Estilo de vida
07/02/2020 às 14:00•5 min de leitura
Na tarde de sábado do dia 29 de novembro de 1970, um homem e suas duas filhas estavam fazendo uma caminhada na face norte do monte Ulriken, em Bargen, na Noruega. Eles pisavam numa área chamada de Vale de Isdalen, porém popularmente conhecido como Vale da Morte, devido aos suicídios que aconteceram na região durante a época Medieval, como uma espécie de Aokigahara, e na década de 1960, quando cresceu o percentual de alpinistas que se perdiam nas trilhas e acabavam sendo encontrados mortos.
Em dado momento do caminho, num ponto remoto e de difícil acesso, a família sentiu um cheiro horrível de carne queimada e acabou seguindo o fedor até a sua fonte. Eles se depararam com o corpo de uma mulher caído entre duas rochas e ocultado por algumas pedras. Os braços do cadáver estavam estendidos numa posição de defesa, de quem se protege de algo e que normalmente acomete os corpos que sofreram um processo de combustão.
Pai e filhas ficaram horrorizados, no entanto não tinham sequer ideia de que eram as primeiras testemunhas de um dos possíveis casos da Guerra Fria, e também do que seria um dos maiores enigmas mundiais.
Quando as autoridades chegaram ao local junto com a equipe forense, a perícia extraiu da cena do crime duas garrafas de água um pouco carbonizadas, um copo de plástico pertencente a um recipiente térmico, restos derretidos de botas de borracha, um xale, uma garrafa de licor da marca Vinmonopolet, um suéter de lã, um guarda-chuva quebrado e também um relógio com dois brincos e um anel. Todos os objetos estavam espalhados ao redor do corpo e nenhum deles possuía rótulo ou selos de identificação.
Analisando por cima os primeiros sinais do contexto, o advogado de polícia Carl Halvor Aas lançou o seu primeiro palpite de que a mulher desconhecida não era só mais uma alpinista. Ela estava fora da trilha, como se tivesse sido atirada ali, e também o seu local de morte não era de fácil acesso.
A mulher tinha toda a parte frontal do corpo queimada, da cabeça aos pés, inclusive não possuía quase cabelos. O curioso notado pela perícia era de que a parte traseira do cadáver estava impecável, sem um resquício de tecido queimado. À princípio, eles cogitaram uma explosão, o que explicaria a posição de boxeador na qual ela estava, o local aonde havia caído e também o fato de só a parte da frente do corpo ter sido torrada. Para Carl, parecia mais como uma espécie de cerimônia do que qualquer coisa.
A autópsia revelou que havia cerca de 50 a 70 comprimidos para dormir no organismo da mulher desconhecida, todos de uma marca chamada Fenemal. Haviam partículas de fumaça em seus pulmões, comprovando que essa ainda estava viva enquanto foi queimada. Ela vestia diversas camadas de roupas, uma por cima da outras, todas fabricadas em um tecido sintético. As etiquetas delas tinham sido arrancadas. O corpo tinha a pele raspada e cortada em vários pontos, e eles deduziram que o autor fez aquilo pensando em apagar meios de descobrir a identidade da morta.
Embora o levantamento de evidências no cadáver não tivesse dado por encerrado, foi atestado que a mulher misteriosa havia morrido por overdose de indutores de sono e também envenenamento por monóxido de carbono. Um possível caso de suicídio, porém ninguém, tampouco as pistas, embasavam isso.
O próximo passo das autoridades foi montar um perfil para mulher e recorrer à ajuda do público para que a identificasse. Nomeada como A Mulher de Isdal ou Isdalen, eles a descreveram como uma mulher de 1,64 de altura, cabelos pretos, olhos castanhos, rosto quadrado e orelhas pequenas. Ela aparentava estar na casa dos 25 aos 40 anos de idade e tinha os cabelos presos num rabo de cavalo com uma fita azul e branca na hora de sua morte.
Dias depois que o retrato já repercutia na pequena cidade de Bergen, a polícia encontrou duas malas no departamento de bagagem do terminal ferroviário da cidade
Numa delas continha um óculos de grau e deles foi retirado uma impressão digital que correspondia com a da desconhecida. Haviam também várias mudas de roupas, perucas, moedas belgas, britânicas e suíças. Cédulas de dinheiro alemão e norueguês, um pente, escova de cabelo, alguns cosméticos, colheres e um tubo de creme. E novamente, todas as etiquetas foram arrancadas ou raspadas dos objetos.
