A Ordem do Templo Solar acreditava ser os cavaleiros templários

18/02/2021 às 15:004 min de leitura

Depois que os francos tomaram Jerusalém do controle dos muçulmanos, no final do século XI, durante a Primeira Cruzada, vários peregrinos vindos da Europa Ocidental passaram a visitar a Terra Santa. Entretanto, a maioria foi barbarizada e assassinada enquanto tentava atravessar do litoral de Jaffa até o interior de Jerusalém por meio de alguns dos estados cruzados (Outremer) – territórios que ainda eram sitiados pelos muçulmanos.

Foi pensando nesse massacre sistemático que, em meados de 1118, o cavaleiro francês Hugo de Payens pediu permissão ao rei Balduíno II de Jerusalém para criar uma espécie de ordem para defender esses peregrinos. Com o aval do rei dado no Concílio de Troyes, em 1128, Payens juntou-se a mais 8 pessoas, dentre parentes e conhecidos, e fundou a organização militar Companheiros-Soldados Pobres de Cristo e do Templo de Salomão, que mais tarde foi alterada para Cavaleiros Templários.

(Fonte: Pinterest/Reprodução)
(Fonte: Pinterest/Reprodução)

O objetivo da ordem era matar e morrer por Jesus Cristo, por isso o código de conduta, com 72 regras escritas por Bernardo de Claraval, seguia proibições severas, como beber e ter relações sexuais. A oração era o caráter principal da regra monástica, principalmente a cada vitória no campo de batalha.

Os cavaleiros eram austeros e implacáveis, e o legado deles era absurdo. Empunhando a Bíblia junto de seus próprios desígnios de conduta, eles contagiaram muitas mentes ao longo dos séculos.

“Eu sou a reencarnação”

Luc Jouret. (Fonte: Daily Telegraph/Reprodução)
Luc Jouret. (Fonte: Daily Telegraph/Reprodução)

De acordo com o próprio irmão, Luc Jouret era um homem que amava o esporte. Nascido em 18 de outubro de 1947, no então Congo Belga (atual Zaire), na África, Jouret não foi uma criança forte, porém buscou o porte atlético quando atingiu a adolescência. Ele associava preparo físico a poder, e isso ficou claro enquanto ele cumpria o serviço militar e disse a um de seus amigos paraquedistas que “ajudaria o comunismo a limpar o exército”. Nessa época, aos 20 anos, ele era estudante de Medicina pela Universidade Livre de Bruxelas e participante ativo de um grupo chamado Juventude Comunista de Valônia.

Depois que se graduou, em 1974, Jouret trabalhou como cirurgião, mas acabou se interessando pela medicina alternativa, especificamente a homeopatia, indo exercê-la em Borinage, uma região belga de mineração. Em 1977, o médico viajou para as Filipinas e ficou obcecado pelo tratamento psíquico dos curandeiros locais feito pela imposição de mãos. Consumido por esse ramo não tradicional e científico, ele chegou a ir para a China e Índia a fim de se aprofundar.

Joseph Di Mambro. (Fonte: IMDb/Reprodução)
Joseph Di Mambro. (Fonte: IMDb/Reprodução)

O início da década de 1980 foi marcado pela total obsessão de Luc Jouret acerca de questões místicas, paranormais e de saúde holística, tanto que dava muitas palestras em Annemasse, na França, para plateias que ficavam fascinadas por ele. Foi durante uma delas que ele se tornou amigo íntimo de Joseph Di Mambro, integrante do grupo suíço Nova Era e também ex-membro da Antiga e Mística Ordem Rosacruz. 

Assim, foi Di Mambro quem o convenceu a se afiliar à Ordem Renovada do Templo, uma das várias organizações ocultistas da década de 1970, fundada por Julien Origas, segundo a qual reunia os sucessores dos Cavaleiros Templários.

Em dado momento, consumido pelas próprias convicções e pelo o que ouvia, Jouret estava certo de que era a reencarnação de Jesus Cristo em um cavaleiro templário moderno, tanto que ele tentou assumir o controle da organização quando Origas morreu e, por isso, foi expulso. Em 1984, junto de Di Mambro, eles fundaram a Ordem do Templo Solar, tendo Jouret como o rosto do culto e recrutador e Di Mambro como o coordenador de tudo.

