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22/10/2020 às 14:00•4 min de leitura
Desde pequena, o sonho de Kelly Campbell sempre foi ser rica, inclusive ela gostava de falar isso para sua mãe o tempo todo. O desejo de Campbell era não ter que se preocupar com o dinheiro de aluguel, pagamentos, contas atrasadas e tudo mais. Ela queria ser feliz, pois milionários eram felizes dirigindo seus carros importados, vivendo sofisticadamente, usando diamantes e se vestindo bem em lugares paradisíacos.
A realidade de Campbell era muito diferente. Para ela, os ricos também eram as pessoas que não tinham que trabalhar 3 turnos em uma fábrica de tecidos nem fazer horas extras varrendo estacionamentos, tampouco abandonar a escola porque tiveram um filho aos 17 anos. Essa era sua vida no Condado de Gaston, na Carolina do Norte (EUA).
Paralelamente, David Scott Ghantt também se queixava da vida medíocre que tinha. Apesar de ele ser o supervisor noturno do cofre da Loomis, Fargo & Co. (uma empresa de transporte de dinheiro) e ver milhares de dólares todos os dias, ele era mal pago. Ghantt trabalhava de 75 a 80 horas semanais por US$ 8,15 a hora, mal tinha tempo de voltar para casa e era extremamente infeliz.
“Eu me sentia encurralado, até que um dia, na sala de descanso, surgiu uma piada sobre roubar o lugar. De repente, a ideia não me pareceu tão ridícula assim”, declarou ele em uma entrevista.
Ex-veterano de guerra da linha de frente na Guerra do Golfo, Ghantt nunca teve problemas com a lei. Ele seguiu uma vida correta, conseguiu um trabalho, conheceu sua esposa e se casou. Toda a rotina comum de sua vida, inclusive o próprio casamento, perdeu ainda mais o sentido depois que ele conheceu Kelly Campbell, em novembro de 1996.
Os dois começaram a se envolver enquanto ela ainda trabalhava na Loomis. Eles negam que tenham sido amantes, mas tudo sempre apontou para essa possibilidade. No entanto, o que importa é que foi Campbell que incentivou a ideia de roubar o banco.
Durante uma conversa, Steve Chambers, um vigarista amigo de infância de Campbell e ex-informante do FBI, sugeriu a ela que roubassem o Loomis, Fargo & Co. A mulher gostou da ideia e a passou para Ghantt, que também concordou.
O roubo teria a ajuda de Chambers, sua esposa, Michelle, Michael Gobbies e outros 4 comparsas. O plano seria Ghantt permanecer no cofre até depois de seu turno da noite para deixar os 4 cúmplices entrarem no cofre e encherem uma van com a quantidade que conseguissem de dinheiro. Ghantt, por sua vez, fugiria com US$ 50 mil, a quantia máxima legalmente autorizada para cruzar a fronteira dos Estados Unidos com o México.
Para não levantar suspeitas, Chambers ficaria com a maior parte do dinheiro e transferiria para Ghantt de acordo com suas necessidades. Assim que a poeira abaixasse, Ghantt voltaria ao país para que pudessem dividir igualmente a quantia roubada.
Na noite de 4 de outubro de 1997, Ghantt autorizou que um funcionário que ocupava o turno noturno fosse embora. Para poder dar início ao roubo, ele desativou duas câmeras de segurança instaladas perto do cofre. No entanto, ele não conseguiu desativar a terceira câmera e confessou mais tarde que simplesmente esqueceu. Esse foi o seu maior erro.
Foi só depois que a van encostou e eles abriram o cofre que perceberam o problema: os fardos de dinheiro eram pesados. A quadrilha passou a somente lançar para dentro do veículo o máximo de dinheiro que conseguiam pegar até que não coubesse mais – o roubo inteiro durou cerca de 1 hora. Apesar do esforço, eles conseguiram roubar US$ 17 milhões, muito mais do que pretendiam.
Sendo assim, como planejado, Ghantt fugiu para o México e se hospedou na ilha-resort de Cozumel, na Península de Yucatán.
Na manhã seguinte, foram os funcionários que notaram algo de errado quando chegaram para trabalhar. O FBI rapidamente foi acionado e apontou Ghantt como o principal suspeito do roubo, visto que era o único funcionário que não aparecera para seu turno.
A suspeita foi confirmada quando os investigadores resgataram as imagens da terceira câmera que Ghantt não conseguiu desativar, onde mostrava toda a cena do crime, principalmente o homem carregando as pilhas de dinheiro para a van blindada.
O veículo foi encontrado 2 dias depois com cerca de US$ 3, 3 milhões deixados para trás. Eles também encontraram a caminhonete de Ghantt abandonada em um depósito.
Apesar do roubo bem-sucedido, o amadorismo do crime foi entregando a quadrilha aos poucos. Entretanto, interceptar e conectar todos os membros da quadrilha ao crime foi uma tarefa um pouco difícil.
Mesmo sabendo que gastar toneladas de dinheiro logo depois de um roubo era como desenhar um alvo nas costas, Campbell e Chambers não conseguiram se conter.
Uma semana depois do crime, Chambers e a esposa compraram um conversível branco e uma BMW Z3. Michelle começou gastando na butique Susan C. Anthony, em Lincolnton, na Carolina do Norte, inventando conversas sobre como seu marido era um rico dono de cassinos em Atlantic City. Além disso, o casal se mudou do trailer onde viviam para uma mansão de luxo avaliada em US$ 635 mil.
Michelle Chambers denunciou a sua posição quando perguntou ao caixa do banco qual era a quantia que poderia depositar sem que fosse denunciada aos federais. Achando estranho a pergunta, o profissional do banco preencheu um relatório de atividade suspeita e rapidamente o FBI encontrou o casal, passando a monitorá-los.
O FBI só conseguiu localizar Ghantt após interceptar uma ligação de Chambers em que o ex-veterano de guerra pedia mais dinheiro para poder ficar no resort. Foi então que os investigadores também descobriram que Chambers estava cansado das demandas de Ghantt e tinha decidido contratar um assassino de aluguel para dar um fim no comparsa.
Em primeiro de março de 1998, o FBI prendeu Kelly Campbell. No mesmo dia, pegaram David Scott Ghantt no hotel de luxo onde estava hospedado. No dia seguinte, a polícia federal invadiu a mansão dos Chambers, prendeu o casal e todos os cúmplices.
Em 12 de março, os 8 membros da quadrilha foram indiciados por lavagem de dinheiro e furto a banco. Os cúmplices receberam liberdade condicional, mas Steven e Michelle Chambers foram condenados a 11 anos e 3 meses de prisão federal, bem como multados em uma quantia de US$ 3,5 milhões. Ghantt encarou 7 anos e 8 meses de prisão e teve que pagar uma multa de US$ 26 mil. Com insistência judicial, ambos terminaram a pena em 2006.
Em 2016, Jared Hess dirigiu a comédia Masterminds (“Gênios do Crime”), baseada no crime que se tornou o segundo maior roubo da história dos Estados Unidos naquela época, embora tenha sido o primeiro e mais cômico de todos.