O silêncio de Olivia Mabel 

19/03/2020 às 14:006 min de leitura

A cerca de uma hora de Dallas, o Footlight Ranch é uma propriedade que está localizada no subúrbio da cidade de Celina no Texas, Estados Unidos. Desde meados de 1980, lá era o lar da família Mabel, constituída pelo casal Olivia e Travis mais o filho deles, Aiden, de apenas 7 anos. Eles tinham a sorte de uma vida ajustada, sem muitos problemas, praticamente com o mesmo empenho daquelas exibidas em comerciais de margarina.

Apesar de o casal trabalhar, a mulher era a pessoa mais presente na vida do pequeno Aiden e fazia de tudo para que ele sempre estivesse cercado de sua atenção e carinho. Ela poderia ser considerada uma mãe superprotetora, sobretudo pelo fato de que o filho era fruto de uma difícil gestação seguida de um parto de alto risco. Após o nascimento do menino, o médico deixou claro à Olivia: ela não poderia mais engravidar.

O primeiro silêncio

(Aiden Mabel)(Aiden Mabel)

Na manhã de 13 de março de 1990, Aiden Mabel saiu para brincar por um grande terreno de propriedade da família. O menino tinha que estar de volta até o horário do almoço, como o prometido à sua mãe. O tempo estabelecido foi extrapolado por ele, mas, a princípio, os pais não estranharam. Depois, temerosos com o exagero da demora, Travis decidiu sair à procura de Aiden.

O homem não precisou ir muito longe. Da varanda de casa, ele já foi arrebatado pela cena perturbadora do corpo do filho boiando no lago da propriedade. O pai correu junto à Olívia e eles resgataram das águas um Aiden já afogado e morto.

A tragédia repercutiu por toda a comunidade da pequena cidade. A mulher deixou o trabalho, a igreja, os serviços que prestava à comunidade e tudo mais que exigisse sua saída de casa. Ela passava os dias repetindo a rotina de quando o filho estava vivo, trancando-se no quarto dele todas as noites e saindo apenas pela manhã, quando Travis já havia saído para o trabalho.

Sempre em silêncio e vagando pela casa como um fantasma, Olivia foi abraçada tão profundamente pela depressão que o transtorno se impregnou em todos os aspectos da vida dela e culminou no divórcio do casal no início de 1991. Nessa época, a mulher já não tomava mais banho, não era vista pelo marido e nem saía mais do quarto que pertencera ao filho.

O segundo silêncio

(Olivia Mabel)(Olivia Mabel)

Foram poucos os que viram a verdadeira "miragem" que Olivia Mabel se tornou nos meses posteriores a partida de Travis. Alguns a viram entrando em um supermercado e saindo apenas com uma caixa de leite. A mulher envelhecera e estava anoréxica, suja, maltrapilha e com o rosto encovado em olheiras e abatimento.

O setembro de 1991 marcou a última vez que ela foi vista. Depois disso, os dias se transformaram em meses sem uma aparição dela, e esses meses se tornaram anos. Aqueles que ousaram rondar a propriedade da família onde a mãe enlutada se trancafiara, encontrou nada além de abandono. Quem chamou pelo nome da mulher e decidiu bater à porta foi recebido por um longo eco de silêncio.

Aos poucos as pessoas simplesmente chegaram à conclusão de que Olivia Mabel havia se mudado para finalmente tentar recomeçar a vida ou até mesmo cometido suicídio em algum lugar à sombra de sua depressão.

O terceiro silêncio

(Boneco encontrado no colo de Olivia Mabel)(Boneco encontrado no colo de Olivia Mabel)

Em 27 de fevereiro de 1994, o serviço de emergência da polícia recebeu uma ligação. A chamada durou quase 1 minuto, e a pessoa do outro lado da linha ficou apenas em silêncio. Depois que o telefonema foi interrompido, rapidamente rastrearam de onde tinha sido feita a chamada e descobriram que vinha da residência da antiga família Mabel, de quem ninguém na cidade nunca mais tinha ouvido falar em 3 anos.

A polícia decidiu ir até a propriedade abandonada de Footlight Ranch, perdida em meio a muito mato e um lago cheio de lama. Primeiro, eles executaram uma ronda pela casa e não detectaram nenhum movimento no interior. Tudo estava vetado com tábuas pelo lado de dentro. Então, decidiram bater à porta, mas foram recebidos por um silêncio. Assim, os policiais arrombaram a fechadura e entraram na casa. 

O ar era rançoso, úmido, com partículas de poeira pairando contra a luz do dia, comprovando que nada do mundo exterior entrava ali há anos. Também não havia pegadas pelos tacos do piso e nenhum rastro de vida recente pelas superfícies, apesar do local estar revirado como se alguém o tivesse saqueado.

Eles vasculharam os cômodos e não encontraram nada de estranho, exceto quando chegaram à porta do antigo quarto de Aiden Mabel. Havia um fio de telefone passando por debaixo da porta, que estava trancada quando eles tentaram entrar. Os policiais arrombaram e se depararam com um cenário incomum e igualmente assustador: o quarto estava impecável. Tudo estava limpo e bem cuidado. Não havia sequer o véu de poeira do tempo de clausura que cobria todo o resto.

