Saúde/bem-estar
04/10/2017 às 12:29•3 min de leitura
Mesmo que você não seja especialmente fã de filmes de terror, é bem provável que você tenha assistido ao clássico “O Exorcista”, de 1973. O longa está baseado em um livro de mesmo nome de William Peter Blatty — que também foi autor o roteiro — e conta a história da possessão demoníaca de Regan MacNeil, uma menina de 12 anos, e da aterrorizante luta para livrar a garota das garras do mal.
Horripilante (Movie Pilot)
O enredo é bastante conhecido de todos — uma vez que Blatty se inspirou no caso real envolvendo o exorcismo de um garoto de Maryland —, mas nem todo mundo se recorda do nome da entidade demoníaca antagonista do filme, muito menos sabe das origens desse espectro maligno. Para quem não lembra, o demônio que possui Regan é conhecido como Pazuzu e suas origens históricas podem ser traçadas aos antigos assírios e babilônios.
Pazuzu faz parte de mitologia suméria, e sua origem remonta a cerca de mil anos a.C. Filho do deus Hanbi, rei dos habitantes do submundo, esse personagem era o líder dos demônios do vento, e representava, mais especificamente, o vento sudoeste, responsável por trazer a seca e a fome, assim como as tempestades. Sendo assim, era comum que os antigos assírios e babilônios alternassem entre temer e pedir ajuda a Pazuzu.
Você se lembra dessa cena? (Malta Today)
O curioso é que as súplicas a Pazuzu não se limitavam apenas a questões climatológicas. Esse espectro, apesar de ser claramente maligno — afinal, o que mais esperar do filho do rei do inferno, né? —, era invocado para proteger as mulheres durante a gravidez. Isso porque, segundo as crenças que circulavam na Mesopotâmia, as grávidas ficavam expostas aos ataques de uma deusa sinistra chamada Lamashtu (que era ninguém menos que a esposa de Pazuzu), e era ele quem entrava em cena para combater essa “demônia” nervosa.
Com relação à aparência de Pazuzu, estatuetas, figuras e amuletos que sobreviveram à passagem do tempo retratam esse demônio como tendo corpo humano, mas revestido de escamas, com garras de águia no lugar dos pés e cabeça de cão ou leão. Além disso, ele era dotado com um par de asas e cauda de escorpião.
Olha ele ali! (Gorillaz Wiki)
Outra coisa sobre as representações de Pazuzu, é que elas costumavam mostrar o demônio com a mão direita para cima e a esquerda para baixo, simbolizando criação e destruição — ou, ainda, vida e morte. Os historiadores acreditam que na Bíblia existem descrições de várias bestas que possivelmente foram inspiradas em personagens como Pazuzu, oriundos de outras crenças (e não da judaico-cristã).
Ele sofreu algumas transformações ao longo do tempo (Wikimedia Commons/Austen Henry Layard)
No entanto, de acordo com os historiadores, Pazuzu mudou bastante ao longo dos séculos e o primeiro registro que existe dele se refere a um mito babilônio onde ele é chamado de Anzu — ou Zu. Na lenda, essa figura era descrita como um pássaro imenso capaz de cuspir água e fogo, mas, pouco a pouco, o personagem foi evoluindo até se transformar no demônio que descrevemos acima.
Ademais de ter poder de lançar fenômenos meteorológicos capazes de causar destruição, fome e a invasão de pragas, bem como de proteger grávidas e parturientes do ataque de sua esposa maluca (e que obviamente não gostava de bebês), Pazuzu também costumava ser invocado para defender os doentes e espantar espíritos malignos.
Figura retratando Pazuzu (Ancient History Encyclopedia)
Na Antiguidade, era comum que as pessoas atribuíssem as mais variadas doenças e males à ação de espectros e demônios, e arqueólogos encontraram diversas plaquinhas de proteção que traziam invocações a Pazuzu. Esses objetos frequentemente eram colocados nos locais que abrigavam os doentes e serviam tanto para pedir que o demônio levasse a doença embora e ajudasse na recuperação do paciente, bem como para que ele impedisse o ataque de espíritos do mal.
O curioso é que, apesar de ser invocado para proteger doentes e evitar males, Pazuzu também podia espalhar enfermidades. Segundo os mitos, seu hálito ardente era capaz de disseminar a calamidade e a morte, assim como infectar quem provocasse sua ira. Seja como for, essa figura mitológica ambígua é bem diferente do ser aterrorizante que foi trazido às telas pelo pessoal de Hollywood, você não concorda?