Ciência
11/11/2015 às 07:06•4 min de leitura
Apaixonar-se por alguém é algo bizarro, já reparou? De uma hora para a outra uma pessoa passa a chamar a sua atenção, você começa a reparar nela de uma forma diferente e comemora secretamente aquilo que descobre ter em comum com ela. De repente, o interesse fica escancarado na forma como você olha para o seu novo afeto, o coração acelera, as borboletas fazem festa no estômago e, se você tiver sorte, talvez tudo isso seja recíproco.
Uma vez que a reciprocidade exista, os envolvidos precisam decidir o que farão. Pode ser algo casual, pode acabar em alguma coisa mais duradoura, pode virar uma grande amizade, assim como pode, inclusive, acabar em casamento.
Casados, os pombinhos dividem uma vida inteira: as alegrias, as tristezas, os problemas do trabalho, as tarefas domésticas, a conta do supermercado, o espaço na cama, o controle remoto e a conta do Netflix. Mas será que essa felicidade vai durar para sempre, como o que foi prometido no altar? Será que os dois continuarão se sentindo atraídos um pelo outro mesmo daqui a 20, 30, 40 anos? E se outra pessoa aparecer? Por que temos tanto medo de que a relação não dure para sempre? Aliás, será que ela tem que durar? Será que fomos feitos nos moldes da monogamia ou esse é um conceito socialmente arquitetado? Seres humanos conseguem ser monogâmicos?
Você não precisa ser um antropólogo para tentar observar as mudanças de comportamentos sociais ao longo da História. É fácil compreender, por exemplo, que o sexo feito por pessoas da Idade das Pedras era bem diferente do feito atualmente. Do homem primitivo ao moderno, infinitas convenções sociais, religiosas e culturais foram implantadas com o passar do tempo, por isso podemos dizer que tudo está em constante mudança, inclusive nossos conceitos sobre relacionamentos amorosos e sexuais.
Para esclarecer alguns aspectos nesse sentido, a galera do site Hopes and Fears selecionou depoimentos de alguns especialistas no assunto, e o que eles têm a dizer pode ser muito interessante para você.
Para o escritor Christopher Ryan, a espécie humana claramente não evoluiu para se tornar monogâmica. Ele fundamenta sua afirmação na premissa de que mamíferos em geral não têm a tendência de praticarem sexo sem a intenção de reproduzir. A exceção à regra? Humanos, é claro.
Ryan explica que seres humanos fazem sexo a todo o momento, mesmo quando a mulher não está ovulando e, inclusive, quando a mulher não está presente no ato sexual. “Isso não é típico dos mamíferos. Nossos corpos, nossas fantasias e o fato de termos tantas normas rígidas sobre o comportamento sexual indicam a profundidade da nossa paixão pela novidade”.
Falando em novidade, o autor nos lembra que novidade é um indicativo de inteligência quando relacionada à música, viagem, alimentação, arte e tantos outros aspectos. Por quê, então, questiona ele, não deveríamos ser atraídos pelas novidades no que diz respeito às relações sexuais? “Algumas culturas exigem a monogamia sexual, mas precisam recorrer a castigos horríveis para reforçar essas leis brutais e anti-humanas – um claro indicativo do quão forte é o nosso apetite sexual”, defende.
A escritora e professora de História e Estudos Familiares Stephanie Coontz diz não acreditar que seres humanos devem ser monogâmicos ou poligâmicos. “Nós temos impulsos nas direções de ambos, e como lidamos com esses impulsos depende de nossas configurações sociais, tradições culturais, valores pessoais e técnicas individuais de resolução de problemas”, explica ela.
Coontz fala que, em algumas sociedades, homens mais ricos e mais poderosos têm várias esposas, enquanto, em outras, mulheres podem se casar com mais de um homem. Em algumas, o relacionamento extraconjugal é visto sem muita importância, mesmo com o casamento sendo um acordo entre duas pessoas.
Além de tudo, há costumes ainda mais variados quando o assunto envolve sexo, casamento e relações amorosas. Na cultura dos Bari, na Venezuela, se um homem faz sexo com uma mulher grávida, ainda que não seja o pai biológico do bebê, ele passa a ser responsável pela criação dele, como se fosse um “segundo pai”, e é obrigado a cumprir contratos sociais com a criança por toda a vida. Ainda que a medida seja drástica e estranha, por lá as crianças filhas de mães que dormiram com mais de um homem durante a gestação têm uma vida bem mais cheia de mimos. Curioso, não?
Em algumas sociedades, a monogamia é imposta apenas às mulheres, enquanto homens podem ter amantes e outras esposas. Coontz também analisa a monogamia imposta como falha ao comentar a epidemia de doenças venéreas no final do século XIX, quando os homens europeus e americanos tinham relações frequentes com prostitutas e acabavam transmitindo doenças a suas esposas.
Analisando a questão pelo ponto de vista cronológico, Coontz acredita que o modelo moderno de relacionamentos amorosos, pelo menos na cultura norte-americana, que é parecida com a nossa nesse sentido, é mais evoluído, afinal as pessoas têm liberdade para questionar seus relacionamentos e, inclusive, propor modelos diferentes, como é o caso do poliamor.
Já Elisabeth Sheff, Ph.D. e consultora educacional em assuntos ligados a sexo e gênero, afirma que a monogamia não é natural simplesmente por não ser algo fácil para ninguém. Ela diz que coisas naturais, como a respiração e o piscar de olhos, não precisam de tantas restrições sociais para que continuem existindo.
“O fato de as culturas ao redor do mundo e ao longo da História terem criado centenas de milhares de protocolos e punições para patrulhar e reforçar a exclusividade sexual (especialmente para as mulheres) indica que isso [a monogamia] é socialmente construído e não alguma coisa que os humanos farão ‘naturalmente’ sem intervenções externas”, resume.
Sheff explica que, se nós, humanos, não tivéssemos essa necessidade de ter experiências sexuais com novos companheiros, as sociedades não teriam que trabalhar tanto para que as pessoas fizessem sexo com apenas o seu parceiro fixo.
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