Artes/cultura
14/01/2021 às 03:00•3 min de leitura
No condado de Elbert, no estado da Geórgia, nos Estados Unidos, há cinco pilares de granito sob uma laje que medem 5,87 metros de altura. Eles estão astronomicamente alinhados e possuem inscrições em inglês, espanhol, suáli, hindi, hebraico, árabe, chinês e russo.
Pesando 107,840 kg no total, o monumento se chama Pedras Guias da Geórgia (Georgia Guidestones), de acordo com uma placa posicionada a uma curta distância da base da estrutura. Popularmente, acabou ficando conhecida como “Stonehenge Americano”.
No entanto, ao invés da aura de mistério ao redor do verdadeiro Stonehenge, as Pedras da Geórgia causam em algumas pessoas uma mistura de repulsa, medo e fascinação ao mesmo tempo. Tudo isso porque o monumento foi erguido para quando o Apocalipse acontecer.
Tudo começou com um homem chamado Robert Christian, porém esse não era seu nome verdadeiro, e ninguém nunca descobriu sua identidade. Era uma sexta-feira de junho de 1979, quando ele entrou no escritório da Elberton Granite Finishing, uma famosa fábrica de granito que fica no condado de Elbert. Christian falou com Joe Fendley, o presidente da empresa, e disse que era o representante de um grupo anônimo de “americanos leais” que em segredo planejava há 20 anos um monumento em pedra. De acordo com Christian, o grupo escolhera a Granite Finishing porque ela possuía o melhor produto da Terra.
Indo direto ao assunto, o homem misterioso revelou que a estrutura serviria como uma espécie de bússola, calendário e relógio, e que precisava ser resistente o suficiente a qualquer tipo de evento catastrófico. Ele entregou um manual de 10 páginas de especificações muito complexas sobre como as Pedras deveriam ser feitas. O empreendimento seria construído em uma porção de terra de 2 hectares da fazenda de Wayne Mullinex, que o grupo compraria assim que o acordo fosse fechado. O local fica a uma altitude de 230 acima do nível do mar e a 14 km ao norte do centro da cidade de Elberton.
Fendley achou o projeto lunático, por isso decidiu desencorajar o homem apresentando preços exorbitantes, colocando a própria comissão muito maior do que qualquer projeto que a empresa já havia feito. Por incrível que pareça, Christian disse que pagaria o valor que fosse.
Quando indagado pelo empresário o porquê daquilo tudo, Christian revelou que precisava das pedras para que a civilização pudesse se restaurar após o Apocalipse que aconteceria em um futuro indeterminado. Ele acreditava que a raça humana levaria a Terra ao extremo, por isso o fim do mundo seria a única solução. As Pedras estariam lá para fornecer as instruções necessárias para florescer uma próxima geração melhor.
Assim que o pagamento foi feito e o empreendimento começou a ser feito, Robert Christian passou da empresa e anunciou para Fendley: “Você nunca mais me verá”. E assim aconteceu.
Em 22 de março de 1980, as Pedras Guias da Geórgia ficaram prontas e o público se deparou com os “Dez Mandamentos para uma Nova Ordem”, uma série de instruções escritas ao longo das Pedras e que foram interpretadas por muitos como carregadas de eugenia das raças, controle populacional e internacionalismo.
Segundo as convicções dos criadores do monumento, a nova civilização que nasceria do Apocalipse precisaria seguir os seguintes mandamentos para que não caíssem em miséria e destruição novamente:
1. Manter a humanidade abaixo de 500 milhões de habitantes e em perpétuo equilíbrio com a natureza.
2. Conduzir a reprodução sabiamente, aperfeiçoando a aptidão física e a diversidade.
3. Unir a humanidade por meio de um novo idioma vivo.
4. Controlar a paixão – fé – tradição – e todas as coisas com razão moderada.
5. Proteger povos e nações com leis e tribunais justos.
6. Permitir que todas as nações regulem-se internamente, resolvendo disputas externas em um único tribunal mundial.
7. Evitar leis insignificantes e funcionários públicos desnecessários.
8. Equilibrar direitos pessoais com deveres sociais.
9. Valorizar a verdade, beleza e amor, procurando harmonia com o infinito.
10. Não ser um câncer sobre a Terra, deixando espaço para a natureza.
As Pedras sofreram críticas duras, principalmente do ministro local, James Travenstead, que disse que muitos grupos ocultistas se aglomerariam ao redor do monumento e que algum tipo de sacrifício humano ainda seria feito no local. Logo as Pedras foram apelidadas de os “Dez Mandamentos do Anticristo”.
Com o passar dos anos surgiu uma grande onda de apoiadores, porém os opositores ainda se mantém firmes, tanto que as palavras “Morte à Nova Ordem mundial” foram pichadas em 2009 em uma das pedras, configurando o primeiro ato sério de vandalismo desde a criação delas.
O monumento ainda é alvo de teorias da conspiração, ataques e adoração de grupos extremistas, porém é considerado um marco para a história dos Estados Unidos, apesar de muitos acharem ultrajante. Seja como for, as Pedras continuam lá, imponentes e à espera do Apocalipse.