Ciência
28/11/2014 às 09:06•6 min de leitura
Praticamente todas as crianças do mundo alguma vez já sonharam em visitar os parques do Disney World. Se alguma vez você já pode realizar esse sonho, sabe que realmente há motivos para o bordão de “o lugar mais feliz do mundo”, com toda a magia e alegria que parece envolver aqueles que entram pelos portões do local.
No entanto, todo espetáculo possui bastidores e quem está acostumado a ver as engrenagens por trás dos efeitos sensacionais sabe que toda magia envolve truques e esforço bem maiores do que a maioria das pessoas poderia imaginar. Para revelar um pouco desse mundo desconhecido do parque de Mickey Mouse, a equipe do Cracked conversou com um de seus vários funcionários comuns, daqueles que não vestem as fantasias dos personagens famosos.
A seguir, você pode conferir alguns dos segredos do parque que somente quem já trabalha lá há algum tempo conhece. Confira os truques usados para fazer você achar o lugar gigantesco, as batalhas contra hordas de crianças e a cidade secreta dos funcionários, entre outras coisas impressionantes.
Quem trabalha no parque acaba eventualmente percebendo que as ruas e prédios foram projetados para iludir quem passar por elas – e que isso foi feito com enorme maestria. Boa parte do trabalho dos idealizadores era fazer com que o parque relativamente pequeno parecesse ser um mundo completo, o que foi realizado por meio de sugestões sutis à sua percepção.
Um bom exemplo pode ser visto nas fotos acima, que mostram a rua principal do local vista sob a perspectiva de quem entra (na imagem à esquerda) e de quem sai (direita). Enquanto as pessoas que chegam ao parque ficam com a impressão de que o castelo está extremamente longe e que há muito a se explorar, as que vão embora sentem que rapidamente estarão na saída.
Embora a rua tenha o mesmo comprimento em ambas as fotos, a diferença parece tão grande graças a um truque arquitetônico chamado de “perspectiva forçada”. Quando você entra no parque, os prédios ao seu redor parecem diminuir em tamanho por estarem distantes um do outro, quando na verdade o fato é que eles são realmente menores – os andares superiores de algumas lojas sequer são altos o bastante para que alguém consiga ficar de pé lá dentro.
Os caminhos para os visitantes também contam com truques similares. Enquanto você leva cerca de 15 minutos para ir de Frontierland para Fantasyland, os funcionários podem se mover por rotas de bastidores que ligam uma área à outra em pouco mais de dez segundos.
Além disso, o parque também conta com organizadores profissionais treinados para mover multidões de um ponto A para outro local B sem que percebam estar sendo orientadas. Os truques utilizados por eles são extremamente simples e surpreendentemente efetivos, envolvendo coisas como montar carrinhos de venda para atrair os visitantes para longe de um espetáculo que foi encerrado e, assim, abrir espaço para o próximo grupo.
Ao final do “Fantasmic!” (um show noturno), por exemplo, carrinhos com brinquedos brilhantes desejados pelas crianças são espaçados com cuidado e atraem as multidões para as saídas do parque. Tudo isso garante que o local será esvaziado sem problemas ao mesmo tempo em que assegura que a Disney ganhe o máximo de dinheiro possível no processo.
Por mais estranho que possa parecer, agressões brutais vindas de criancinhas empolgadas não estão reservadas apenas para as pessoas que estão dentro das enormes fantasias de Mickey e Pateta. Não é incomum que funcionários das lojas de brinquedos acabem no pronto socorro por conta de golpes especialmente fortes em suas partes baixas e outras regiões sensíveis do corpo.
Aqueles que trabalham perto do brinquedo do Indiana Jones, por exemplo, têm que se vestir como aventureiros genéricos para vender brinquedos. Isso significa que todas as crianças exaltadas que saem da atração imitando seu arqueólogo favorito costumam ver os empregados como adversários dignos e os desafiam para duelos – e eles não podem dar um não como resposta.
“Minha batalha mais sangrenta foi quando uma gangue de 30 crianças saqueou o balde de espadas de brinquedo. Esse pequeno exército atacou a mim e ao meu parceiro e nós sacamos nossas espadas para revidar – porque é isso que a Disney requer de nós –, mas havia muitos deles e nós não podíamos chamar a atenção dos pais, então ficamos lá levando pancadas até que eles foram levados embora. Meus braços ficaram cobertos de cortes e hematomas e minha camiseta ficou ensopada de sangue”, disse o funcionário.
Pior que os pequenos diabinhos, no entanto, são os adolescentes durante as noites de formatura. Os funcionários tentam isolar os jovens bêbados dos visitantes sóbrios e podem até transformar áreas inteiras do parque em centros de detenção improvisados, mas, quando bandos de formandos resolvem encher a cara e usar drogas da Festa do Chapeleiro Maluco, as coisas acabam saindo do controle.
“Certa vez, um garoto usando um cobertor com mangas decidiu se libertar de sua prisão aconchegante, foi até uma área relativamente sem funcionários, ficou pelado e começou a correr com suas coisas balançando pelo parque”, conta o entrevistado. Embora forçar criancinhas a ver suas partes íntimas não seja nada legal, muitas vezes as bebidas levam a situações bem mais sérias.
