Saúde/bem-estar
02/03/2020 às 14:00•4 min de leitura
O ano de 1984 estava chegando ao fim, e Gunther Stoll, um técnico alimentar alemão, tinha acabado de ser despedido de seu emprego em decorrência de um índice de estresse muito elevado que havia o afetado e também suas atividades. Gunther foi afastado a princípio e depois dispensado definitivamente.
A estadia em casa apenas piorou o sentimento do homem, que vivia agitado e tenso. Ele não saía de sua residência, não se aproximava das janelas e vivia falando consigo, como se estivesse sofrendo um episódio grave de paranoia, provavelmente o apogeu dos sintomas que já vinha apresentando. Até que certo dia, Stoll segredou a sua mulher que estava sendo perseguido por “eles”, a quem o homem também chamava de “os outros”.
A certeza dele era de que “eles” o matariam mais cedo ou mais tarde e que já estavam o cercando há um tempo, monitorando-o na ida e volta do trabalho, durante o almoço e a cada saída que ele dava com ou sem a mulher ao lado. Porém, Gunther não sabia dizer quem “eles” eram precisamente, por isso a sua esposa também não era capaz de validar o que ele implorava para ela acreditar, pois tudo parecia ser parte do estresse.
Contudo, à medida que os dias foram passando, ela percebeu que o estado de Gunther começou a piorar, passando a conviver com a possibilidade de que algo muito sério e errado estivesse realmente acontecendo com ele.
Na noite de 25 de outubro de 1984, o alemão estava sentado à mesa da cozinha, quieto e absorto em uma reflexão que já durava horas segundo a sua esposa, a qual não teve sucesso em tirá-lo daquele estado nem mesmo para ele jantar. Até que, de repente, o homem saltou de seu lugar e exclamou extasiado: “Agora eu entendi! Eu entendi tudo!”.
Trêmulo, Gunther correu até o pequeno armário que ficava na sala, apanhou um pedaço de papel e um lápis. Ele escreveu as letras "Y-O-G-T-Z-E", as quais, depois, foram lidas como "YOG’TZE". Em seguida, o homem pegou a carteira, as chaves do carro e saiu às pressas de casa, sem dar satisfação alguma aonde estava indo.
Segundo relatos de testemunhas e do proprietário do estabelecimento, Gunther, por volta das 23h, foi a um antigo pub em Wilnsdorf, onde costumava se reunir com os amigos para beber durante a semana. Ele entrou nesse local, sentou-se próximo à mesa do bar e pediu uma cerveja. No entanto, antes que pudesse tomar o primeiro gole, ele simplesmente deslizou do banco e caiu com o rosto no chão, como se tivesse sofrido um mal súbito. As pessoas que o levantaram do piso, em seus relatos, disseram que o homem transpirava em abundância, sussurrava palavras ininteligíveis e parecia estar tendo uma crise de ansiedade. Assim que conseguiu ficar em pé de novo, Stoll deixou o local — sem tocar na bebida, agradecer ou olhar para trás.
Em seguida, ele ficou desaparecido durante 2 horas, até bater à porta de uma mulher idosa, que, aparentemente, era amiga de infância dele e morava no bairro Haigerseelbach, onde ele havia crescido. Devido ao comportamento atípico de Gunther e, por ser muito tarde, ela não o deixou entrar e recomendou a ele que voltasse à sua esposa e casa. Ele concordou, mas, antes de deixar a soleira da porta, confessou à mulher que um incidente horrível estava prestes a acontecer.
Mais uma vez, Stoll deu as costas sem dizer mais nada, entrou em seu carro e dirigiu-se dentro à noite fria. Na madrugada (por voltas das 3h), 2 caminhoneiros encontraram um carro completamente destruído em uma espécie de barranco que havia no acostamento da rodovia Autobahn A45. Dentro do automóvel, Gunther estava completamente ensanguentado, gravemente ferido e nu.
Tentando resistir às sombras que ameaçavam dominar a sua consciência enquanto se engasgava com a vida que lhe escapava, ele foi capaz de contar aos caminhoneiros assustados que ele estava levando 4 homens no carro, mas eles espancaram-no, abandonaram-no e ele estava fugindo quando tudo aconteceu. Gunther informou que aqueles homens não eram seus amigos, sendo os mesmos desconhecidos que o seguiam.
Gunther Stoll morreu na ambulância a caminho do hospital e deixou apenas um mistério perturbador ao redor de suas últimas falas, digitais e dos lugares por onde passou.
Imediatamente uma investigação foi iniciada, e o quebra-cabeça começou no necrotério. Durante a autópsia do corpo, os médicos legistas determinaram que a causa da morte foi homicídio culposo, pois ficou claro para eles que os ferimentos não eram devido a uma batida, mas sim a um atropelamento causado por um automóvel, o qual não era o do homem morto.
Os investigadores não conseguiram localizar onde o crime aconteceu, tampouco quem o cometeu. Contudo, os caminhoneiros relataram, em depoimento, que viram uma pessoa não muito longe do carro da vítima antes de eles se aproximarem. Esta era um homem que vestia uma jaqueta laranja fluorescente e andava próximo ao veículo, desaparecendo com a aproximação do caminhão.
Remontando a situação, os profissionais acreditavam que Stoll foi levado a algum lugar, despido, atropelado, depois jogado no próprio carro e levado até o local onde foi encontrado. No entanto, como o seu Volkswagen acabou sendo batido ou sob quais circunstâncias ocorreu o crime são fatos que nunca foram determinados.
Sem pistas e conexões, os esforços da polícia se voltaram para a única prova substancial deixada pelo alemão: "YOG’TZE". Teria aquela palavra alguma relação com a sua morte? Ou melhor, seria aquilo de fato uma palavra? Seria uma espécie de mensagem criptografada, rota, coordenada ou algo parecido? Teria algum significado, afinal, ou não passava de letras oriundas de um surto nervoso?
Em meio a um oceano de especulações, alguns elaboraram teorias de que a anotação poderia se tratar do número de uma placa de carro, provavelmente a de seus sequestradores e assassinos. A letra O poderia ter sido confundida com um 0, assim como o número 2 bem poderia ser um Z, e a letra G, o número 6, o que ficaria desta forma: Y06T2E.
Claramente, essa hipótese foi rapidamente atribuída ao fato de que Gunther poderia ter tido uma premonição de sua morte, por isso havia surtado nos últimos tempos tentando descobrir como aconteceria. Isso também se casaria com a declaração dele à amiga de infância acerca de um acidente horrível. Afinal, como ele poderia saber?
Outra possibilidade pensada foi que YOG’TZE poderia ser um anagrama para a palavra "zigoto", que é o estágio inicial de desenvolvimento de muitos organismos multicelulares. As pessoas começaram a falar sobre alimentos e ingredientes geneticamente modificados, uma vez que Stoll era engenheiro alimentício e poderia ter feito uma descoberta extraordinária, assim se envolvendo em alguma conspiração do ramo, ocasionando a sua morte por saber demais. Outra hipótese é que parte de sua paranoia tenha se originado exatamente dessa busca e, em adição a essa teoria, ainda foi suposto que YOG não significava nada, mas que TZE era um sabor frequentemente usado na fórmula de iogurtes, o que só reforçaria essa tese.
No final das contas, nada nunca foi comprovado, nem sequer uma pista do que a estranha anotação significava apareceu. Gunther Stoll afundou a Alemanha em um dos maiores mistérios de sua história, abandonando todos em um silêncio sem conclusões e com dúvidas dos fantasmas que cercavam a mente dele, fosse essa sã ou não.