Artes/cultura
06/11/2014 às 12:05•7 min de leitura
Desde pequenos, ouvimos de nossas mães: “Não vá para rua, senão o homem do saco vai te pegar”. Depois, quando estamos mais grandinhos, é a vez dos filmes de terror mostrarem monstros, caveiras e zumbis para atormentar nossos pesadelos.
O problema é que essas criaturas fantásticas se tornaram muito “mainstream” e meio que “perderam o respeito” no universo imaginário. Depois de vampiros bonzinhos que brilham no sol e mortos-vivos apaixonados, Hollywood fez com que os monstros deixassem de transmitir medo e se tornassem alvo de chacota.
Para provar que nem tudo está perdido, nós reunimos as 13 criaturas folclóricas menos conhecidas, mas que ainda são capazes de espalhar o terror no coração das pessoas.
O Bal-bal é um monstro filipino que se alimenta à base de mortos. Na calada da noite, ele sorrateiramente adentra as catacumbas e até mesmo os funerais para roubar e devorar os corpos. Esse monstro não é só nojento, como também é muito traiçoeiro, pois, após comer o defunto, coloca um tronco de bananeira no caixão para parecer que o defunto ainda está intacto.
Como possui um olfato melhor do que o dos cães, ele consegue sentir o cheiro de um morto a distância. Além disso, seu hálito é podre. Visualmente, o monstro parece com um pássaro noturno, que possui um canto muito distinto e que pode ser ouvido muito bem na calada da noite.
A tribo Tigbabau, das Filipinas, acredita que o Bal-bal pode assumir a forma humana, com língua de réptil e unhas monstruosas. Eles voam e pousam na casa das pessoas em que alguém morreu, retirando pedaços do teto com as garras e usando suas línguas para “lamber” ou roubar os cadáveres.
O Bal-bal também é associado com outras criaturas folclóricas, tais como o Assuang, Amalanhig e também os Busaw, pois todos eles se alimentam de cadáveres. Algumas pessoas dizem que o monstro possui o poder de hipnotizar os parentes e amigos que estão em um funeral, pois só assim podem desfrutar de uma bela refeição
Antigamente, o povo filipino costumava cantar e gritar em enterros para afastar os Bal-bals e evitar que eles roubassem seus amados.
Entre todos os lugares inóspitos e remotos da face da Terra, o deserto de Gobi talvez seja um dos mais secretos e perigosos. Nele, a temperatura varia entre o frio da Antártica e o calor do nordeste brasileiro, os ventos sopram o solo a 145 k/h e vermes gigantes cuspidores de ácido espreitam viajantes desavisados – ou quase isso.
De acordo com os criptozoologistas, o deserto é o lar do Verme da Mongólia Assassino. Uma criatura que mede mais de 150 cm e que pode cuspir ácido corrosivo e disparar descargas elétricas. Dizem que o seu veneno é capaz de derreter o mais poderoso dos metais e só de tocar em sua pele é o suficiente para matar.
Em 1922, o primeiro ministro da Mongólia disse que viu um e o descreveu como uma “salsicha com cerca de 60 cm” – aposto que nessa hora ninguém riu.
O Mãos-peludas é um mostro que ataca apenas uma estrada curta em Dartmoor, na Inglaterra. Como o próprio nome sugere, ele é um par de mãos sem corpo que mata enforcados motoristas e pensionistas. Nas histórias mais tradicionais, o bicho agarra o volante dos carros e os forçam para fora das estradas, porém as mais assustadoras dizem que ele aparece à noite e bate na janela dos carros que estiverem no acostamento.
Diferente dos outros fantasmas, o Mãos-peludas não possui nenhum motivo para tentar matar suas vítimas – ele apenas quer que você e seus parentes morram.
Se você pensou no dragão gigante de Final Fantasy... Errou feio. Na verdade, essa criatura assume a forma de um peixe, mas não de qualquer um. O antigo historiador Ibn al-Wardi afirma que ele se situa na base de uma gigantesca pirâmide de bois, anjos, montanha e rubis – sobre tudo isso fica a Terra.
O superpeixe é tão grande que despejar todo o oceano em uma de suas narinas seria como derrubar uma semente de mostarda no deserto. Basicamente, o animal é um protótipo de tudo o que H.P. Lovecraft mais temia – um monstrengo cego e indiferente que nos leva em um passeio eterno na escuridão de outros bilhões de universos sem sentido.
Os Lichs são criaturas mitológicas muito raras, que nada mais são do que “corpos” desencarnados. O que os diferencia de um fantasma é que eles são entidades físicas. A criatura ganhou notoriedade quando o jogo Dungeons & Dragons a utilizou como um personagem morto-vivo.