“Recentemente, um cara entrou em uma discussão com sua esposa enquanto estava bêbado e resolveu que a resposta apropriada era ir para a fila mais próxima e começar a socar as pessoas lá”, diz o funcionário. Por sorte, uma gangue Disney estava por lá – sim, há gangues exclusivas do parque – e interveio depois que ele já tinha batido em 15 ou 20 pessoas, segurando o agressor até que os empregados chegassem e o levassem para a Prisão Disney.
A prisão da Disney, aliás, é bem real e funciona em uma sala subterrânea com barras na janela e um loop infinito de “O Rei Leão”. Quando os infratores são menores de idade, seus pais são convocados, mas, quando eles são adultos, sua família é chamada para buscá-los. De forma geral, ir para a cadeia do estabelecimento é sinônimo de ter seu ingresso revogado e ser expulso do parque – às vezes permanentemente.
É possível que você já tenha ouvido falar dos extensos túneis subterrâneos que se espalham sob a Disney para permitir que os funcionários transitem livremente sem ter que passar pelas hordas de turistas. Além disso, porém, o parque também conta com uma cidade completa escondida entre as lojas e prédios que todos os visitantes veem a céu aberto.
Essa estrutura de bastidores contém farmácias completas para funcionários, centros médicos com enfermeiras registradas e preparadas para tratar vendedores atacados por criancinhas, um banco exclusivo para empregados e até mesmo um armazém com produtos da Disney ligeiramente danificados com descontos de 50%. Exceto por fazer as compras do mês e levar seus filhos para a escola, há pouca coisa que não se possa resolver durante o expediente.
Tudo isso está oculto dentro dos prédios que, para os visitantes, parecem ser meramente decorativos. Dessa forma, da próxima vez em que você estiver no parque e ver uma estrutura que parece não servir para nada ou uma loja que aparente ser bem menor do que parecia por fora, saiba que ela pode ser apenas uma fachada para o pronto socorro mais feliz do mundo.
A Disneylândia possui uma gama de animais que forma quase um ecossistema próprio, com uma enorme população de gatos sem dono e outros bichos – e ninguém sabe exatamente de onde os felinos vieram. Uma teoria popular entre os empregados do parque é que um grupo dos bichanos foi levado para lá na década de 1970 para matar uma infestação de ratos, mas, como ninguém se preocupou em retirá-los depois disso, eles acabaram formando famílias.
Além disso, também há uma enorme quantidade de patos e gansos que, assim como os gatos, ninguém sabe como foram parar lá. Por mais que os gatos possam arranhar os visitantes e acabar causando infecções a eles – e muitos problemas à Disney –, o fato é que os gansos são a maior ameaça do local. Extremamente territoriais, eles são capazes de perseguir quem chegar muito perto enquanto dão várias “mordidas” pra lá de dolorosas.
Os visitantes costumam presumir que os animais são domesticados e fazem parte da experiência mágica do parque, deixando que seus filhos pequenos cheguem perto dos bichos sem medo. Cabe aos funcionários manter os gansos e gatos afastados ao mesmo tempo em que permanecem com um sorriso nos rostos, sem deixar que ninguém perceba que as crianças estão em perigo.
Os funcionários do parque passam todos os seus dias trabalhando em grande – e frequentemente quente – proximidade, o que muitas vezes leva envolvimentos bem menos profissionais e sem grande quantidade de roupas. No entanto, relacionamentos entre empregados da Disney costumam ser bem mais comuns e problemáticos do que em outras empresas.
Boa parte dos funcionários são artistas de algum tipo, de forma que foram contratados principalmente porque seus rostos e corpos lembram as proporções dos belos personagens dos desenhos. Sem precisar vestir máscaras ou se submeterem aos trabalhos mais braçais, eles simplesmente se vestem como Aladdin, Ariel ou qualquer outra figura famosa e circulam pelo parque – atraindo atenção de forma similar às crianças mais populares em um colégio.
“Trabalhe na Disney por tempo o suficiente e você vai ver o Aladdin trair a Bela Adormecida com a Branca de Neve, ou o Jack Sparrow namorando com a Bela e a Rapunzel ao mesmo tempo. E isso não é só fofoca, porque os gerentes tem que estar cientes para não acabar marcando uma escala com uma Jasmine e um Aladdin que não podem trabalhar juntos porque brigaram feio”, explica o empregado.
Por mais difícil que seja aturar os abusos dos visitantes e o tratamento preferencial dado aos funcionários que entram no papel dos personagens famosos – que têm direito a espaços de descanso mais luxuosos que os demais –, isso não significa que a Disney não dá atenção aos seus empregados de menor destaque.
Como recompensa por afastar gansos raivosos e receber pancadas em suas áreas íntimas, os funcionários recebem festas e celebrações inesperadas com bastante regularidade, apenas para manter suas moral elevada. O parque também realiza dias de apreciação de suas equipes, trazendo caminhões de comida para servir refeições gratuitas.
Além disso, enquanto a maior parte dos parques temáticos não possui nenhum tipo de plano de aposentadoria, os empregados da Disney têm direito a um plano 401(k), em que sua contribuição ao Imposto de Renda é aplicada diretamente em um plano de investimento. Não é à toa que o parque sofre pouco com a troca de funcionários, ainda que eles tenham que lidar com as consequências do ocasional adultério de um ladrão-príncipe das arábias.