Em nome do Pai

(Fonte: Pinterest/Reprodução)
(Fonte: Pinterest/Reprodução)

A Ordem do Templo Solar combinava crenças egípcias com xamanismo, catolicismo, preceitos da Rosacruz e teorias do Armagedom em rituais místicos que tentavam remontar as práticas dos Cavaleiros Templários. Em um sistema hierárquico parecido com o da antiga organização, eles acreditavam que auxiliariam a humanidade em se transformar para poder se preparar para a Segunda Vinda de Cristo, promovendo a unificação de todas as igrejas cristãs e islâmicas.

O culto tinha um sistema rígido e seleção de membros, os quais tinham que contribuir financeiramente por meio de doações e aceitar o código de conduta. Em 1986, com alguns seguidores recrutados, o grupo estabeleceu sua sede no Canadá, em um complexo de chalés comprado por Di Mambro em Morin-Heights, a 80 quilômetros ao norte de Montreal.

(Fonte: Film Daily/Reprodução)
(Fonte: Film Daily/Reprodução)

Rose-Marie Klaus e seu marido contribuíram com US$ 500 mil para que o local fosse erguido e se mudaram da Suíça para o Canadá. “Jouret disse que um grande cataclismo aconteceria e que apenas os eleitos sobreviveriam. Ele nos persuadiu a deixar tudo para trás. Ele dizia que não iríamos querer ir contra o Cristo encarnado”, revelou a mulher à Rádio Canada, em 1993.

Dois terços da seita eram mulheres, e Jouret deixou claro que o plano era realizar “casamentos cósmicos” para unir até 100 famílias que sobreviveriam ao fim do mundo.

A estrutura

(Fonte: Pinterest/Reprodução)
(Fonte: Pinterest/Reprodução)

A ascensão dentro do grupo ocorria por meio de pagamentos e quase sempre envolvia a compra de joias caras, alimentos, fantasias e roupas de grife. Durante as cerimônias, os membros vestiam túnicas e provavam um pouco do gosto do que era ser um guerreiro segurando uma espada que Di Mambro alegava ser um “autêntico artefato templário de mil anos”, dado a ele em vidas passadas.

A Ordem do Templo Solar somava mais de 400 seguidores espalhados entre França, Canadá e Suíça. Enquanto eles acreditavam que Jouret era um homem carismático, detentor dos mistérios da natureza e do espiritualismo, a polícia descobriu que ele tinha um lado sombrio, assim como a sua organização. A seita estava envolvida em tráfico de armas, lavagem de dinheiro e atividades paramilitares. Em 1997, uma investigação canadense levantou que o líder estava por trás de um grupo chamado de Q-37, que visava assassinar Claude Ryan, o Ministro de Segurança Pública da época.

A última ceia

(Fonte: Toronto Sun/Reprodução)
(Fonte: Toronto Sun/Reprodução)

Em meados de outubro de 1994, o filho de 3 meses do seguidor Emmanuel Dutoit foi esfaqueado até a morte com uma estaca de madeira na sede do culto. Di Mambro teria ordenado o assassinato porque alegou que a criança era “o anticristo que queria encarnar para minar suas forças de salvá-los do Juízo Final”. Em seguida, em uma recriação da Última Ceia, 12 membros cometeram suicídio, sendo que 30 foram fuzilados e mais 8 morreram por asfixia. Os chalés foram incendiados, e os líderes tiraram a própria vida.

Na Suíça, as vítimas que também se mataram foram encontradas pela polícia em uma capela subterrânea, cheia de espelhos e símbolos templários. Todos estavam vestidos com túnicas, caídos em um círculo e com sacolas plásticas na cabeça. No local, também havia cartas nas quais estava escrito que eles estavam escapando da “hipocrisia e opressão do mundo”. Até 1997, mais pessoas foram assassinadas ou cometeram suicídio (por autoimolação ou envenenamento) em outras bases da Ordem do Templo Solar.

(Fonte: ABC News/Reprodução)
(Fonte: ABC News/Reprodução)

Ex-membros da sede no Quebec que sobreviveram relataram à polícia que a seita já vinha sofrendo tensão antes das mortes e que seria por causa de uma disputa de poder entre Jouret e Di Mambro. No entanto, ninguém sabe o que exatamente fez os dois homens acabarem com tudo tão de repente.

A polícia acredita que tudo foi feito como um expurgo às ameaças à liderança de Jouret, como forma de retaliação ao fato de a filial europeia não querer mais enviar dinheiro ao Quebec. Por outro lado, muitos acreditam que Jouret foi engolido de maneira irreversível por sua crença, visto que em seus documentos ele falava muito sobre “estarem prestes a dar um salto na macroevolução” e que “tudo estava sendo consumido e perto do fim”.

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