Cerco de Waco: tragédia ou chacina federal?

08/03/2021 às 15:004 min de leitura

O Ramo Davidiano é um movimento religioso que foi criado por Benjamin Roden em 1955, como uma ramificação da Associação Geral do Ramo Davidiano Adventista do Sétimo Dia, fundada pelo profeta búlgaro Victor Houteff em 1935. Inspirado pela doutrina adventista cristã que predominou no final do século XIX na América, hoje já tem mais de 19 milhões de adeptos no mundo todo.

Houteff pregava que o Messias presente no livro bíblico de Isaías não era Jesus, mas sim alguém que ainda estava por vir. Sendo assim, ele entendeu que deveria criar um futuro “reino davídico”, espelhando o império do Rei Davi para quando o iminente Apocalipse chegasse. 

Em 1935, ele comprou um complexo que intitulou de Centro Monte Carmelo, localizado a oeste da cidade de Waco, no Texas (EUA), onde “profetizou” que ali seria o início de um novo reino após o fim do mundo.

A ascensão

David Koresh. (Fonte: Pinterest/Reprodução)David Koresh. (Fonte: Pinterest/Reprodução)

Em 1955, com a morte de Houteff, foi o ex-seguidor Benjamin Roden que assumiu o Ramo após declarar que teria ouvido Deus lhe dizer que era o escolhido para liderar aquela missão. Quando o mundo não acabou, como a viúva Florence Houteff previra, ela abandonou o movimento, que acabou se diluindo pela convergência de opiniões – e assim nasceu o Ramo Davidiano.

Em 1981, Vernon Howell, então com 22 anos, mudou-se para Waco e juntou-se aos davidianos no complexo. Proveniente de uma família instável, ele dizia ter “nascido de novo” na Igreja Batista do Sul, sendo que, aos 19 anos, já havia-se envolvido em um escândalo por ter-se relacionado com uma garota de 15 anos. Ele migrou para a Igreja Adventista do Sétimo Dia, mas foi expulso após perseguir e assediar a filha do pastor dizendo que Deus a queria como esposa dele.

Autodeclarado com o "dom da profecia", Howell ganhou poder e respeito dentro do Ramo. Quando o então líder, George Roden (filho de Benjamin Roden), foi preso por assassinato, ele assumiu o controle do complexo. Em 1990, Howell mudou seu nome para David Koresh, em homenagem aos reis bíblicos David e Ciro (Koresh é a versão hebraica do nome), e disse que iniciaria uma nova linhagem de líderes mundiais.

Formulando o plano

(Fonte: Dallas Morning News/Reprodução)(Fonte: Dallas Morning News/Reprodução)

Koresh alegou que era o messias, portanto qualquer filho que nascesse dele seria sagrado. A partir disso, o Waco Tribune Herald divulgou uma série chamada O Messias Pecador, relatando supostos abusos físicos e sexuais cometidos por Koresh dentro da comunidade, tendo gerado mais de 13 filhos em mulheres e jovens menores de idade. No entanto, todas as investigações feitas na época não obtiveram nenhuma evidência dessas acusações.

Em maio de 1992, a Agência de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos (ATF) foi notificada pelo subchefe do departamento do xerife do Condado de McLennan, que um entregador identificou armas, munições e granadas em uma entrega ao Ramo Davidiano, após o pacote se romper com o peso do conteúdo.

(Fonte: ATF/Reprodução)(Fonte: ATF/Reprodução)

A ATF iniciou uma investigação em junho daquele ano, monitorando os passos de Koresh por meio de uma casa do outro lado da rua onde ficava o complexo. Eles até enviaram um agente secreto, Robert Rodriguez, para se infiltrar no movimento.

Depois de meses de tocaia, a ATF conseguiu um mandado de busca e apreensão no complexo de Koresh, sob a justificativa de que o líder operava um laboratório de metanfetamina e acumulava um arsenal de armas não regulamentadas.

