Estilo de vida
27/12/2018 às 13:31•5 min de leitura
Não há dúvidas de que os seres humanos são capazes de realizar obras maravilhosas tanto por sua beleza e proporções astronômicas quanto por sua criatividade e engenhosidade. No entanto, por mais esmero e talento que estejam envolvidos na criação dos mais diversos trabalhos, é inevitável que a grande maioria deles esconda seus próprios defeitos sob suas formas icônicas e familiares – especialmente quando falamos de estruturas arquitetônicas.
Muitas vezes, essas pequenas falhas são apenas cosméticas ou não afetam em nada o propósito da obra como um todo, de forma que podem ser facilmente perdoadas ou desconsideradas. Ainda assim, mesmo as construções mais famosas e imponentes do mundo não estão imunes de erros mais sérios, que podem prejudicar suas funções ou até ameaçar a saúde e a vida dos seus frequentadores. Confira alguns desses casos na lista a seguir:
O icônico exterior da Casa de Ópera de Sydney se tornou um símbolo tão forte quanto os cangurus quando alguém pensa na Austrália. O design feito pelo arquiteto Jorn Utzon em 1957, que rendeu a ele o prêmio em uma competição internacional, era revolucionário. O prédio havia sido originalmente planejado para conter um grande salão de ópera e um teatro menor para concertos e peças.
No entanto, após nove anos de construção, discussões constantes com o governo conservador da região a respeito dos custos da obra forçaram Utzon a se afastar do projeto. Os arquitetos locais contratados para concluir o trabalho então resolveram mudar as funções do salão e do teatro, resultando em um auditório que é pequeno demais para óperas e um salão musical que é grande demais para evitar a dissipação musical.
Embora a escolha fizesse sentido para a época, quando a música atraia mais gente que as peças, hoje a situação causa dificuldades para o público pela falta de espaço e para os músicos pela dificuldade de coordenação das performances. Uma pesquisa envolvendo artistas, críticos e os espectadores classificou o Teatro de Ópera como tendo a pior acústica entre os 20 maiores espaços do tipo no mundo. O salão de concertos ficou na 18ª posição.
O monumento supremo ao amor imortal, o Taj Mahal é uma estrutura maravilhosa construída sob as ordens do imperador Shah Jahan como uma tumba para sua querida esposa Mumtaz. Do layout de inspiração persa dos jardins até os minaretes equidistantes que ladeiam o prédio principal, o lugar é uma obra prima da simetria arquitetônica. No entanto, basta caminhar para o seu interior para notar algo estranho.
Embora a tumba de Mumtaz esteja perfeitamente alinhada com a entrada principal e fique exatamente no centro da câmara, o repouso final do próprio Shah Jahan fica assimetricamente à sua direita – além de ser desnecessariamente mais largo e alto. A aparência passa a sensação de que ela foi acrescentada como um adendo, o que não deixa de ser verdade.
Dotado de grande insensibilidade estética, o filho do imperador, Aurangzeb, era um islâmico tão devoto que não permitia luxos excessivos após a morte porque a prática era condenada no Alcorão. Dessa forma, ao invés de construir um novo mausoléu para seu pai, ele simplesmente espremeu sua tumba ao lado da que continha sua mãe – e arruinou a simetria para sempre.
Se alguém já teve a curiosidade de saber como cheirava o Pântano do Fedor Eterno do clássico filme “Labirinto – A Magia do Tempo”, então bastaria visitar o Palácio de Versalhes durante sua primeira centena de anos. Feito para dar ao monarca francês Luís XIV um lar digno de seu status como Rei Sol, poucos imaginariam que a majestosa construção com 700 quartos, 67 escadarias, vastos tetos pintados e corredores de mármore algum dia cheirou mal.
Como o palácio foi originalmente construído sem qualquer banheiro, seus frequentadores tinham que usar a criatividade para lidar com suas necessidades. Os membros da família real e da corte faziam o serviço em uma espécie de penico, cujo conteúdo era então simplesmente jogado janela afora para os jardins – o que certa vez fez com que duas princesas que passeavam por lá com a rainha Maria Antonieta acabassem... lambuzadas.
