Ciência
24/02/2021 às 15:00•3 min de leitura
Uma matéria publicada em 14 de julho de 2002 no The New York Times chocou as pessoas após os atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos. Lawrence Boisseau era diretor de segurança de incêndio no World Trade Center naquela época, e sua mulher relatou que 1 dia antes do ataque terrorista ele acordou agitado no meio da madrugada dizendo que sonhou com as torres caindo. Ela o tranquilizou e disse que tinha sido apenas um pesadelo. Boisseau perdeu a vida no dia seguinte enquanto resgatava crianças da creche que havia no complexo.
Em 26 de setembro de 2011, Mikey Welsh, ex-baixista da famosa banda Weezer, escreveu no Twitter que sonhou que morreria de parada cardíaca depois de 2 semanas em um quarto de hotel em Chicago e chegou a ironizar a situação ao dizer que precisava escrever seu testamento naquele dia. Às 13h de 8 de outubro daquele ano, o músico de 40 anos foi encontrado morto no chão do quarto do Hotel Raffaello, em Chicago, por um funcionário do local. O laudo médico indicou parada cardíaca por overdose de drogas.
Alguns dias antes de Abraham Lincoln entrar no Ford Theatre na fatídica noite de 15 de abril de 1865, quando teve sua vida tirada por John Wilkes Booth, ele teve um sonho. O então presidente dos Estados Unidos contou ao amigo pessoal e guarda-costas Ward Hill Lamon que entrava na Sala Leste da Casa Branca e via um cadáver cercado por soldados e pessoas em luto.
Quando ele perguntava quem havia morrido, um dos soldados respondia: “O presidente. Ele foi morto por um assassino”. E foi exatamente assim que aconteceu. De acordo com Mary Todd Lincoln, esse foi o motivo para que o marido iniciasse um súbito interesse por sonhos e seus significados.
Você já teve aquela incômoda sensação de que algo ruim ia acontecer? Religioso ou não, como você reage ao fato de que existem pessoas que previram a própria morte ou antecipadamente se viram em situações de perigo? No fim das contas, a pergunta que não quer calar é sempre a mesma: é possível prever a morte?
Espiritualmente, a maioria dos estudiosos diz que sim. Em 1700 a.C., os povos babilônios já interpretavam sonhos premonitórios e acreditavam neles; a Igreja Católica inclusive aceitou essa previsão como uma espécie de “arauto divino” indicando o caminho para esses indivíduos ou concedendo a oportunidade de se livrarem de malefícios futuros.
Em algumas doutrinas sobre espiritualidade, entende-se que esse tipo de sentimento partiria de uma espécie de “chamado do próprio espírito” — que conheceria o caminho que o “ser mundano carnal” ainda não conhece — ou que seria um chamado de alguma entidade angélica protetora, conhecida por muitos como anjo da guarda.
Entender como esse mecanismo funciona transcendeu o âmbito da espiritualidade e se tornou interesse científico, uma vez que tentar explicá-lo virou um jogo muito difícil que revela mais sobre os mistérios da vida do que a existência de forças divinas.
O psicólogo Wellington Zangari, que ministra uma disciplina eletiva de graduação na Universidade de São Paulo (USP) sobre introdução à psicologia da religião, recebeu mais de 800 interessados para uma turma de 90 alunos em um semestre. Esses acadêmicos estão nos mais diversos cursos, como Psicologia, Física, Engenharia Naval, Biologia e até Medicina. Zangari acredita que metade dessas pessoas quer compreender como acontecem os sonhos premonitórios, as experiências telepáticas, a projeção astral, as experiências de quase morte e a mediunidade.
Richard Wiseman, professor de Entendimento Público da Psicologia na Universidade de Hertfordshire, no Reino Unido, enxerga os sonhos premonitórios como uma coincidência. Ele aponta que os seres humanos sonham mais do que pensam, gerando um amontoado de imagens diferentes dentro da mente. A maioria delas, porém, é esquecida e acaba sendo desencadeada por algo futuro, o que leva a supor que se “previu magicamente o futuro”, quando, na realidade, foram apenas as leis da probabilidade falando.
Quanto aos sonhos que predizem acidentes, mortes e fenômenos da natureza, Wiseman argumenta que podem ser influenciados por ansiedades pessoais. Se não houver um registro do sonho antes do evento, então a consciência da pessoa pode “distorcer o sonho para que ele se adeque melhor aos eventos”.
Apesar disso, o professor diz que as pesquisas psíquicas que estudou ao longo de 20 anos de carreira o convenceram de que a parapsicologia está cada vez mais certa em tantas questões que a ciência jamais conseguirá refutar.
Apegado à Lei dos Grandes Números, Wiseman ressalta que, nos sonhos que correspondem a eventos futuros em uma série de detalhes muito específicos, a probabilidade estatística não consegue se sustentar. Ou seja, os sonhos premonitórios deveriam sempre ser levados a sério.