Será verdade que nós utilizamos apenas 10% do nosso cérebro?

14/01/2014 às 07:043 min de leitura

Você já deve ter ouvido inúmeras vezes determinado “fato” científico — aquele que diz que nós, seres humanos, utilizamos apenas 10% do nosso cérebro. Além disso, é provável que a informação tenha vindo acompanhada de considerações como “Veja, Albert Einstein utilizava quase a totalidade da sua massa cinzenta!”.

Bem, a despeito das capacidades criativas/cognitivas/matemáticas ímpares do Dr. Einstein, fato é que esse papo de “10%” não é propriamente endossado pela ciência. Entretanto, justiça seja feita, é muito provável que o mito tenha mesmo se originado do próprio método científico, cujos resultados, vez ou outra, são interpretados de forma um tanto... Apressada.

As funções do cérebro

De acordo com a ciência moderna, sim, nós provavelmente utilizamos a totalidade do cocuruto diariamente, a fim de desempenhar as mais variadas atividades. O lobo temporal, por exemplo, controla nossa audição, nossa fala e as funções ligadas à linguagem. Já o cerebelo é responsável por funções normalmente consideradas “automáticas” — tais como a capacidade de manter o equilíbrio.

O lobo pré-frontal, por sua vez, nos permite pesar opções, fazer julgamento e ponderar sobre dias vindouros — parte do popular “pensar na morte da bezerra”, digamos.

Fonte da imagem: Reprodução/Wikimedia Commons

Naturalmente, há muito mais do que 10% de massa cinzenta envolvida em todos esses processos. E isso, vale lembrar, sem considerar ainda os setores do cérebro em constante comunicação — o lobo pré-frontal e o sistema límbico, por exemplo, sendo este uma espécie de “força primitiva” (emocional) e aquele o seu respectivo regulador e direcionador.

Em outras palavras, há uma emissão constante de pulsos elétricos atravessando o nosso cérebro constantemente. Nessa troca, é realmente improvável, dizem os cientistas, considerar que há apenas uma pequena porção de neurônios trabalhando — levando todo o resto no embalo. Mas de onde veio essa ideia, afinal?

De onde surgiu o mito?

A origem do “nós só utilizamos 10% do nosso cérebro” é, senão incerta, bastante concorrida. Conforme elencou o site da revista Scientific American, há pelo menos três possibilidades mais plausíveis para o surgimento do mito.

  • "Aparentemente", nós utilizamos apenas uma porção reduzida do cérebro

O primeiro candidato poderia ser o livro “The Energies of Men”. Lançado em 1908 pelo psicólogo estadunidense William James, a obra menciona que “pode parecer” (atente para os termos) que utilizamos apenas uma pequena porção do nosso cérebro.

Fonte da imagem: Reprodução/Wikimedia Commons

  • Uma cura para a epilepsia

Um tanto mais intrigante, as pesquisas do neurocirurgião Wilder Penfield, do Montreal Neurological Institute da Universidade de McGill, conectaram-se a partes específicas do cérebro a fim de buscar uma cura para a epilepsia. O método consistia em danificar as porções responsáveis pelas crises.

Entretanto, para fazê-lo, o médico precisava saber que outras funções também estariam ligadas às mesmas partes. Como não há receptores de dor no cérebro, o pesquisador pôde estimular diretamente algumas partes específicas do órgão em uma pessoa consciente — encontrando regiões responsáveis pela memória, audição, visão e outras funções igualmente notáveis.

Fonte da imagem: Reprodução/Wikimedia Commons

Ao final, uma das conclusões adicionais da sondagem foi: apenas 10% do nosso cérebro está conectado a “eventos detectáveis”. Em outras palavras, a porcentagem representa apenas aquilo que foi possível apreender durante a experiência de Penfield — e apenas isso —, sem levar em conta uma ampla profusão de funções não detectáveis, como a comunicação entre os dois hemisférios.

  • Neurônios e células gliais

Há ainda mais uma possibilidade para a origem do papo dos 10%. Trata-se do fato de que apenas 10% do cérebro é composto por neurônios — células que carregam informações elétricas e impulsos. Todo o restante é ocupado pelas chamadas “células gliais”, as quais dão suporte aos neurônios, mas, para além disso, a ciência não sabe dizer com certeza quais seriam suas outras possíveis funções.

Fonte da imagem: Reprodução/Wikimedia Commons

Considerando-se ainda que a velha questão de “Onde fica a consciência?” até hoje não recebeu qualquer resposta precisa, a hipótese mais óbvia permanece no trabalho cooperativo de todas as células — com participação efetiva de mais do que 10% de massa encefálica, naturalmente.

Sem telecinese ou previsões, ao que parece

Em suma, é provável que a porcentagem de 10% tenha simplesmente se afixado de forma leviana à cultura popular. Mas os motivos para tanto são, senão propriamente científicos, bastante escancarados.

Afinal, a quem não interessa ter o respaldo científico imediato para justificar os feitos obviamente extraordinários de certas personalidades históricas, por exemplo — voltando ao velho boato envolvendo a porcentagem elevada do cérebro utilizada por Einstein?

Alexander Aksakof busca fraude em suposta médium. Fonte da imagem: Reprodução/Wikimedia Commons

E isso ainda leva a alguns postulados curiosos, incluindo a possibilidade de — quem sabe? — um sujeito em pleno uso de sua massa cinzenta ser capaz de predizer o futuro, fazer com que objetos flutuem ou compreender integralmente as regras do beisebol. Isso para não falar em um “bode expiatório”, sempre disponível para justificar algum feito estúpido. Bem, talvez seja melhor tentar encontrar outro.

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