Ciência
24/02/2021 às 12:00•3 min de leitura
ATENÇÃO: esse texto pode trazer conteúdos sensíveis por abordar um caso real.
A última semana de dezembro de 1992 foi extremamente agitada nos noticiários brasileiros. Além do pedido de renúncia do então presidente da república, Fernando Collor de Mello, um acontecimento causou grande comoção nacional: o caso Daniella Perez.
Conhecida por ser filha da célebre escritora e roteirista Glória Perez, Daniella foi morta a facadas e encontrada em um matagal na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Na época, a atriz fazia par romântico com o ator Guilherme de Pádua na novela Corpo e Alma. Segundo o relatório da polícia, o crime foi premeditado e teve participação de duas pessoas.
Aos 22 anos de idade, Daniella despontava como uma das atrizes mais promissoras da Rede Globo. Em 1989, ela chegou a assumir o papel de Eduarda na novela Kananga do Japão, na qual conheceu e se apaixonou pelo ator Raul Gazolla, com quem se casou em 1990.
Porém, 1992 veio como “um balde de água fria” nos planos da carreira da jovem. Após o término diário das gravações de Corpo e Alma, por volta das 21h, Daniella e Guilherme saíram junto dos estúdios da Globo em direção a seus carros, sendo abordados por alguns fãs no caminho.
O ator, acompanhado da esposa, Paula Thomaz, saiu na frente dirigindo um Santana, e a filha de Glória Perez foi logo atrás em um Escort. No meio do trajeto para casa, Guilherme parou em um acostamento da via, e ele e Paula prepararam uma emboscada para capturar e assassinar Daniella.
Percebendo que Daniella havia parado para abastecer seu veículo, Guilherme foi até o posto de gasolina no qual o Escort estava estacionado e trancou a saída. Ao perceber que se tratava de seu parceiro de profissão, a atriz global foi averiguar o que estava acontecendo. Foi então que o criminoso desferiu um soco no rosto dela, nocauteando-a.
Guilherme deitou a vítima no banco de trás do carro e pediu para que Paula conduzisse o Santana em direção a um matagal na Barra da Tijuca enquanto realizava o mesmo trajeto com o carro de Daniella. Após estacionar os carros na rua Cândido Portinari, o casal carregou a vítima desmaiada para dentro da mata e desferiu 18 golpes de faca que causaram a morte da jovem. Foram quatro perfurações no pescoço, oito no peito e seis na região dos pulmões.
Em um primeiro momento, acreditava-se que a arma utilizada no crime tinha sido uma tesoura, porém a autopsia confirmou que o objeto seria semelhante a um punhal, visto que a modelagem da tesoura deixaria algum tipo de ferimento nas mãos dos assassinos. A polícia suspeita que Guilherme tenha jogado o instrumento no mar durante um passeio por Copacabana para se livrar de qualquer ligação com o crime.
No dia seguinte, as fotos de Daniella Perez morta estampavam a capa de todos os jornais do Brasil. De maneira muito fria, Guilherme chegou a ir ao enterro da atriz e consolou Glória Perez, Raul Gazolla e os demais amigos presentes. Entretanto, no mesmo dia, o casal acabou confessando a autoria do crime para as autoridades locais.
A revelação teria acontecido após uma testemunha entrar em contato com a polícia. A pessoa tinha anotado a placa de um dos carros parados de maneira suspeita na Barra da Tijuca, o que levou as autoridades a encontrarem o Escort da atriz parado na via e o corpo dela largado entre as árvores.
Com a descrição feita pela testemunha, os policiais descobriram que Guilherme havia adulterado a placa de seu veículo com fita isolante, evidenciando que o crime fora premeditado. Apesar de a motivação para o assassinato de Daniella nunca ter sido revelada, estima-se que o ator teria ficado irritado por seu personagem ter sido cortado de dois capítulos da novela e acreditava que atriz teria influenciado a mãe, que era a roteirista do programa.
Guilherme e Paula foram acusados de homicídio qualificado por motivo torpe e por terem utilizado recursos para dificultar a defesa da vítima, descartando qualquer possibilidade de homicídio culposo (quando não há intenção de matar). Em 1997, ambos foram condenados a 19 anos de prisão, com a mulher tendo redução de pena de 6 meses por ter menos de 21 anos na data do fato.
Os dois foram liberados antes de cumprirem 7 anos de prisão, em 1999, pois a lei garante liberdade condicional para detentos com bom comportamento após um terço da sentença ter sido cumprida.
Atualmente, Paula mora no Rio de Janeiro com o filho Felipe e uma criança fruto do casamento com o atual marido. Guilherme retornou para sua cidade natal, Belo Horizonte (MG), e passou a trabalhar em uma igreja evangélica na qual conheceu a atual esposa.