Antes do Edifício Joelma: o crime do poço de 1948

28/04/2020 às 14:005 min de leitura

De acordo com a doutrina Espírita, quando um crime acontece em um local a energia tanto de morte quanto a dos fatores que levaram a ela ficam impregnadas nele. Seria como uma espécie de chaga no mundo espiritual — que também é denominado Astral —, que é um plano em retroflexo ao material. Essas energias emitem vibrações que podem servir de forte estímulo para a ocorrência de outros crimes ou situações, assim perpetuando não somente um "padrão de morte" no espaço como também o principal sentimento que resulta dele: o sofrimento.

No dia 1 de fevereiro de 1974, o famoso Edifício Joelma, localizado na região central da cidade de São Paulo, ardeu em chamas após um curto-circuito que ceifou a vida de 187 pessoas e deixou mais de 300 feridas.

A catástrofe ganhou ampla notoriedade pelos eventos de cunho sobrenatural que a seguiram durante e depois do incêndio. Médiuns e especialistas fotografaram formas de rostos em completa agonia na abundante fumaça que era expelida das janelas do prédio, como se fossem uma representação direta do horror que as vítimas estavam sofrendo.

Depois que as ruínas foram restauradas e sobre elas reerguido o Edifício Praça da Bandeira, o local teria ficado assombrado pelos espíritos das pessoas que morreram naquele dia. Os moradores se queixam do constante cheiro de queimado, de escutarem o ruído de vozes e lamentos, o avistamento de vultos, objetos que se movem, entre outros. Praticamente todos que moram lá se sentem acuados com os fenômenos sobrenaturais.

As pessoas que se mudam para o prédio sabem exatamente o que aconteceu naquele dia, mas será que conhecem a história antes do Joelma? O que existia na área antes desse prédio?

72 anos antes

Paulo Ferreira de Camargo (Fonte: Sombrio & Sobrenatural/Reprodução)Paulo Ferreira de Camargo. (Fonte: Sombrio & Sobrenatural/Reprodução)

Em 1948, Paulo Ferreira de Camargo tinha apenas 26 anos e era um químico recém-formado na Universidade de São Paulo (USP), onde também trabalhava como professor auxiliar. A residência dele, um casarão de número 104, ficava na Rua Santo Antônio — centro de São Paulo. Com ele, moravam a sua mãe, Benedita Ferreira de Camargo (56 anos), e as suas irmãs, Maria Antonieta Camargo (23) e Cordélia Camargo (19).

Apesar do abalo emocional após a perda precoce do pai, a família ficou muito bem resguardada com a herança deixada por ele e que era gerida (com vistas grossas) por Benedita Camargo. A mulher ficou responsável por trazer a vida dos filhos em rédeas curtas, administrando as finanças para que eles sustentassem o mesmo padrão de vida imposto pela sociedade paulistana da época.

Benedita contava apenas com os frutos que a formação, o trabalho e os novos contatos do filho mais velho trariam para a família no quesito financeiro. Cordélia cursava Filosofia em uma universidade e trabalhava como datilógrafa, mas o que ela ganhava sustentava apenas os seus caprichos — visto que o trabalho feminino não era considerado meio de renda naqueles tempos. Então, tudo dependia do filho.

Paulo já era tido por conhecidos e vizinhos como um rapaz excêntrico, porém nos últimos meses ele vinha apresentando um comportamento atípico demais, até para os que o conheciam bem. Os reitores da faculdade o repreenderam após ele ter sido reportado efetuando disparos com um revólver enquanto estava sozinho em um laboratório. Quando questionado sobre a situação, Paulo alegou que se tratava de um experimento científico para avaliar os efeitos dos atritos de materiais e elementos químicos que compõem a pólvora. Em adição a isso, o jovem fazia constantes questionamentos ao Dr. Hoffman, de quem era assistente, sobre a decomposição de cadáveres e melhores agentes químicos para corroê-los.

A princípio, a maioria especulava que o moço fosse viciado em ópio, até que alguns aspectos de sua vida começaram a vir à público e atenuaram essa hipótese. Maria Antonieta acabou desenvolvendo uma quadro agudo de esquizofrenia, e todo o tratamento teve que ser bancado por Paulo, já que as despesas da família estavam escassas.

Ele dobrou turnos, deu aulas particulares e cobriu outros amigos professores para conseguir ganhar mais. Foi mais ou menos nesse ínterim que ele começou a ter um romance com a enfermeira Isaltina Amaros, de 23 anos. Porém, para a decepção do jovem, a mulher não foi aceita pela sua família pelo simples fato de não ser mais virgem. Isso teria pesado ainda mais nas costas de Paulo, porém não o impediu de seguir no romance (às escondidas) com a jovem.

Então, ele já havia se afastado drasticamente de seu círculo social e tinha pouca ou quase nenhuma interação direta com a sua família, que estava totalmente estremecida por conta da doença de Maria Antonieta e da possibilidade de ele envergonhar a todos os familiares devido à relação que mantinha com uma mulher “despudorada”.

