Ciência
21/07/2020 às 10:00•3 min de leitura
Muita gente conhece o carismático gênio azul de Aladdin, mas você conhece a criatura mitológica que serviu de inspiração para o personagem? Os jinn (gênios, em tradução para o Português) são entidades que mudam de forma e estão presentes em gerações de histórias árabes.
Ao contrário da sua representação no filme da Disney, os jinn (cuja grafia também pode ser djinn) podem ser tanto maléficos quanto benéficos. Algumas histórias descrevem as figuras como feitas de "fogo sem fumaça".
De acordo com o livro Legends os the Fire Spirits, de Robert Lebling, estes seres são dotados de livre arbítrio e poderes notáveis. Eles já foram chamados de demônios, espíritos, ghouls, dentre outras denominações ao longo dos tempos.
As histórias sobre essas figuras da mitologia percorreram gerações e algumas podem ser assustadoras.
Miniatura persa do século XVI mostrando os jinn ajudando na construção de um muro. (Fonte: Wikimedia Commons)dando humanos
Assim como acontece com grande parte das lendas, não há precisão sobre como a figura do Jinn surgiu. O que se sabe é que as histórias sobre esses espíritos inspiraram a introdução do Islamismo no mundo árabe antes do século VII.
No entanto, apesar de serem mencionados no Alcorão, eles não são adorados pela fé islâmica. Porém, a presença das histórias é forte na cultura da época.
"Poetas da Arábia pré-islâmica frequentemente diziam que eles tinham um jinn especial que era a sua companhia" explica Suneela Mubayi, pesquisadora de literatura árabe, em entrevista ao All That´s Interesting.
Gravura do século XVI mostrando uma batalha contra os jinn. (Fonte: Wikimedia Commons)
Apesar de não serem totalmente compreendidas por estudiosos, sabe-se que as criaturas da mitologia árabe apresentam comportamentos peculiares.
Robert Lebling afirma que os jinn interagem entre si de forma parecida com os seres humanos, ou seja, "casando, tendo filhos, formando comunidades e tribos, comendo, dormindo, brincando e enfrentando julgamentos".
Os seres também podem ter experiências com a humanidade — como até mesmo se apaixonando ou tendo relações sexuais, — o que geraria potencialmente grandes confusões.
"Como entidades espirituais, os jinn são considerados bidimensionais, com a habilidade de viver e operar tanto no domínio visível quando no invisível" escreveu Amira El-Zein, no livro Islam, Arabs, and the Intelligent World of the Jinn.
Na visão da autora, por não terem forma e serem capazes de se transformar tanto em humanos quanto em animais, esses seres mitológicos teriam grande vantagem em nosso mundo.
Representação de um jinn como uma entidade semi-divina no período 713 a 716 A.C (Fonte: Wikimedia Commons)
As lendas da mitologia árabe não estão restritas aos séculos passados. Em 2014, um estudo descobriu que é comum a atribuição de sintomas psiquiátricos aos jinn nas populações islâmicas.
Um relato publicado no BuzzFeed detalhou que uma garota, ao quebrar o colar de outra aluna para praticar bullying, começou a engasgar quando sua língua inchou após o acontecido. Nessa hora, a dona do objeto falou com uma voz masculina, alegando ser um jinn que vinha de longe. No relato, os pais dela afirmaram que compraram a joia de um xamã com a finalidade de manter o espírito preso nele.
Ainda que estes seres não sejam considerados totalmente "bons ou maus", acredita-se que eles sejam capazes de possuir seres humanos. Amira El-Zein ressalta que os árabes pré-islâmicos criaram procedimentos de exorcismo e proteção, que incluíam o uso de contas, incenso, ossos e sal.
Muitas aparições são reportadas na cidade de Bahla, em Omã. Harib al-Shukhaili, um exorcista local, afirmou que já tratou mais de 5 mil pessoas. Em entrevista ao All That´s Interesting, ele afirma que este é o fardo que a cidade carrega.
As histórias sobre estas criaturas mitológicas foram compartilhadas por milhares de pessoas de várias partes do mundo por diversas gerações. De acordo com Robert Lebling, os seres desempenharam um papel fundamental na literatura, cultura e sistema de crenças do Oriente Médio e do mundo islâmico.
Além das várias representações de gênios em filmes e livros de fantasia, o recente lançamento da série da Netflix, Jinn, mostra que a lenda ainda ressoa com força no mundo atual.