Já que de novo não tinham uma pista concreta, os investigadores entraram em contato com diversas lojas de departamento do exterior na tentativa de rastrear de onde os produtos vinham, incluindo a Galeria Lafayette, em Paris. Mas nenhuma delas foi capaz de fornecer informações a respeito dos produtos.
Vendo-se num beco sem saída, eles resolveram partir para o bilhete repleto de códigos encontrado na outra mala e que, à princípio, não conseguiram decodificar. Seguiram o rastro de uma sacola da Foot Wear Store, uma loja de sapatos em Stavanger. Rolf, o filho do proprietário da loja, se lembrava de ter vendido um par de botas e um guarda-chuva para uma mulher elegante que falava inglês com um sotaque e emanava um cheiro forte como o de alho.
A investigação descobriu que a mulher havia se registrado no hotel Saint Steven’s, que ficava pelas redondezas, sob o falso nome de Fenella Lorch. Ela possuía vários passaportes falsificados, pois alternava o nome e sobrenome e havia se hospedado em nove hosteis pela Noruega, traçando um caminho de Stavanger à Basel.
Durante uma de suas estadias no Hotel Neptun, alguns empregados se lembraram de que, em certa ocasião, a mulher estava no restaurante sentada à uma mesa e ao lao haviam dois oficiais alemães da Marinha. Eles não interagiram diretamente, mas ela soltava algumas frases em alemão, indicando um possível tipo de conexão discreta. Ela chegou a mudar de quarto três vezes, sem motivo aparente. E para fundamentar o que Rolf havia dito, uma garçonete do hotel disse que a mulher emanava um cheiro forte de alho.
Ao longo desse processo, conseguiram descriptografar parte do bilhete e descobrir que as letras e números se tratavam de um código para marcar datas, horários e locais de onde ela esteve. Eles chegaram a enviar o retrato desenhado da mulher e algumas descrições para as Forças Armadas de outros países, mas não receberam um retorno de nenhum deles.
Em mais um relatório liberado pelos legistas, ficou esclarecido que ela possuía um machucado na lateral direita do pescoço, que foi dificil de apurar devido as queimaduras. A lesão poderia ter sido causada por um golpe ou queda.
O excesso de especulação, perguntas sem respostas e a falta de pistas para atar as pontas dos acontecimentos, levou as autoridades a darem o caso como encerrado e enterrarem o corpo da mulher no dia 5 de fevereiro de 1971.
A inteligência do governo de Bergen foi forçada a recuar depois que foi investigar os vínculos que as grandes potências mundias possuíam, com a palpável hipótese de que a mulher seria uma espiã, por conta de toda a tensão dentro do contexto da Guerra Fria que se desenrolava na época.
Isso apenas reforçou o fato de que possivelmente a Noruega tenha sido coagida a encerrar e encobrir todo o caso, sobretudo quando policiais e outros cabinetes de averiguação receberam proibições judiciais de prosseguirem revirando a história, todos expedidos pela Defesa Nacional Norueguesa.
No final de 1960, estranhos desaparecimentos aconteceram próximo às instalações militares do país, bem onde estavam ocorrendo os testes do novo míssil Penguin, inspirando um possível abatimento de espionagem internacional. Sendo assim, em virtude à proximidade do país com a Rússia, a teoria de que a mulher poderia ser mais uma espiã viajando pela Noruega é o mais plausivel. Para endossar a linha de probabilidades, a posse de nove passaportes falsos completos implicava muito em um envolvimento de uma organização muito profisisonal.
A ciência da pesquisa forense em testes de DNA e análise isotópica na mandíbula da mulher – que não foi enterrada com ela – revelaram que ela havia se mudado da Europa Central durante a Segunda Guerra Mundial, possivelmente da Alemanha, ainda mais comparando a sua escrita no bilhete, cuja ortografia e leitura de inclinação revelavam uma tendência alemã. As pesquisas que aconteceram na época sugeriram que ela fosse de Nuremberg, na Alemanha.
Apesar disso, nunca ficou claro para quem a mulher de Isdalen estava trabalhando, tampouco quem estava por trás de seu evidente assassinato.
No entanto, em contraste a isso e entre todas as teorias, a nuance que nunca foi levada em consideração foi a colocada por Ketil Kversoy, que no fim da manhã do domingo de 29 de novembro, presotu queixa na delegacia ao ver uma mulher que preenchia todas as características descritas no perfil da desconhecida, correndo de dois homens por entre as árvores do Vale da Morte.
Ketil disse em depoimento: "Ela olhou para mim e parecia que estava assustada. Olhou parecia mim parecendo que iria desistir".
Depois disso, a mulher desapareceu para ele surgindo para o mundo todo numa rasura de papel.