Um poço no jardim

Casa da família Camargo (Fonte: Terra/Reprodução)Casa da família Camargo. (Fonte: Terra/Reprodução)

No início de outubro de 1948, Paulo Ferreira contratou 2 pedreiros para que construíssem o mais depressa possível um poço artesanal de 5 metros de profundidade no quintal dos fundos de sua casa. Ele justificou para a mãe que a sua intenção era iniciar uma fábrica de adubo caseira para gerar mais renda e que para isso não poderia usar a água encanada. Visto que a mulher não entendia nada do assunto, ela deixou que o filho prosseguisse com a obra. Apenas um vizinho, considerado intrometido demais por todos da vizinhança, chegou a denunciar a obra para a polícia, mas não resultou em nada.

Por volta das 10h do dia 4 de novembro de 1948, Paulo Ferreira deu início a primeira parte de seu plano. Sentado à mesa com Benedita Camargo e Maria Antonieta para almoçar, ele aguardou um tempo até que as doses cavalares do sonífero que derramara na refeição das duas fizesse efeito para poder entrar em ação. 

E, quando isso aconteceu, Paulo executou-as a tiros, encapuzou-as e lançou os seus cadáveres para dentro do poço recém-construído. A segunda parte de seu plano aconteceu às 12h, logo depois que Cordélia chegou do trabalho e recebeu o mesmo destino que o de sua mãe e irmã. Feito isso, o jovem selou a boca do poço.

No dia seguinte, o rapaz comunicou casualmente aos seus amigos de trabalho e a alguns vizinhos que a família faria uma viagem a passeio ao Paraná. Nas 2 semanas seguintes, ninguém o viu em lugar algum. Assim que apareceu, Paulo Ferreira comunicou que eles haviam sofrido um acidente de carro próximo de Curitiba e que só ele havia sobrevivido.

Contudo, nenhum familiar foi informado do funeral das mulheres, tampouco dos detalhes de como tudo havia acontecido. Nenhum acidente foi noticiado nos veículos de mídia — o que era muito incomum acontecer naqueles tempos. Fora isso, as pessoas perceberam que Paulo não demonstrava emoções quando se referia à perda fatal da mãe e das irmãs, tanto que seguiu a sua vida normalmente, chegando até a assumir a sua namorada. Além disso, o rapaz também não apresentou nenhum ferimento aparente.

Fantasmas de um passado

(Fonte: Terra/Reprodução)(Fonte: Terra/Reprodução)

Certos de que havia algo de errado, amigos e familiares exigiram uma investigação por parte da polícia para apurar as lacunas perigosas que haviam na história contada pelo suposto e único sobrevivente.

Finalmente, na tarde de 23 de novembro de 1948, os policiais foram até a casa da família Camargo para interrogar Paulo acerca do acidente que destruiu a sua família. Enquanto ele respondia às perguntas, outros agentes revistaram a casa, mas nenhum vestígio ou outras evidências, como marcas de disparos ou manchas de sangue, foram encontrados. Contudo, eles se depararam com o poço coberto e pediu ao homem que falasse sobre a função dele ali. Apesar de não possuir nenhuma irregularidade, eles entraram em contato com o Corpo de Bombeiros e solicitaram a escavação do poço.

Paulo Ferreira se retirou para ir ao banheiro assim que o trabalho começou, já antevendo que só atravessaria os portões de sua casa algemado. Quando a pungência da decomposição dos cadáveres foi espalhada pelo ar, um tiro rasgou o silêncio junto com ele. No interior da casa, Paulo tinha acabado de cometer suicídio.

Não se sabe ao certo se o crime foi um homicídio doloso (motivado por emoção e paixão) — em vista do impedimento da família para ele manter seu relacionamento amoroso — ou se por motivo torpe, levando em consideração a condição financeira da família e o fato de que o rapaz estava "carregando todos nas costas". No entanto, nada nunca foi definido por falta de provas e depoimentos.

Em 1969, a casa da família Camargo foi demolida, pois parte do terreno onde ficava foi comprado pela Joelma S/A — Importadora, Comercial e Construtora para o início das obras do Edifício Joelma, que se tornaria um trágico marco, com repercussão internacional.

Além disso, o local já tinha uma história bem antes de Paulo Ferreira matar a sua família. O terreno já havia sediado um pelourinho conhecido por ser o local principal de tortura e assassinato de escravos antes da abolição. Explorando mais ainda o histórico do lugar, os escravos sofreram sobre o mesmo chão onde vários índios foram enterrados, cuja ossada foi exumada pelo governo e descartada em qualquer lugar.

Existem relatos de que foi avisado que o terreno era um marco de agouro e que tinha uma energia muito ruim. Aparentemente, ninguém ouviu.

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