Um Lich é o corpo de um feiticeiro morto que, por meio de um ritual macabro, adquiriu a imortalidade. Mais especificamente, o mago pode salvar sua alma dentro de um objeto conhecido como “filacteria” – é só lembrar das horcruxes de Harry Potter para entender.
Algumas pessoas confundem os Lichs com zumbis. Porém, diferentemente dos mortos-vivos, eles não se alimentam de humanos e possuem todas as funções cerebrais intactas. Em geral, eles são representados como caveiras e costumam controlar outras criaturas fantásticas, como soldados ou servos.
Essa espécie de cão demoníaco aparece à noite somente para aqueles que devem morrer em breve – Sirius Black, de Harry Potter, poderia ser um desses bichos. A antiga lenda britânica defende que o monstro é mais um presságio de morte do que o causador dela. Entretanto, alguns dizem que eles ficam à espreita nos becos escuros esperando aqueles que vagueiam sozinhos.
Como é dito em “O Livro dos Seres Imaginários”, do escritor argentino Jorge Luis Borges, a história da Fauna do Espelho é menos assustadora do que incrível. A lenda chinesa diz que o objeto costumava ser um portal para universos alternativos.
Por alguma razão desconhecida, o povo do espelho decidiu atacar nossa realidade, levando os mundos a uma terrível batalha. Após um período de guerra longo e sanguinolento, o Imperador Amarelo (Huang Di) conseguiu expulsar os invasores de volta para o espelho, selando o portal e os punindo a repetirem seus feitos por toda a eternidade.
Nas palavras de Borges: “Um dia, entretanto, eles (o povo do espelho) escaparão da letargia mágica. O primeiro a despertar deve ser o Peixe. Nas profundezas do espelho, nós perceberemos uma linha muito tênue de uma cor que não lembra nenhuma das outras. Depois, vão despertando as outras formas. Romperão as barreiras de vidro ou de metal e desta vez não serão vencidas. Junto às criaturas dos espelhos combaterão as da água".
Essa é uma criatura única e completamente corpórea. Assim como um zumbi, esses seres se levantam das tumbas, porém com um propósito: concluir assuntos inacabados. Em geral, elas são identificadas como vítimas de suicídio, assassinato ou o próprio assassino. Os Gjengangers caçam seus entes queridos em vida para que possam ter alguma companhia na morte e cumprir suas missões na Terra.
Originalmente, essa é uma lenda viking. Diferente da maioria dos fantasmas, esses não só assustam como também espalham pragas e doenças. Seu poder especial é conhecido como “dødningeknip”, o que significa “beliscão dos mortos”. Pode parecer engraçado, mas o resultado faz com que a pele da vítima se torne roxa e infectada, espalhando o hematoma rapidamente por todo o corpo. Geralmente, eles atacam à noite.
O medo dos Gjenganger já foi tão real que as pessoas tomavam medidas preventivas para que eles não aparecessem. Os caixões eram levados por cima dos muros das igrejas, em vez de usarem os portões. Depois, eles eram carregados três vezes ao redor do lugar sagrado. Quaisquer pás que tenham sido usadas para cavar o túmulo deveriam ser deixadas intocadas sobre a cova, formando o sinal da cruz.
Além disso, uma pilha de galhos e pedras era deixada no local em que a pessoa morreu. As pessoas também costumavam desenhar símbolos sagrados, fazer orações e marcarem os caixões por dentro, tudo isso para evitar que o cadáver se transformasse em um Gjenganger.
Bakhtak é a palavra persa para “pesadelo”. Se você já sofreu com sonhos terríveis e acordou com um peso muito grande no peito – sem poder se mover ou respirar –, então já foi vítima de um mostrengo desses. Eles se sentam no peito das pessoas enquanto elas dormem, visando assim sufocá-las até a morte. Essas criaturas são descritas como goblins.
Quando a ciência não estava lá para explicar os horrores da noite, as vítimas que sofriam com pesadelos acreditavam terem ouvidos passos leves no quarto, sentirem um cheiro repugnante e, ao semicerrarem os olhos, terem visto um pequeno anão em cima do peito. A criatura é semelhante à Old Hag do folclore britânico e à Mara da Escandinávia – ambas as bruxas eram conhecidas por causarem paralisia do sono.
Abura-Akago – que literalmente significa “Óleo de Bebê” – é um espirito infantil que sobrevoa as lâmpadas em busca de óleo. A lenda diz que ele era um vendedor desse produto que roubou o líquido de uma “lâmpada Andon” (típica luminária japonesa) localizada na estátua sagrada de Ksitigarbha. Após sua morte, os deuses decidiram puni-lo e torná-lo um fantasma de fogo. Mais tarde, esse espírito se transformou em uma criança que se alimenta de óleo.
