Ciência
12/10/2018 às 04:00•4 min de leitura
Felizes as crianças que viveram a infância nos anos 90! Nesta década — sem computador, celular e internet — as brincadeiras de rua, os carrinhos, as bonecas e a televisão eram os programas favoritos da criançada. E de programação voltada para o público infantil, a TV Cultura entendia como nenhuma outra emissora.
Selecionamos algumas curiosidades incríveis sobre um dos programas favoritos da sua infância, o “Castelo Rá-Tim-Bum”, que, de tão espetacular, ainda permanece na grade da emissora paulista, permitindo que novas gerações se deliciem com esse universo mágico que atiça a curiosidade sobre o mundo. Confira:
Antes de se tornar o “Castelo Rá-Tim-Bum” que conhecemos, em 1993, a intenção da direção da TV Cultura era produzir uma segunda leva de episódios do programa “Rá-Tim-Bum”, que havia estreado em 1990. Um dos quadros dessa nova temporada seria chamado “O Castelo de Doutor Victor”.
Acontece que a inventividade dos seus autores levou à criação de um programa totalmente novo. Novos quadros, novos personagens, novos cenários e novos figurinos foram, pouco a pouco, sendo desenvolvidos por uma equipe que contava com cerca de 250 profissionais, que iam desde produtores e contrarregras até professores de língua portuguesa e pedagogos.
É difícil chegar à vida adulta e se deparar com a maquete do castelo sem sentir suas ilusões infantis caírem por terra, como passarinhos vítimas do estilingue de um moleque levado! A arquitetura dele foi inspirada nos traços do espanhol Antoni Gaudí, o mesmo projetista da imponente igreja da Sagrada Família, localizada em Barcelona.
Por se tratar de um mundo fantástico, nenhum objeto usado nos cenários do programa foi comprado. Os incríveis brinquedos que você sempre desejou ter no seu quarto eram adaptados ou inteiramente construídos pela criativa equipe de cenografia do “Castelo”.
Os figurinos eram todos delicadamente feitos em patchwork — trabalho que consistia em reunir peças de tecidos de várias cores e estampas, costurados entre si, formando desenhos geométricos.
Foi no ano de 1993 que o programa começou a ser planejado, e sua estreia aconteceria no ano seguinte, quando as gravações ainda estavam em andamento. A intenção inicial era que fosse produzido um total de 180 episódios, no entanto apenas metade disso foi gravada. Ao todo, foram 6 mil horas de filmagens e outras 3 mil de edição. Apenas 3% das cenas foram feitas fora do estúdio.
Álvaro Petersen Jr., além de manipular o fantoche do assistente do Mau, Godofredo, para surpresa de todos também interpretava a cobra Celeste! Em entrevista a um documentário, Petersen revela que ele foi o único homem entre inúmeras mulheres a fazer o teste para Celeste. O cinegrafista presente na ocasião ficou impressionado com a maneira como a cobra ganhou vida nas mãos e na voz de Peterson.
Quem nunca ficou dando assovios na vã esperança de que a Caipora aparecesse para contar uma história dos indiozinhos Poranga e Porunga? Interpretada pela atriz Patrícia Gaspar, a Caipora do "Castelo" foi concebida como uma mistura de dois personagens do folclore brasileiro: o Caipora e o Curupira.
Antes de ser batido o martelo de que Pascoal da Conceição interpretaria o doutor Abobrinha, o ator foi cogitado para o papel do doutor Victor. Contudo, a boa desenvoltura de Pascoal representando o vilão em uma peça de teatro infantil foi decisiva para que ele fosse escalado como o dono do épico bordão: “Esse castelo será meu, muá, muá!”.
E o feitiço surtiu efeito! Durante anos, acreditamos que o Gato Pintado, o Fura-Bolos e o Relógio se tratavam de personagens diferentes. Aí é que nos enganamos: os três fantoches eram manipulados pela mesma pessoa: o ator Fernando Gomes.
Uma das mais engraçadas personagens da história era a repórter e âncora de telejornal Penélope. A atriz que a interpretou, Ângela Dip, disse que para construir a espevitada jornalista se inspirou nos trejeitos de duas personagens do universo infantil: Penélope Charmosa, corredora do desenho animado de Hanna Barbera “Corrida Maluca”, e Jeannie, personagem principal de “Jeannie é um gênio”, distribuída pela Columbia Pictures.
O Telekid, personagem modernoso de Marcelo Tas, surgiu de uma sugestão do próprio ator. Surpreendentemente, na época das gravações, ele já tinha os seus 35 anos.
Wagner Bello, o intérprete de Etevaldo, personagem extraterrestre do “Castelo”, faleceu pouco antes de gravar sua última aparição no programa. Ele era portador do vírus HIV e havia descoberto isso pouco antes de morrer. Para substituir Wagner em sua última participação no “Castelo”, foi chamada uma amiga do ator, a atriz Siomara Schroder, que deu vida à Etecetera, que na história era irmã de Etevaldo.
Rosi Campos, que interpretava a milenar bruxa Morgana, contou sobre quando o elenco foi até o Museu da Casa Brasileira, em São Paulo, para o lançamento das fitas VHS da atração. Segundo ela, no local, 15 mil pessoas aguardavam a chegada dos personagens do “Castelo”. A falta de segurança obrigou os atores a se retirarem do lugar, afinal tamanha alegria não poderia acabar em tragédia.
Após três meses da sua estreia, o “Castelo Rá-Tim-bum” chegava ao fim. Rosi Campos lembra que algumas crianças chegaram a enviar cartas para a TV Cultura contendo dinheiro para evitar que o programa acabasse.
Graças ao YouTube, em pleno século 21, você pôde assistir a um episódio inédito da atração. Isso porque o Especial de Natal do Castelo foi exibido apenas duas vezes na televisão: em 1994 e 1995. A trama do episódio girava em torno de Daniel, um fã da série que, por causa de uma magia de Nino, foi transportado para dentro do castelo. Lá, o menino acaba se envolvendo em um conflito com bruxas malvadas.
*Publicado em 07/12/2015