Ciência
04/07/2013 às 09:30•4 min de leitura
Seja por diversão, como um exercício criativo ou como uma maneira de provocar autores e leitores, é fato que alguns escritores citaram contos, romances e outras obras de autores que nunca chegaram a existir. Alguns desses livros foram apenas citados, outros ocupam um lugar central em uma obra, causando até curiosidade nos leitores.
Os contos de Sherlock Holmes, as histórias de Jorge Luis Borges e os textos de François Rabelais são algumas das obras em que é possível encontrar referências falsas. A seguir, você confere uma seleção com os principais livros que nunca foram escritos:
Quem leu as aventuras de Sherlock Holmes, o famoso detetive criado por Arthur Conan Doyle, deve se lembrar de que uma das atividades preferidas do personagem era passar seu tempo livre escrevendo tratados e compilações de seus conhecimentos.
De acordo com o site Quo, esse hábito teria rendido ao personagem títulos como “A arte da investigação”, “Sobre as diferenças das cinzas do tabaco”, “A utilidade dos cães no trabalho do detetive” e “Sobre a escrita enigmática”. Logicamente, esses livros não passam de fruto da imaginação de Conan Doyle e jamais chegaram a ser escritos, mas não deixam de fazer parte da biblioteca imaginária da 221B, na Baker Street, em Londres.
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Se tivesse existido, o “Necronomicon” teria sido um livro de histórias macabras. O referido autor da obra seria Abdul Alhazred, um árabe do século 12 que teria enlouquecido depois de vagar por quatro anos em cavernas subterrâneas. A história conta que o livro teria sido escrito com sangue e encadernado com pele humana.
No entanto, todos esses detalhes não passam de invenção do escritor norte-americano H. P. Lovecraft. As primeiras referências apareceram no conto “O Cão”, publicado em 1922, e seguiram por toda a obra do autor. Lovecraft foi o responsável por descrever a cronologia de Necronomicon e contar como, através dos séculos, a obra teria passado pelas mãos de monges, tradutores e colecionadores.
Com tantos detalhes, muitos curiosos foram em busca do livro inexistente. Em 1943, Lovecraft confessou em uma carta ao seu editor que a obra era falsa e havia sido inventada somente para dar mais credibilidade às suas histórias macabras. Mesmo com essa confissão, os fãs de literatura de horror continuaram a buscar o livro demoníaco.
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O portal Quo ressalta ainda duas curiosidades sobre o texto fictício: o renomado autor argentino Jorge Luis Borges teria sido um dos fãs curiosos a visitar diversas bibliotecas de Buenos Aires em busca do livro maldito quando tinha apenas 16 anos.
Outro caso aconteceu na Universidade de Sorbonne, em Paris, em 1971. René Chalbaud, cátedra da universidade, teria encontrado uma ficha que indicava a existência do livro da biblioteca. A notícia se espalhou e dezenas de pesquisadores foram até a universidade motivados pela descoberta, mas tudo não passava de uma pegadinha de um dos alunos da instituição.
Além de acreditar no Necronomicon, Jorge Luis Borges foi um dos principais escritores que ajudou a propagar a existência de obras falsas em seus textos literários. O caso mais bem-sucedido se deu no texto “Exame da obra de Herbert Quain”, em que o autor discute o trabalho do escritor fictício afirmando que teria lido as obras. Uma rápida pesquisa no Google mostra que muitos acreditaram na existência desse autor e ainda buscam indícios de seus livros.
No conto “Pierre Menard, autor de Quixote”, o autor também brinca com a existência de um escritor francês, o próprio Pierre Menard, cujo paradeiro nunca foi encontrado. Ainda, em parceria com o Adolfo Bioy Casares, outro autor argentino, Borges criou a figura de H. Bustos Domecq, que acabou se tornando um pseudônimo para lançar as obras escritas pelos dois autores.
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Muito antes de todos os autores citados acima, o site Quo relembra que o poeta inglês John Donne teria inventado um catálogo de obras fictícias que teriam sido escritas por autores renomados. A obra ganhou o título de “Catalogus librorum aulicorum incomparabilium et non vendibilium”.
Na lista, o autor relacionou 34 volumes imaginários. Entre eles, um teria sido escrito por Pitágoras e outro intitulado “Proposta para a eliminação da partícula ‘não’ dos Dez Mandamentos”, supostamente de autoria de Martinho Lutero, figura importante do protestantismo.
Para escrever as obras “Gargântua” e “Pantagruel”, o autor francês François Rabelais teria lançado mão de textos imaginários que teriam sido escritos para satirizar os costumes da época em que viveu. O mais interessante não é nem o fato de Rabeleis ter inventado as obras, mas sim o conteúdo sobre o qual o autor teria lido para compor seus romances.
“Ars honeste petandi in societate” era supostamente um tratado acerca da maneira adequada de soltar pum em público. “De modo cacandi” falava como uma atividade fisiológica tão comum como fazer as necessidades poderia ser elevada ao estatuto de arte. Por fim, “Campi clysteriorum” era um manual fictício que ensinava como colocar um supositório.
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Em um de seus romances mais aclamados, “Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios”, o escritor brasileiro Marçal Aquino inventou um autor e uma obra que deram o que falar. Ao longo do romance, o protagonista Cauby relembra diversas passagens do livro “O que vemos no mundo”, cuja autoria é dada a Benjamin Schianberg, referido no romance como “o filósofo do amor”.
De acordo com a coluna de Mauricio Stycer, o autor brasileiro teria tido todo o cuidado de criar um título e um personagem que ainda não tivessem aparecido no Google para dar mais credibilidade ao seu texto e evitar qualquer tipo de confusão. O resultado foi que uma editora do Rio de Janeiro, depois de não ter conseguido localizar o paradeiro do filósofo do amor, telefonou para Marçal Aquino e pediu ajuda para entrar em contato com Schianberg, já que havia o interesse de publicar o livro no Brasil.
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E você, conhece mais alguma obra que poderia ser incluída nessa biblioteca de livros que nunca existiram?