Ciência
11/02/2019 às 10:00•3 min de leitura
Há quase três anos eu comprei um computador novo. Quando transferi todos os arquivos do computador antigo para o novato, criei uma pastinha no desktop chamada “COMPUTADOR VELHO PFVR ARRUME”, assim mesmo, com tudo em caixa alta, para que eu organizasse meus documentos decentemente e sem demora. A pasta continua lá.
Tudo bem que eu passo semanas sem ligar meu computador em casa, mas não posso dizer que não tive tempo de organizar os documentos. Admito aqui que isso acontece por um simples motivo: eu sou uma procrastinadora, arrumo desculpas para não precisar fazer algumas coisas e, no fundo, isso me incomoda.
Uma publicação recente do The Wall Street Journal me deixou quase disposta a chegar em casa hoje e resolver esse problema. Ou a ligar para o consultório médico de uma vez e marcar aquela consulta que já está com uns dois meses de atraso. Por mais que eu saiba que sou procrastinadora, não significa que eu goste de procrastinar. Na verdade, eu odeio.
A publicação em questão me fez perceber o óbvio: essa coisa de deixar algumas tarefas para depois deve ter alguma explicação psicológica e, uma vez que exista a explicação, fica mais fácil descobrirmos como resolver o problema. Três experts no assunto, Timothy Pychyl, Piers Steel e Alexander Rozental, reuniram cinco passos fundamentais para quem quer deixar de empurrar as coisas com a barriga. Se você é do tipo que também quer resolver alguma coisa de vez, confira as dicas abaixo:
Tudo bem, você tem um grande plano e ele não dá certo. O ideal a fazer aqui é desmembrar esse objetivo em pequenas metas específicas e detalhadas. Em vez de dizer que amanhã você vai fazer determinada atividade, especifique como será, onde será, quanto tempo vai levar e em que horário acontecerá.
Em vez de listar tudo o que precisa ser feito e esperar ter uma relação completa de tarefas antes de começar a fazer alguma coisa, simplesmente faça o que vier primeiro à sua mente na medida em que vai se lembrando de cada coisa.
Olhar situações por outras perspectivas é sempre um bom exercício. No que diz respeito à procrastinação, tente reclamar menos do que precisa ser feito e se apegar ao fato de que, no futuro, você vai agradecer a si mesmo pela iniciativa que tomou agora.
Se você é do tipo que, enquanto está fazendo uma pesquisa importante na internet, aproveita para deixar uma aba com aquele seu site favorito de jogos, mesmo sabendo que jogar, naquele momento, só vai atrapalhar todo o seu processo, experimente não deixar suas senhas salvas no site do jogo – acredite ou não, mas o “trabalho” de ter que digitar nome de usuário e senha pode fazer você desistir de jogar e, consequentemente, priorizar o que é mais importante.
Da mesma forma que o cachorrinho aprende a fazer xixi no jornal depois de ganhar petisco sempre que acerta o alvo, você pode estipular uma recompensa para quando conseguir fazer algo que vinha adiando há muito tempo. Lógico que não estamos dizendo que pessoas são iguais a cachorros, mas a questão do “prêmio” funciona de maneira parecida em ambos os casos. Não custa tentar.
Ainda que todos sejam procrastinadores, em maiores ou menores níveis, é preciso entender que há questões emocionais por trás desse eterno adiamento das coisas, especialmente em procrastinadores crônicos. Quando a coisa vai além de uma pasta de computador ou de uma consulta médica, por exemplo, relações interpessoais, amorosas e profissionais podem ser prejudicadas.
Uma das pessoas que estudam esse aspecto crônico e mais perigoso da procrastinação é a psicóloga inglesa Dra. Fuschia Sirois. Ainda não se sabe muito a respeito dos efeitos físicos sentidos por quem procrastina demais, mas já se sabe que os cardíacos e hipertensos são menos propensos a procurar maneiras de entender por que deixam tudo para depois, afinal, isso às vezes significa reavaliar informações pessoais delicadas. Em vez de buscar resolver os problemas, essas pessoas tendem a dar desculpas.
Para os pesquisadores do assunto, o grande problema dos procrastinadores é que, diferente das demais pessoas, eles nem sempre conseguem enxergar aquilo que precisam fazer agora como algo que vai trazer benefícios no futuro e, de fato, se não vemos como algo poderá ser útil um dia, podemos perder o interesse nesse assunto.
Vale sempre lembrar que já é comprovado que procrastinadores são pessoas mais ansiosas, mais depressivas e que reportam sensações de mal-estar com mais frequência. Se você acha que o seu caso é mais grave e não pode ser resolvido com as dicas acima, a recomendação é a de procurar ajuda psicológica. Autoconhecimento não faz mal a ninguém nem é qualquer demérito, hein!
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P.S: Terminei este texto e, antes mesmo de revisá-lo, marquei a consulta médica que estava adiando. Penso seriamente em encarar a pasta do computador quando voltar para casa.