Acredita-se que esses espíritos traquinas assumem a forma de bebês, lambem o óleo das lâmpadas andon e fogem. Portanto, as criaturas vagam pelo Japão em busca de locais que utilizam lamparinas em vez de eletricidade.
Essa é uma figura conhecida no folclore mundial. Representada como o espírito de uma mulher que matou o próprio filho, tanto o México quanto o Brasil, a Inglaterra, os Estados Unidos e a Venezuela possuem alguma versão da lenda.
A história mexicana diz que uma moça chamada Maria viveu em uma antiga vila no século 18. Famosa por sua beleza estonteante, a garota desejava se casar com um homem rico. Seus sonhos se tornaram realidade quando um fazendeiro abastado chegou ao vilarejo montado em um cavalo. No princípio, ele não deu muita atenção, portanto a mulher também se fez de difícil.
Ele caiu no truque. “Aquela garota insolente! Maria... Maria!” ele pensou. “Sei que posso ganhar seu coração. Juro que casarei com ela”. Logo, tudo saiu como planejado por ela. Entretanto, a família do rapaz não gostou nada disso. Ainda assim, seu marido a presenteou com muitos luxos e mimos. Quando ela deu à luz a duas crianças, seu casamento desandou de vez.
O homem se tornou um bruto que não se importava com ela e a abandonou para procurar outra mulher de sua própria classe. Um dia Maria pegou o marido com uma bela mulher. Revoltada, ela descontou a frustração nas crianças as afogando no Rio Grande. Ela contou o que fez para o esposo, que a abandonou. Desesperada, ela correu pelas ruas e começou a chamar por seus filhos – daí o nome “Chorona”.
Pouco tempo depois, Maria cometeu suicídio e começou a assombrar o rio e gritar: “Oh, meus filhos!”. Em geral, ela é considerada um espírito inofensivo, mas algumas histórias dizem que a moça também costuma sequestrar crianças à noite para substituir as suas.
Futakuchi-Onna significa “mulher de duas bocas”. Dizem que ela é uma moça que, na parte de trás da cabeça, possui uma boca gigantesca com uma língua afiada e que engole tudo que encontra. O longo cabelo da criatura funciona como tentáculos que apanham os alimentos e escondem a deformação. Caso ela não seja alimentada, começa a murmurar e ameaçar a garota ou também pode arranhá-la e torturá-la com a ponta da língua.
Basicamente, a segunda boca é o resultado de um feitiço. Há três versões para a história. Em uma delas, a mulher deixou o próprio filho adotivo passar fome até morrer. Portanto, o espírito da criança amaldiçoou a madrasta com a segunda boca. Na lenda mais conhecida, ela era a esposa de um homem avarento que percebeu que ela comia muito pouco.
Apesar de egoísta, ele ficou espantado pela falta de apetite da mulher, até que o estoque de arroz começou a sumir. Um dia, ele decidiu fingir ir para o trabalho e ficou escondido para observar a esposa. Para seu horror, ele viu o cabelo da mulher se dividir na nuca revelando uma boca monstruosa.
Outra mais aterradora diz que o marido estava cortando lenha quando, sem querer, acertou o machado na cabeça da esposa. Pouco tempo depois, o ferimento se tornou a boca faminta. Curiosamente, há um significado emblemático na aparência da segunda cavidade bucal. Dizem que ela é um meio de ventilar os desejos reprimidos nas mulheres. O pokémon Mawile foi baseado na lenda.
Esse é um espirito doppelganger que toma a aparência de alguém que está prestes a morrer. Ele pode assumir as características de uma pessoa amada e se passar por ela sem que você perceba. Alguns dizem que eles nascem junto com nós e permanece conosco sempre à espreita para assumir o lugar.
Aparentemente, o fetch não é um fantasma, pois ele imita a pessoa ainda viva. Ele só pode ser visto por quem está imitando ou também por todos os outros menos o humano que ele está copiando. Sua aparição é considerada um presságio ruim de uma morte iminente. Entretanto, se a “réplica” for vista durante a manhã mais do que de noite, isso pode ser um sinal de uma vida longa.
Como é a aparência dessa criatura? Idêntica à sua. Afinal, ela deve ser uma mera sombra que lembra sua estatura, características físicas, vestimentas e que, misteriosamente, pode ser vista por seus amigos mais próximos. Geralmente, as pessoas que eles imitam costumam estar com uma doença séria e não podem sair da cama.
No século 18 e 19, os autores costumavam usar os fetchs como um meio de mostrar os erros para o personagem principal. Além disso, se já teve a estranha sensação de ver alguém idêntico a você na rua, provavelmente deve ter sido a criatura.