Já os plebeus aliviavam-se nos corredores e escadarias, fazendo com que o odor insuportável ficasse grudado nas roupas, peças íntimas e até mesmo perucas. Os serviçais não consideravam remoção dos dejetos como parte de suas funções, o que só mudou com uma lei de 1715 que determinava a eliminação das fezes dos corredores uma vez por semana. Foi somente em 1768 que alguém teve a brilhante ideia de fazer banheiros no palácio.
Localizado no meio da densamente populada ilha de Manhattan, em Nova York, o Citicorp Center era o sétimo maior arranha-céu na época em que foi construído, em 1977. O prédio é instantaneamente reconhecido pelos amantes da arquitetura por conta de seu topo com angulação de 45º e sua base com palafitas (estruturas que lembram as pernas de pau usadas por artistas circenses) de nove andares de altura.
Essa estrutura incomum foi feita como uma forma de se adaptar à presença da igreja luterana de St. Peter, que ocupava um canto do terreno e se recusou a mudar para outro lugar. Para poder apoiar o prédio sobre a outra construção sem tocar nela, o engenheiro William LeMessurier teve a ideia de usar as palafitas, solução de aparência estranha mas que parecia segura – até que seu ponto fraco foi descoberto quase por acaso.
Certo dia, a estudante de engenharia Diane Hartley ligou para a companhia de LeMessurier para fazer perguntas sobre a segurança do design, temendo que a falta de suporte no canto do prédio o deixasse vulnerável a rajadas de vento que batesse ali. O engenheiro garantiu a ela que a estrutura resistiria, mas começou a ter dúvidas após o término da conversa.
Durante a construção, LeMessurier havia usado parafusos no lugar de soldas para firmar muitas das juntas do prédio, o que normalmente não seria um problema em um edifício normal – mas esse não era o caso do Citicorp Center. Refazendo os cálculos, ele então notou que vendavais de 112 km/h ou superiores poderiam sobrecarregar os parafusos e derrubar o arranha-céu, causando incontáveis mortes.
Com a aproximação da temporada de furações, não havia tempo a perder. Equipes de reparos de emergência foram contratadas para atacar a construção durante a noite com o máximo de segredo possível, soldando todas as juntas. Por sorte, os jornais estavam em greve na época e o furacão Ella, que estava avançando para lá, se desviou, dando tempo para a conclusão da reforma em setembro de 1978. A crise ficou em segredo até meados de 1995.
A ponte Golden Gate surpreendeu muitos norte-americanos ao combinar a leveza e a resistência necessárias para ser suportada por cabos e resistir a ventos e terremotos sobre uma distância tão longa quanto a Baía de São Francisco. Embora ela de fato continue aguentando firme e forte até hoje, muitas vezes isso aconteceu por muito pouco.
Em 1951, a ponte quase foi destruída quando rajadas de vento de quase 112 km/h a fizeram se retorcer. A estrutura aguentou por pouco, mas a ocasião revelou que as treliças protetoras precisavam de suportes laterais para que permanecessem estáveis. No entanto, a Golden Gate possuía falhas de design ainda mais graves.
A estrutura original permitia que água ficasse acumulada nos pontos onde os cabos verticais encontravam a ponte em si, problema que era aumentado pela famosa névoa úmida da Baía de São Francisco, uma inimiga natural dos metais. Uma inspeção de rotina na década de 1970 revelou tanta corrosão que os cabos de suspensão poderiam ser partidos com apenas uma faca. A questão era tão séria que os engenheiros tiveram que substituir todos os 500 cabos.
Ainda que as falhas estruturais tenham sido notadas antes que custassem vidas, o mesmo não pode ser dito de um aspecto mais básico. O design original da ponte especificava a implantação de grades elevadas para impedir suicídios, mas os construtores decidiram diminui-las na última hora para melhorar a vista. Como resultado, a Golden Gate se tornou um grande imã para pessoas que querem se matar – e até mesmo para assassinos.
Desde 1937, as autoridades da cidade já recuperaram mais de 1.600 corpos da baía sob a ponte – de forma que se pode presumir que muitos mais simplesmente passaram despercebidos. Em 2008, no entanto, uma rede de aço inoxidável foi estendida na área abaixo das passarelas como uma barreira.