar que eles haviam começado a apresentar certos comportamentos dos primatas, e foi uma questão de tempo até que o ceticismo reinasse sobre o procedimento. Por fim, em 1935, a testosterona foi descoberta e isolada, e depois que sua finalidade foi mais bem explorada pelos cientistas, Voronoff acabou perdendo toda a credibilidade como pesquisador.

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