A guerra de Waco

(Fonte: Entale/Reprodução)(Fonte: Entale/Reprodução)

O agente Ramirez contou que os discípulos davidianos estavam orando quando Koresh revelou que sempre soube de seu disfarce e pediu a ele que fosse embora. Foi relatado que o líder ordenou aos homens se armarem para assumir posições defensivas, enquanto as mulheres e as crianças foram instruídas a se protegerem em seus quartos.

O comboio de veículos da ATF chegou às 9h45 de 27 de fevereiro de 1993, com agentes uniformizados, como a SWAT. Mais tarde, um dos sobreviventes ao ataque disse que os primeiros tiros vieram dos agentes da ATF que, por sua vez, alegaram que eles só dispararam depois que foram atacados pelos religiosos.

(Fonte: ABC News/Reprodução)(Fonte: ABC News/Reprodução)

Koresh foi ferido na mão e no estômago nos minutos iniciais da operação. Wayne Martin, um dos membros do movimento, ligou para o serviço de emergência implorando para que os agentes parassem de atirar. Há gravações dele gritando: “São eles atirando, não somos nós!”. Às 4h20, o complexo de Waco havia-se tornado um campo de batalha, com direito a lançamento de bombas de gás lacrimogêneo e rajadas de metralhadoras sem parar, e isso não era nem o começo.

Perante a impenetrabilidade do complexo, foi feito um cerco em Waco que durou 51 dias e foi televisionado para o mundo todo. Depois de uma negociação de 60 horas, o FBI conseguiu fazer Koresh liberar alguns davidianos. As autoridades ergueram uma força-tarefa militar que ficou conhecida como "a operação mais poderosa da história dos Estados Unidos contra civis". No total, foram mais de 890 agentes, com 4 veículos de combate militar, 10 tanques Bradley e 2 tanques Abrams. Eles usaram alto-falantes gigantescos que tocavam música pesada 24 horas por dia para impedir o descanso dos religiosos e forçá-los a se renderem.

A controversa

(Fonte: Houston Public Media/Reprodução)(Fonte: Houston Public Media/Reprodução)

O então presidente Bill Clinton deu autorização para que a procuradora-geral, Jane Reno, permitisse que o FBI fizesse a tomada do complexo em Waco. Com gás lacrimogêneo e artilharia pesada, os agentes invadiram o local às 12h, de 19 de abril daquele ano, dando início a vários focos de incêndio no local. De 80 davidianos que ainda estavam no complexo, 79 morreram no local, sendo que 25 destes eram crianças. Apenas 4 agentes da ATF foram mortos no conflito, mas 16 ficaram feridos.

“Eles receberam o que procuravam”, assim foi  definido o que aconteceu no cerco de Waco pela maioria da mídia e do público. A todo o momento, a imprensa deu razão para a invasão simplesmente porque consideravam os davidianos como uma "seita", de repente os descaracterizando como cidadãos. O presidente Clinton, inclusive, foi um dos que declararam nacionalmente que o governo dos EUA não tinha culpa que um “bando de fanáticos religiosos resolveu se matar”.

Por outro lado, o caso foi lido como uma ultrapassagem ilegal do governo e a consequência dos abusos da agressividade federal. Os grupos extremistas de direita enxergaram o ataque como o comportamento de um governo ilegítimo e tirânico que mata a própria sociedade e que é responsável por motivar pessoas como o terrorista Timothy McVeigh a decretar guerra à força federal.

(Fonte: Dallas Morning News/Reprodução)(Fonte: Dallas Morning News/Reprodução)

A Dra. Megan Goodwin, pesquisadora sobre minorias e religiões americanas na Universidade Privada de Boston, ressaltou que a mídia e o governo terem rotulado os davidianos como um “culto”, quando de fato não eram, os colocou fora da proteção do Estado para atividades religiosas, criando uma imagem de que eram indivíduos irracionais e que precisavam ser "salvos", facilitando para o público aceitar suas mortes.

Salientando as discriminações religiosas feitas dentro desse tipo de movimento, uma matéria do site de notícias Vox pontuou: “Será que o FBI teria usado tanques blindados e gás lacrimogênio na tentativa de proteger as vítimas de abuso sexual e outros crimes em comunidades evangélicas, cristãs ou católicas?”.

Fonte

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