Artes/cultura
28/08/2014 às 10:46•3 min de leitura
Durante anos, os cientistas estiveram intrigados com as misteriosas "pedras que andam" em uma região remota do Vale da Morte. O Vale fica em uma depressão árida no Deserto de Mojave, na Califórnia (EUA), e se estende por aproximadamente 225 quilômetros próximo à fronteira com o estado de Nevada.
Depois de décadas de teorias e tentativas de resolver o mistério das pedras caminhantes do Vale da Morte, um trio de cientistas finalmente consegui gravar o processo em vídeo.
O estudo começou há alguns anos, quando dois deles (um biólogo e um engenheiro) transportaram alguns equipamentos até Racetrack Playa, um lago seco onde as pedras famosas são encontradas. Mas, nesse primeiro estudo de 2011, nada aconteceu. Depois que outro cientista se uniu a eles e as condições climáticas na região favoreceram entre o final de 2013 e o início de 2014, as coisas começaram a mudar.
As pedras de dolomita preta parecem se mover por conta própria, deslizando através do leito plano da lagoa seca. Os estranhos rastros deixados por elas são a única evidência de que as rochas se movem. Mas nunca ninguém presenciou seus movimentos.
Na falta de evidência direta, várias teorias foram tecidas para explicar o que acontecia, relacionando o fenômeno com o campo magnético da Terra, ventos fortes ou mesmo algas escorregadias. Agora, com o vídeo em time-lapse, produzido com imagens registradas das rochas, o mistério foi finalmente resolvido. Confira abaixo.
Os cientistas revelaram, no estudo divulgado no PLOS One, que placas irregulares de gelo fino, assemelhando-se painéis de vidro quebrado, fazem com que as rochas deslizem em todo o lago inundado (algo que é raro, mas pode acontecer em alguns invernos). De acordo com eles, impulsionadas pelos ventos suaves, as rochas parecem um hidroavião que desliza na superfície de lama gelada.
"É um fenômeno maravilhoso. Lagoas como essas são muito raras no Vale da Morte e pode levar uma década para acontecer eventos de chuva ou neve bastante pesados para criar uma lagoa substancial”, disse o principal autor do estudo Richard Norris, paleobiólogo da Scripps Institution of Oceanography em San Diego.
Muitas teorias já diziam que o movimento das rochas tinha relação com vento, água e gelo em camadas grossas, mas nenhuma havia citado o gelo fino.
"Eu tenho que confessar que fiquei surpreso. Eu realmente esperava que a flutuação fosse uma exigência, mas claramente não era. O gelo era muito mais fino do que eu pensava ser necessário. Foi incrível ver o processo realmente acontecer", disse o coautor Ralph Lorenz, um cientista planetário do Laboratório de Física Aplicada da Johns Hopkins University, em Baltimore.
O lago, que geralmente é seco, ocasionalmente inunda no inverno, com chuva ou neve derretida. Como ele fica a cerca de 1,1 mil metros acima do nível do mar, sendo rodeado por montanhas, as temperaturas noturnas podem cair abaixo de zero. Com isso, os lençóis do lago temporário ganham uma camada de gelo fino ou ele pode congelar ainda mais solidamente em algumas ocasiões.
Uma rara combinação de água e gelo promove o movimento das pedras, disseram os pesquisadores. Para isso acontecer, o gelo da superfície deve ser fino do tipo "vidro", mas forte o suficiente para quebrar em grandes painéis para direcionar as rochas.
Por fim, as noites geladas devem ser seguidas por dias ensolarados, com ventos fracos, que quebram o gelo, gerando o movimento das pedras. Depois que o solo seca novamente na primavera e verão, os rastros continuam por lá.
Com o trabalho de pesquisa, o trio — formado por Ralph Lorenz, Richard Norris e seu irmão, Jim, o engenheiro da turma — conseguiu finalmente achar a resposta do enigma. Uma série de tempestades de inverno criou as condições perfeitas de dezembro 2013 a fevereiro de 2014, quando as imagens foram registradas. Centenas de rochas se arrastaram cinco vezes em 10 semanas.
"Basicamente, as pedras se movem cerca de um minuto em um milhão de minutos. Você tem que estar lá na hora certa e no momento certo. Eu sei que existem pessoas que gostam do mistério e provavelmente ficarão um pouco desapontadas que nós resolvemos isso. Mas é um processo fascinante e eu espero que haja mais a ser descoberto", disse Norris.