Artes/cultura
08/05/2019 às 02:30•3 min de leitura
Apesar de polêmicas e de já terem sido proibidas em diversas cidades, as touradas continuam acontecendo na Espanha. Durante uma única corrida de toros, três matadores — ou toureiros — enfrentam seis animais, ou seja, cada homem deve encarar dois touros diante do público.
Quase sempre, o embate acaba com a morte do animal da espada do matador. “Quase sempre” porque às vezes acontece de o touro demonstrar habilidades extraordinárias e ser indultado. Isso significa que sua vida é perdoada e ele pode voltar ao seu rancho de origem e terminar seus dias vivendo em paz e de forma praticamente selvagem. No entanto, você sabe o que acontece com a maioria, com aqueles que morrem na Plaza de Toros? Eles vão para a panela!
As touradas se dividem em três partes ou tercios, mas, antes de essas fases terem início, o touro é solto na arena e corre ao redor para que o toureiro possa avaliar seu comportamento. Então, o matador entra em cena e testa o animal com seu capote (uma capa rosada e amarela).
Toureiro com seu "capote"
O primeiro tercio envolve um cavaleiro (o picador) que entra na arena e fere o touro de forma que suas investidas com a cabeça sejam menos poderosas. Então, no segundo tercio, entram os banderilleros, que tipicamente cravam três pares de pequenas lanças nas costas do animal.
"Banderillero" prestes a entrar em ação
Por último, no terceiro tercio, o matador toureia com sua muleta (que é o nome que recebe aquele tradicional tecido vermelho) e termina com uma estocada de espada entre os ombros do touro que resulta — ou deveria resultar — no coração do animal sendo perfurado e com sua morte imediata.
Matador "toreando" com a "muleta" e a espada
Os toureiros também podem ganhar “troféus” especiais por suas performances, como uma orelha do touro, as duas orelhas ou o rabo — quando sua apresentação é excepcionalmente grandiosa —, e quem decide se o matador merece ou não receber essas honras é o presidente da corrida. É um espetáculo sangrento e extremamente brutal, sem dúvida, cuja origem pode ser traçada até a Idade do Bronze. Mas, voltando aos pobres touros que morrem...
Os animais que morrem nas arenas espanholas são enviados a matadouros, onde suas carcaças são devidamente preparadas para o consumo humano. De acordo com Ashley Taylor, do portal Live Science, no passado, a carne de touro era usada para o preparo de rações para cães e outros bichos, mas ultimamente, devido à forma como esses bois são criados, as peças estão entre o que há de mais orgânico e, portanto, meio que entraram de moda.
Ilustração mostrando um "picador" em ação
Na verdade, os bois que são enviados para as touradas são criados única e exclusivamente para esse fim. Para começar, eles pertencem a raças específicas, e seus pais são escolhidos a dedo pelos donos dos ranchos. Tradicionalmente, as mamães (vacas) dos touros são testadas para que os donos das ganaderías (ou ranchos) possam avaliar seu comportamento e habilidades de luta, e só as melhores são selecionadas para procriar.
Os novilhos são, então, criados completamente livres e sem qualquer tipo de contato com seres humanos — e são enviados para as arenas quando alcançam os quatro ou cinco anos de vida. Depois de morrer e ser processados nos matadouros, a carne desses animais é vendida para os açougues e posteriormente para o público.
Toureiro prestes a cravar sua espada no touro — snif... snif...
Conforme dissemos anteriormente, os touros vão parar na panela — e na panela mesmo! Sua carne não é indicada para os churrascos, já que, por conta da forma como cresceram, correndo livres e ganhando muitos músculos, e pela forma como morreram, sob tremendo estresse nas Plazas de Toros, ela é dura e, sendo assim, é melhor ser usada para ensopados.
O couro também é aproveitado, sendo enviado para os curtumes, e os chifres também podem ser aproveitados, especialmente para o artesanato. Como você deve saber (e até apoiar a causa!), muitos grupos de defesa dos animais se opõem às touradas e, após muitos protestos e ações, elas começaram a ser proibidas em algumas cidades espanholas.
As touradas começaram a ser proibidas na Espanha
Por outro lado, quem defende que a tradição se mantenha alega que, embora os touros de fato sofram durante os (cerca de) 15 minutos que duram as touradas, ao contrário dos demais bois e vacas criados para o abate — e que muitas vezes permanecem confinados e sofrem maus-tratos —, eles puderam viver em total liberdade, se alimentar do que em entendessem e desfrutar de privilégios e prazeres que os demais animais não tiveram. E no fim, todos acabam tendo o mesmo destino: os nossos pratos.
*Publicado em 14/11/2016