(Uma das imagens do altar)(Uma das imagens do altar)

E como se isso já não fosse esquisito o suficiente, dois detalhes se destacavam na cena. Empoleirado em uma cadeira de balanço no canto esquerdo do quarto estava o cadáver de Olivia Mabel, ressecado até os ossos e ainda vestido em uma camisola. O corpo estava com um pequeno boneco em seu colo. Logo à frente, havia um enorme altar contendo brinquedos, velas, flores, fotos de Aiden e uma urna, certamente com os restos mortais cremados do garoto. Tudo tinha sido pichado com vários símbolos rabiscados em papéis colados pelas paredes e também desenhados com tinta.

A polícia encontrou no altar um bilhete manuscrito no qual se lia: “Meu querido Aiden, desculpe-me. Eu nunca deveria ter te deixado ficar assim. Estou indo embora. Não deixarei que essa criatura ruim te mantenha longe de mim, meu doce Aiden. Mamãe te ama.” No final do pedaço de papel havia também uma palavra que o especialista contratado pelo investigador Terry Goldscher traduziu como "em construção" ou "para construir".

O detalhe mais assustador foi o bilhete apresentar a mesma data do dia que o departamento de polícia recebeu a ligação silenciosa. Porém, a perícia determinou que Olivia estava morta há pouco mais de 5 meses.

Um: a voz do astral

(Fotos e desenhos de Aiden em meio ao santuário)(Fotos e desenhos de Aiden em meio ao santuário)

A resposta da polícia foi de que a carta tinha sido pós-datada por Olivia e de que alguém poderia ter clonado o número de telefone da casa ou até mesmo a invadido para forjar uma situação, embora não houvesse sinais de invasão antes da polícia chegar. Além disso, o quarto de Aiden foi vedado pelo lado de dentro.

Mas o que significava aquele altar que parecia mais um santuário? E os símbolos? Como aquela mãe tinha morrido?

Francesca Santiago foi a primeira policial que entrou no quarto e o inspecionou. Para a morte da mulher ela não tinha resposta, mas o altar e o boneco no colo de Olivia ela tinha algumas deduções. Segundo Francesca, esses elementos sugeriam que a mulher estava envolvida com uma Tulpa, a qual, de acordo com o budismo tibetano, é uma entidade espiritual criada a partir de mentalizações que acontecem no plano astral. A policial teve esse pensamento depois de passar uma temporada com um tio em El Paso que tinha um forte envolvimento com o misticismo.

A partir disso, a mulher passou a reconhecer vários elementos que presenciou o tio mexer e por isso ela acreditava que era possível Olivia ter criado essa "forma-pensamento" com a imagem de Aiden, para que ela pudesse conviver melhor com a dor de sua perda.

Teria essa entidade algo a ver com a morte dela, uma vez que o bilhete escrito por ela indicava uma força maligna que a atormentava? Ou tudo não passava de fantasmas da cabeça da mulher criados pelas lacunas de sua depressão?

Dois: a voz dos outros

(Suposto atestado de óbito de Aiden Mabel)(Suposto atestado de óbito de Aiden Mabel)

Enquanto alguns acreditam na veracidade dos fatos, outros não foram convencidos tão facilmente. Muitos chegaram à conclusão de que toda a história era uma farsa viral ou um marketing de algum filme em andamento para servir de frame story.

As suspeitas erguidas partiram do ponto de que a polícia parece nunca ter sido formalmente envolvida no caso, visto que não existem arquivos na cidade de Celina que provem o contrário. Não existe nenhum atestado de óbito com o nome de Olivia Mabel ou Olivia Jane Mabel. Também não há sepultura dela no cemitério local, e os familiares da cidade se recusam a falar sobre isso.

Por outro lado, há uma certidão de óbito em nome de Aiden Travis Mabel Jr., mas a sua autenticidade jamais foi comprovada. A causa da morte dele foi listada como "morte por desventura", um termo muito comum para se referir a mortes acidentais. A certidão de óbito de Aiden foi assinada por Jackson Rhoton Earl, um agente funerário embora exista uma casa funerária de nome Rhoton apenas em Carrollton, no Texas, a cerca de 40 minutos de carro de Celina. De fato seria possível que o corpo do menino tenha sido transferido para Rhoton, porém é desconhecida a existência de um agente funerário chamado Jackson Rhoton Earl.

Travis Mabel, segundo relatos remotos, teria se mudado para a Inglaterra e se casado novamente pouco antes de Olivia ter sido encontrada. Contudo, não existem registros ou contas em redes sociais que podem provar qualquer vínculo àquele pai que perdeu o filho em um lago em 1990.

As imagens do altar tiradas pela polícia poderiam ser encenação, porém as fotos espalhadas de Olivia e de Aiden Mabel pela internet ninguém nunca conseguiu atribuir a possíveis modelos ou atores.

A propriedade da família pertence agora a Christopher Hagen e, segundo informações, foi visitada apenas por Drew Navarro, um investigador paranormal. Apesar de a casa estar no mercado há 22 anos, ninguém além desse investigador ousou ir longe demais para provar a autenticidade dos fatos. Enquanto isso, tudo o que aconteceu naquele 13 de março de 1990 segue como um grande conto, quase com o mesmo peso de uma lenda urbana.

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