Ciência
17/04/2020 às 14:00•4 min de leitura
O avião TriStar, também conhecido como L-1011, foi a terceira aeronave a jato de passageiros do tipo widebody (com duas coxias ou corredores e sete ou mais assentos por fileira), fabricada pela antiga Lockheed Corporation. Era um dos modelos mais modernos e tecnologicamente avançados da época, do qual foram produzidos apenas 250 entre os anos 1968 e 1984.
A maior sensação de seus dias e um orgulho da frota das companhias aéreas, o avião tinha capacidade para acomodar até 400 passageiros e dispunha de um alcance de mais de 7.410 quilômetros, com três motores Rolls-Royce RB211 sob cada asa e um no centro, com uma entrada de ar embutida na cauda e na fuselagem superior. Com capacidade de autoland e lounge no andar inferior, nada se comparava à aeronave.
O primeiro TriStar L-1011 realizou a viagem inaugural em novembro de 1970 e logo em seguida entrou em serviço pela companhia aérea Eastern Airlines, em 1972. Com 4 meses de viagens, em 29 de dezembro de 1972, o voo 401, programado para sair do Aeroporto Internacional John F. Kennedy, em Nova York, com destino a Miami, Flórida, carregava 163 passageiros e 13 tripulantes. Todos estavam ansiosos para aproveitar a chegada de um novo ano sob o sol quente da Flórida em suas praias de areia dourada.
Mas não foi o que aconteceu.
Aeronave modelo TriStar L-1011
A aeronave estava sob o comando do experiente piloto Robert Albin Loft, mais conhecido como Bob Loft, de 55 anos de idade e mais de 29.700 horas de voo, sendo apenas 280 em um TriStar L-1011. Ao lado dele estava o copiloto Bert Stockstill, com 5.800 horas, e o engenheiro de voo Don Repo, de 51 anos, com 15.700 horas de experiência.
O voo 401 estava em mãos mais do que seguras quando partiu às 21h20, com previsão de chegada por volta de 00h ao Aeroporto Internacional de Miami. E nada aconteceu até 23h32, quando o avião já se aproximava do destino. Assim que o trem de pouso foi baixado, Stockstill notou que a luz da cabine para esse comando não havia acendido. Mais tarde, descobriu-se que isso foi causado por uma lâmpada queimada, e não um possível defeito da engrenagem.
Loft baixou o trem de pouso manualmente, mas ainda assim a sinalização no painel, indicando que ele estava ativado e travado, não apareceu. O piloto informou o Controle de Tráfego Aéreo sobre o problema, e o avião foi colocado em um padrão de espera sobre o Everglades (uma ampla região pantanosa). A aeronave ficou no piloto automático a 610 metros de altura, enquanto Loft desmontava o painel de luzes e Repo via através de uma escotilha como estava o equipamento do lado de fora.
Com toda a tripulação mobilizada, a falta de confirmação do sinal da luz de aterrissagem consumiu a atenção de todos e ninguém percebeu que, de alguma forma, o piloto automático foi desligado, talvez com um esbarrão. Em 1 minuto, o avião perdeu 30 metros, depois voou por mais 2 minutos. Nos 70 segundos seguintes, 76 metros foram embora, o que ocasionou o aviso de altitude na sessão do engenheiro de voo, que não estava em seu posto.
Nos 50 segundos finais, o TriStar L-1011 já estava além da metade da altitude atribuída, e quando Stockstill notou que havia algo errado já era tarde demais. A 365 quilômetros por hora, a aeronave atingiu o chão, rasgando uma trilha pela grama e sendo destruído à medida que avançava. No total, 101 pessoas morreram com o impacto, incluindo os pilotos, o engenheiro de voo e 2 dos 10 comissários de bordo. Apenas 75 sobreviveram do que se tornou um dos maiores desastres da aviação por falha humana.
Os destroços do voo 401
Segundo informações da própria companhia aérea na época, algumas peças do voo 401 foram resgatadas e colocadas em aeronaves do mesmo modelo que estavam em operação. Como se fosse uma espécie de chamariz, coisas começaram a acontecer.
No começo de 1973, um piloto da Eastern Airlines que estava no comando de um voo de Newark para Miami foi chamado para verificar a procedência de um passageiro da primeira classe que não estava listado no manifesto de voo. O homem se recusava a responder às perguntas da comissária de bordo, que disse que ele apenas olhava para frente e parecia atordoado. Quando o capitão se aproximou do passageiro, ficou horrorizado: era Bob Loft, morto há meses.
Vários funcionários relataram terem supostamente visto o espírito de Loft e Repo em vários voos que iam para Miami, refazendo rotas similares à do 401 no dia do acidente. Passageiros também se queixaram de vultos e fantasmas ocupando os lugares. Até o vice-presidente da Eastern Airlines disse ter visto Loft se preparando para decolar uma das aeronaves, sendo que a companhia aérea foi a primeira a demitir qualquer um que continuasse disseminando esse tipo de comentário. A empresa também negou publicamente que os seus voos fossem assombrados e avisou que tinha removido todas as peças recuperadas do voo 401.
A situação em que as pessoas costumavam ver as aparições eram sempre muito simples e inocentes, sem aquele acréscimo espectral. Loft e Repo só ficavam ali, perambulando nos corredores da aeronave, no cockpit ou saindo da cabine. Nada mais.
O engenheiro de voo e o piloto
Por mais que a empresa oprimisse qualquer um que ousasse falar sobre esses relatos, ainda que indagados por passageiros, o fato foi se tornando cada vez mais persistente, a ponto de se enraizar na cultura popular dos Estados Unidos.
Com a mídia noticiando, livros sendo lançados e programas paranormais investigativos abordando o assunto, membros da companhia aérea espalharam a confusão que estava acontecendo. Segundo informações, a maioria dos diários de bordo dos voos que refaziam a rota do 401 começou a desaparecer. Coincidência ou não, esses transtornos aconteciam com mais frequência na aeronave 318, uma TriStar L-1011, uma das que receberam as peças do voo que se acidentou.
A empresa desmentiu a crise, mas arquivos e documentos acabaram vazando, o que foi atribuído a algum funcionário desordeiro que estivesse querendo prejudicá-los ao alimentar a farsa sobrenatural.
Enquanto os investigadores policiais apoiavam essa justificativa, os que preferiam de fato enxergar um viés espiritual atribuíam os acontecimentos à psicometria. No campo da parapsicologia, o fenômeno significa a manipulação e extração de objetos físicos por um espírito. A essa teoria junta-se a possibilidade de que Loft e Repo tivessem adquirido uma conduta Poltergeist. O espírito, em tese, repete os hábitos mais marcantes em vida depois que desencarna de um modo muito abrupto, devido à falta de compreensão de que não pertence mais ao plano material. Tudo isso seria consequência da energia residual deixada no corpo pelas peças que foram resgatadas do voo 401.
Apesar das estranhas aparições, ninguém nunca reclamou de algo negativo ou de natureza maligna. Inclusive, muitos pilotos alegaram que tiveram ajuda dos espíritos, que os alertaram sobre possíveis problemas durante os voos, como pequenos incêndios, falhas mecânicas e outros.
Muitos relatos e documentos oficiais foram publicados no polêmico livro de John G. Fuller, em 1976. Ghost of Flight 401 enfureceu os donos da Eastern Airlines e chegou a ser adaptado para filme. A história serviu até de inspiração para que a famosa banda Fleetwood Mac gravasse uma música, em 1979.
Hoje, permanece apenas a história, circulando entre comissários de bordo e pilotos como uma lenda urbana.